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Crítica: Presença (2024)

Presença
Direção:
Steven Soderbergh
Roteiro: David Koepp
Nacionalidade e Lançamento: Estados Unidos, 2025.
Elenco: Lucy Liu, Chris Sullivan, Callina Liang, Eddy Maday, West Mulholland, Julia Fox, Natalie Woolams-Torres, Lucas Papaelias
Sinopse: Uma família se convence de que não está sozinha depois de se mudar para uma nova casa nos subúrbios.

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Depois de estrear no Festival de Sundance em janeiro de 2024 e passar por outros festivais pelo mundo, Presença, novo filme de Steven Soderbergh, estreia nos cinemas brasileiros – com bastante atraso em relação a outros países que já receberam o filme em circuito comercial, mas esse é assunto pra outro momento. O que quero destacar por enquanto é o trabalho do prolífico diretor do longa.

Soderbergh é um diretor que transita muito bem entre diferentes gêneros cinematográficos. Seus dois trabalhos anteriores com o roteirista David Koepp são os mais convencionais Kimi, de 2022, e Código Preto, ainda em cartaz em alguns cinemas brasileiros. Em Presença, porém, ele imprime outra de suas marcas: a experimentação. Isso porque o filme é todo gravado em primeira pessoa, na perspectiva de um fantasma observador que, através de lentes grande-angulares, acompanha o dia-a-dia de uma família que acabou de se mudar para a casa de onde ele não pode sair.

Dessa forma conhecemos a família Payne, composta pela mãe dominante, Rebekah (Lucy Liu), e pelo pai amoroso, Chris (Chris Sullivan), além dos filhos adolescentes, Tyler (Eddy Maday), um atleta bem-sucedido que tem atitudes, no mínimo, duvidosas com relação a mulheres, e Chloe (Callina Lang), que acaba de perder sua melhor amiga, Nadia, para uma overdose e – talvez por isso mesmo – por quem a Presença mais parece de afeiçoar. É Chloe quem primeiro percebe que a família tem companhia, e é inevitável que ela passe a acreditar que se trata do fantasma de sua amiga.

O subgênero da casa mal assombrada no cinema de terror não é nada novo, e Presença não escapa de muitos dos clichês que já esperamos encontrar, como a médium chamada pra ajudar, mas que no fim das contas nem resolve muita coisa. O diferencial aqui é justamente a câmera em primeira pessoa, e o público colocado no mesmo lugar ocupado pela Presença, que, por sua vez, só vai ver (e nos mostrar) o que ela quiser ver. Seu foco é Chloe, então pouco nos aprofundamos em questões que envolvem os “fantasmas” da família – assuntos não resolvidos, segredos, conflitos -, porque não é isso que interessa ao fantasma, por mais que sirva para desenvolver esses personagens – e deixe, sim, aquela vontade de saber mais, de olhar mais de perto.

Apresentando cada cena como um plano-sequência, com bem menos cortes do que filmes tradicionalmente têm, vamos acompanhando o desenvolvimento da Presença junto dos Payne. Começando como mera observadora, sua atuação vai crescendo ao longo do filme e ela vai ganhando personalidade. Não precisamos ver seu rosto para perceber o que ela está sentindo a cada cena, enquanto seus sentimentos por Chloe se misturam entre o apego egoísta e o senso de proteção. Essas sutilezas se perdem em alguns momentos da projeção, com repetições de ações de personagens ou falas desnecessariamente expositivas para garantir que o público vai entender o que está se passando, mas não é nada que estrague a experiência.

Por outro lado, o que pode, sim, atrapalhar a sessão antes mesmo de ela começar é a expectativa causada por um marketing errôneo. Presença vem sendo vendido como “um dos filmes mais assustadores do ano”, até mesmo com notícias de espectadores que deixaram as salas de cinema por não suportarem algo “tão intenso”, mas ele não é nada disso. Ao invés de um terrorzão, Presença é mais um drama familiar com (muitos) elementos de terror, uma história intimista que às vezes lembra até uma peça de teatro por conta da locação única e dos poucos personagens. Por mais que não seja o melhor dos trabalhos de Soderbergh, vale a pena conferi-lo nos cinemas e prestigiar um diretor tão experiente ainda se aventurando em universos mais experimentais.

Nota: 3,5 /5

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