Crítica: O Rolo Compressor e o Violinista (1961)
Andrei Tarkóvski é um dos maiores diretores de todos os tempos, um artista que transcende o cinema e atinge diversas esferas do conhecimento, contemplando a filosofia, política, enfim, um visionário que escreve com a luz.
Em “O Rolo Compressor e o Violinista” o diretor realiza o seu trabalho de conclusão em um curso de cinema. Apesar da imaturidade que essa afirmação possa provocar, estamos falando de um dos seus melhores filmes, mesmo que seja quase impossível estabelecer uma ordem de qualidade das suas obras, pois todas atingem o mesmo patamar.
O filme acompanha a história, em 45 minutos, ou seja, se trata de um média-metragem, do pequeno Sasha. Um menino que toca violino e é constantemente agredido por seus colegas de bairro que querem, de toda a forma, destruir o seu instrumento. Sasha desenvolve uma amizade com um motorista de rolo compressor, que o ajuda com os garotos.
Primeiro que a história é leve e super flexível, nada muito reflexivo e complicado. No entanto, o desenvolvimento carinhoso não impede o diretor de, desde então, provocar o espectador com alguns temas pertinentes. O primeiro deles, e sem dúvida o mais importante, é a dicotomia que existe entre dois mundos, um “sujo” e o outro “limpo”. Metaforicamente o limpo seria a arte, que está diretamente envolvida com o luxo. Não à toa os meninos do bairro, aparentemente “comuns”, tentam destruir o violino do protagonista, como forma de podá-lo e torná-lo igual. Quando a amizade com o trabalhador é estabelecida, uma das primeiras coisas que acontecem é o garoto sujar as mãos com graxa, representando uma forma de humildade, é quando ele atinge a compreensão de que é possível aprender com tudo, indiferentemente da sua classe social.
Sasha passa a aprender com o Sergei tudo aquilo que se rejeita por consequência de uma vida regrada. O diretor consegue, dentro da sua sutileza e inteligência, desenvolver uma história absurdamente linda e que é atemporal. Com uma imensidade de cenas onde o reflexo se faz presente, o filme é, além de poesia pela naturalidade, um primor fotográfico. Com diversas opções interessantes visuais, a sensação que fica é que o espectador acompanha escondido os pequenos movimentos dos dois amigos pelas ruas, enquanto conversam sobre trivialidades de suma importância para ambos; culminando em uma cena belíssima onde Sasha toca o seu violino enquanto Sergei, em segundo plano, contempla a sua redução. Não que ele seja inferior, mas simplesmente aceita o fato que Sasha é o futuro, repleto de oportunidades.
Com uma abordagem minimalista, o cuidado que o protagonista demonstra ao não beber leite sem ser fervido e nos treinos cansativos de violino etc., são trocados pela linguagem despreocupada do novo, porém, temporário amigo. O apertar de mãos dos dois, no final, envolto de uma simetria incrível com o reflexo da água, é a simbolização desse compromisso: do experimento da vida com o objetivo de crescer e ser aceito.