Crítica: Sinfonia da Necrópole (2016) - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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Crítica: Sinfonia da Necrópole (2016)

Sinfonia da Necrópole tem musical, comédia e drama… algo que não vemos todo dia no cinema nacional

Ficha técnica:
Direção e roteiro: Juliana Rojas
Elenco: Eduardo Gomes, Luciana Paes,  Paulo Jordão, Hugo Villavicenzio,  Luís Mármora
Nacionalidade e lançamento: 14 de abril de 2016

Sinopse: Deodato é um aprendiz de coveiro. Mas ele não é muito afeito às coisas relativas ao cemitério. A Necrópole que ele trabalha passará por uma reforma em uma tentativa de modernização. Quando Jaqueline, uma funcionária do serviço funerário, aparece a relação dele com a profissão melhora.

Sinfonia da Necrópole

Muita gente reclama da falta de originalidade em longas brasileiros. Muitas vezes a ideia que o cinema comercial passa é de comédias com atores globais ou filmes que retratem uma pobreza no sertão/violência nas cidades. Falamos sobre isso no Indic(ação) #18

Como vocês lerão, Sinfonia da Necrópole não me agradou. Todavia, esse comentário – quase um elogio – precisa ser feito. A obra tem uma temática bem inusitada e em uma forma pouco usual. Ter o cenário principal um cemitério – não tendo como foco o terror –  e discutir temas sérios da urbanização em um tom de galhofa sem dúvidas é uma premissa curiosa.

A questão é que temos que separar uma boa ideia de uma boa execução. Neste ponto, infelizmente, Sinfonia da Necrópole tem falhas assustadoras. Principalmente no roteiro, edição, atuação e tudo respingando (ou causados pela) na direção.

Sinfonia da Necrópole

Seguimos os passos de Deodato. Ele é um funcionário novato de um cemitério em São Paulo. A primeira imagem que temos é dele sendo resgatado de dentro de uma cova. O rapaz tem desmaios frequentes por não conseguir se acostumar com as tarefas a qual é designado. Só foi contratado por ser sobrinho de um grande coveiro

Devido à urbanização há uma necessidade de modernização e reorganização. Isso implica em uma catalogação das lápides. Nessa hora entra Jaqueline, uma funcionária do serviço funerário. Junto com Deodato ela fará um estudo sobre o atual estado das coisas no local.

A ideia da administração é verticalizar o cemitério para otimizar o espaço. A enérgica Jaqueline apoia esse pensamento. Já Deodato não se sente muito tentado a mexer em covas, mesmo que elas estejam aparentemente abandonadas. Ele acredita que os familiares possam voltar par visitar os túmulos.

A história em si não é ruim. Contudo as coisas acontecem de forma atropelada e personagens são introduzidos sem mais nem menos e sem uma função clara. Os tipos ali presentes (como um padre comilão) são rasos e mal trabalhados.

Raramente vejo uma edição tão ruim. Tem muita cena inútil e cortes bruscos – a última cena do filme é a prova final disso. Há coisas colocadas na trama com aprofundamento zero. Um melhor trabalho de edição coordenado por uma direção competente poderia amenizar esses pontos.

sinfonia-da-necropole

As atuações, principalmente da Luciana Paes, que faz a Jaqueline, são bem fracas. Toda vez que ela tenta dar um peso dramático à fala dela o resultado soa forçado. O administrador do cemitério é outro que também não funciona. Os demais têm arcos tão simplórios que fica difícil apontar algo na atuação.

Já Eduardo Gomes é a nota mais positiva em Sinfonia da Necrópole. O ator tenta (e incrivelmente consegue) entregar um trabalho interpretativo digno. Ele vai desde um desnorteamento até uma firmeza, com segurança. O humor e o medo, que exalam de Deodato, também tem bons resultados. O personagem em si tem um arco interessante o que foi potencializado pela atuação de Gomes.

A parte musical fica muito espaçada. Os números não são brilhantes, mas tem qualidades. As críticas que as letras propõem dão um retrato dos problemas de uma grande cidade. A coreografia, principalmente em um dos números finais, é elaborada. Há, no entanto, em várias apresentações, uma assincronia da coisa cantada com o movimento labial dos atores, isso incomoda bastante.

O humor honesto vai bem. Já o drama nem tanto. O terror/horror, pouco inserido, até traz bons préstimos. O romance é jogado – e tirado – de uma forma que coaduna com a edição, ou seja, horrível. Em suma: a falta de foco em se assumir como musical e/ou comédia (ou qualquer outro gênero) e a ausência de apuro técnico satisfatório tornam a experiência um tanto desagradável.

O longa que estreou em 2014 em alguns festivais entrou em cartaz este ano no cinema comercial. Caso tenha acesso ao longa por esta ou outra via, pode ser que valha pela curiosidade.

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