Crítica (3): Amores Materialistas
Amores Materialistas
Direção: Celine Song
Roteiro: Celine Song
Nacionalidade e Lançamento: Estados Unidos, 2025
Elenco: Pedro Pascal, Chris Evans, Dakota Johnson, Zoe Winters, Marin Ireland, Dasha Nekrasova, Emmy Wheeler, John Magaro.
Sinopse: Os negócios de uma casamenteira de Nova York se complicam quando ela se envolve em um triângulo amoroso com seu ex-namorado ator, que ganha a vida como garçom, e um novo pretendente ricaço.
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Quem viu “Vidas Passadas” de Celine Song em 2023 e se emocionou, certamente não esperava que o seu próximo trabalho fosse algo como “Amores Materialistas”. O filme de romance dramático com vibes indie que encantou cinéfilos e até cineastas renomados ao redor do mundo (como Martin Scorsese), parecia bem diferente do que filme que a mídia vinha vendendo como seu próximo trabalho, uma comédia romântica de enorme orçamento em que três das maiores estrelas do momento em Hollywood, Chris Evans, Dakota Johnson e Pedro Pascal, formam um triângulo amoroso.
Após o sucesso absurdo de bilheteria de “Todos Menos Você” com Sydney Sweeney e Glen Powell, acendeu-se um debate em rede social sobre um possível retorno das comédias românticas (eu mesma comentei sobre isso por aqui na época). Se você entende que estamos enfrentando uma baixa do gênero nos cinemas — nos streamings, vale pontuar, parecem sobreviver bem — provavelmente entende porque era tão importante talvez para Sony, mais que para Celine Song, que Amores Materialistas fosse vendido como uma romcom.
Acontece que o filme tem muito do rom, mas pouco do com. Nesse aspecto, o longa preserva certa similaridade com Vidas Passadas: é mais uma reflexão sobre a natureza do amor e da nossa relação com o sentimento, que uma celebração dele. Celine realiza o exercício de abordar o amor dentro do contexto de uma sociedade capitalista, individualista e, claro, materialista. A ela parece não importar o amor perfeito dos contos de fadas, dos felizes para sempre, tampouco aquele dos tempos dourados das romcoms entre os anos 1990 e 2000, Song quer chegar no âmago da questão, quer ter as conversas e decisões difíceis que demoramos para fazer — e que às vezes fazemos errado, é a vida.
Essa premissa me agrada bastante, até. O amor de fato se tornou mais exigente, as pessoas estão mais criteriosas, algumas mais intolerantes, e as nossas escolhas são cada vez mais guiadas por impulsos e questões materiais. Afinal, no mundo em que vivemos, como pensar apenas no amor quando precisamos manter um teto sobre nossas cabeças e comida na mesa? E também, quem tem tempo para o amor? São poucos aqueles que ainda podem se dar o luxo de pensar sobre o sentimento, que dirá senti-lo.

Lucy (Dakota Johnson) é uma das que não tem tempo para isso. Jovem, solteira e bem-sucedida casamenteira na empresa Adore, ela pensa em amor só se for para os seus clientes. Até que uma festa muda os rumos da sua vida e ela logo se vê no meio de um triângulo amoroso entre o amor e o dinheiro. De um lado, um homem milionário que pode dar a ela a vida mais confortável possível e, do outro, o amor da sua vida, mas um cara totalmente quebrado.
Definitivamente uma escolha difícil e dolorosa, levando em conta todas as variáveis, o primeiro problema é que o filme não nos faz sentir como se fosse. Os personagens parecem uma folha em branco, pronta para ser escrita e aprofundada, mas o filme ignora a possibilidade. Eles são completamente estéreis. Há de existir algum equívoco no casting ou no tom dos personagens quando Chris Evans parece ser o mais adequado ao seu papel. Me impressionou a forma como a personagem da Dakota parece não acreditar tanto quanto nós na atuação de Pedro Pascal, tampouco estabelecer uma química real com ambos.
Para piorar, ela também não consegue sustentar de forma alguma a trama paralela que o filme cria, que é completamente desastrosa. A temática do assédio envolvendo uma cliente de Lucy é muito apressada, mal introduzida e se resolve de forma igualmente ruim ou pior. Como uma mulher que é destaque na agência nunca soube que os riscos da sua profissão envolviam colocar mulheres em perigo por meio de encontros às cegas? A cena inicial e tudo que se segue vende a personagem como uma mulher calculista e matemática, mas os perigos do mundo real nunca fizeram parte de suas previsões?
Na urgência de abordar o contemporâneo e a realidade nua e crua para se fazer um filme importante, Amores Materialistas não sabe se deseja se comprometer à seriedade de um drama romântico e suas implicações morais ou se ater às convenções de gênero das comédias românticas mais ingênuas e proporcionar nada além de um bom momento e uma pitada de nostalgia. O resultado é cheio de escorregões no meio do caminho entre os dois sem qualquer momento suficientemente memorável para carregar consigo depois dos créditos.

Sou uma grande fã de comédias românticas, considero ser um dos meus gêneros cinematográficos favoritos, mas comédias românticas são esperançosas e trazem clichês por dependerem deles para se tornarem identificáveis, eternas e impactantes. Dito isso, Amores Materialistas não é uma comédia romântica — nem como conhecemos do screwball, em Aconteceu Naquela Noite (1955), nem do momento de glória das rom coms nos anos 90 e 2000 com os cabelos esvoaçantes de Julia Roberts. Ser ou não ser, não é um demérito do filme, o único problema é que no final esse debate não importa pois Amores Materialistas está mais para um filme frágil em tudo que propõe – e isso é só.
Nota: 2,5 /5