Crítica: Assassinos da Lua das Flores - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
5 Claquetes

Crítica: Assassinos da Lua das Flores

Assassinos da Lua das Flores
Direção: Martin Scorsese
Roteiro: Eric Roth, Martin Scorsese, David Grann
Elenco: Leonardo DiCaprio, Robert De Niro, Lily Gladstone, Jesse Plemons, Tantoo Cardinal, John Lithgow, Brendan Fraser, Cara Jade Myers.
Sinopse: O ano é 1920, na região norte-americana de Oklahoma. Misteriosos assassinatos acontecem nas terras indígenas de Osage, ricas em petróleo. O caso foi investigado pelo FBI, agência recém-criada. Os assassinatos dados a partir de circunstâncias misteriosas na década de 1920, assolando os membros do povo Osage, acabam desencadeando grande investigação envolvendo o poderoso J. Edgar Hoover, diretor do FBI.

.

Killers of the Flower Moon

Durante boa parte da sua carreira Martin Scorsese colocou no centro dos seus filmes homens brancos e com sede de poder. Com Assassinos da Lua das Flores ele também os coloca como protagonistas, mas seu olhar para com esses homens é diferente de tudo o que havia feito até então. 

O filme é um épico e bebe dos grandes clássicos do gênero do faroeste, mas diferente da grande parte das obras do estilo, os vilões não são os povos originários. Pelo contrário, eles são as vítimas. E o longa faz muita questão de deixar isso claro e mostrar que os Estados Unidos foi construído a partir de uma supremacia branca que até hoje violenta indígenas e negros. 

Aqui acompanhamos o povo Osage, que na época fazia parte da população mais rica dos Estados Unidos, já que em suas terras as reservas de petróleo eram bem grandes. E que misteriosamente começa a morrer sem explicação. 

Scorsese quer fazer uma crítica à branquitude e ao sistema racista da época, mas que ainda se perpetua nos dias de hoje. No filme ele chega a trazer um paralelo da morte dos Osage com a carnificina que aconteceu em Tulsa com o negros. Só que ele tem muita noção do seu lugar de homem branco e privilegiado, e que por isso mesmo não pode falar pelo povo oprimido. Então cria uma obra que parte do ponto de vista ganancioso, racista, exploratório e predador da branquitude. E aí faz sua denúncia contra os crimes cometidos contra os Osage. E contra a própria estrutura da fundação do povo americano. 

No centro dessa narrativa temos Ernest Burkhart (Leonardo DiCaprio), um veterano da Primeira Guerra Mundial que vai morar com seu tio William Hale (Robert DeNiro), um homem carismático que cria gado e é muito bem relacionado no local em que vive. Ernest não é um homem inteligente, mas extremamente ignorante e manipulável, o que é conveniente para seu tio ganancioso. 

Muitas das mulheres Osage casam com homens brancos, mas se elas casam por amor, a maioria dos homens estão interessados em seus dinheiros. Quando William Hale sugere a Ernest que ele se aproxime de Molly, a ideia é uma relação que siga a mesma linha das uniões que costumam acontecer. Só que Molly é uma mulher inteligente e não tão fácil de manipular. 

DiCaprio está excelente como Ernest. Ele é ambíguo. Ao mesmo tempo que é carismático se deixa manipular ao ponto que se torna impossível isentá-lo da responsabilidade pelos seus atos. E a reunião com DeNiro é um deleite para quem acompanha a carreira do Scorsese. Seu William Hale é um homem simpático, engraçado e que usa isso para esconder quem verdadeiramente é. Só que é Lily Gladstone a dona do filme. Sua Molly é de uma complexidade impressionante. E cada um dos sentimentos da sua personagem são visíveis através do seu corpo. Sua personagem toma conta de todas as cenas em que está presente e é um prazer ver tanto talento em cena. 

Scorsese aos 80 anos mostra como é um dos maiores cineastas em atividade. Em mais de três horas de filme traz uma história potente e grandiosa, com uma cena final que é das coisas mais brilhantes que já filmou. E deixa claro que continua amando e aprendendo sobre o seu ofício. Não tem medo de repensar conceitos e mostrar isso em seus filmes e no olhar que projeta neles. É uma aula para todos nós.

  • Nota
5

Deixe seu comentário