Crítica: Capitão Astúcia - 55º Festival de Brasília
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Crítica: Capitão Astúcia – 55º Festival de Brasília

Capitão Astúcia – Ficha técnica:
Direção: Filipe Gontijo
Roteiro: Filipe Gontijo, Eduardo Gomes
Nacionalidade e Lançamento: Brasil, 2022 (55º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro)
Sinopse: Aos 80 anos, um letreirista de gibi resolve se tornar super-herói para salvar o mundo da volta do Akira, um misterioso tocador de harpa laser que aparecia na TV nos anos 1990. O herói arrasta o neto, o frustrado Santiago, nessa aventura.
Elenco: Paulo Verlings, Fernando Teixeira, Nívea Maria, André Amaro, Cássia Gentile, Yudi Tamashiro, Gleide Firmino e André Deca.

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Queridinho do público durante sua exibição na noite de terça-feira (15/11), segundo dia do 55º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, Capitão Astúcia é uma comédia dramática que narra, em tom de fábula e dotada de um que farsesco, o processo de envelhecimento e demência de um avô, acompanhado da transformação emocional de seu neto ao ajudá-lo a tornar a velhice mais interessante.
Dirigido por Filipe Gontijo, estreante em longas-metragens, o filme parte de um intertexto evidente com Dom Quixote de La Mancha ao alinhar um idoso sonhador com delírios de grandeza e um escudeiro inusitado, porém racional. Mesmo Dulcineia, a ilustre donzela do romance de Miguel de Cervantes, se faz presente aqui na figura da enfermeira interpretada pela veterana Nívea Maria.

Esse paralelismo entre enredos enriquece o projeto, especialmente quando integrado a um contexto que leva em consideração a idade física de seu Luís (o excelente Fernando Teixeira), o qual assume a alcunha do título, e as vicissitudes da vida de um artista ainda cheio de verve e entusiasmo, mas debilitado pela inevitabilidade do tempo e acossado por desconfianças de seus familiares.

Além disso, ao reaproveitar a dinâmica entre Quixote e Sancho Pança em seu Luís e Santiago (Paulo Verlings), o roteiro, assinado pelo diretor em parceria com Eduardo Gomes, dialoga eficazmente com as paixões dos personagens ao contrapô-los por seus estados de humor e comportamentos dissonantes, ensejando o equilíbrio entre racionalidade e fantasia como forma de se viver a vida de maneira saudável e cumprindo, portanto, com o programa emocional (ou seja, o arco dramático) do avô, que precisava dar vazão às suas fantasias, e de seu neto, o qual necessitava se encarar com seriedade e cobrança menores.
Todavia, mesmo operando em um nível distinto de realidade, mais abstrato, a produção exagera na dose de ludicidade, sendo exemplos candentes todo o terceiro ato as decisões tomadas por alguns personagens aparentemente sérios (ou, pelo menos, de postura incerta) ao embarcarem irrestritamente nos desvarios de seu Luís/Capitão Astúcia. No clímax, direção e roteiro se deixam consumir pela pirotecnia e pelas referências aos quadrinhos a fim de consolidar uma metáfora sobre senilidade e a necessidade de fabulação, mas que acaba sendo diluída pelo excesso (de luzes, de cores, de duração, de som) e pela infantilidade, algo que a infame cena pós-créditos – afinal, se trata de uma empreitada que dialoga com os quadrinhos – infelizmente confirma ao pesar a mão no descompromisso.

Sendo assim, Capitão Astúcia até cativa pela proposta e, principalmente, pela atuação de Fernando Teixeira, o qual consegue despertar simpatia e graça na plateia. Contudo, seus exageros tonais e visuais, embora se amarrem a uma parte da proposta dramática, tornam-no um bocado mais quixotesco do que o necessário. Que ironia, não é?

Texto escrito por: Júlio Cézar Rodrigues

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