Crítica: Sete Minutos Depois da Meia-Noite (2017)
Críticas

Crítica: Sete Minutos Depois da Meia-Noite (2017)

Segundo Trigueiro (2011) “Einstein, através das equações da Relatividade e de sua intuição genial, descobriu que cada pessoa carrega consigo seu próprio tempo e seu próprio espaço e que o espaço e tempo são relativamente diferentes em relação a sistemas estacionários ou em movimento.”, trazendo para o campo da filosofia, é comum a ligação da existência humana com algo superior às suas próprias convicções, algo que move nosso trajeto para algo pré-estabelecido, como um conceito bem definido do qual somos protagonistas e somente espectadores no mesmo tempo. O espaço é o que há entre um corpo e outro, o tempo é a finitude desse movimento circular que se perdura por gerações e gerações. É rico a possibilidade de dividir seu DNA com um novo fruto, abrigar o nascimento em sua barriga e acompanhar de perto a evolução de uma poeira estelar em rumo da sua localização no convívio social.

Se analisarmos a carreira do diretor J. A. Bayona, perceberemos facilmente a sua habilidade extraordinariamente sensível em conduzir-nos por fragmentos de dramas familiares diante as mais diversas situações. O Orfanato (2007), um filme que poderia ser mais um dentre tantos de terror e suspense, carrega uma proposta dramática no que diz respeito à família, criação e legado; assim acontece com O Impossível (2012) que possui como eixo central uma família e uma catástrofe, mas o que conduz a narrativa é justamente o reencontro das partes, do amor em meio à devastação. Os roteiristas que Bayona trabalha são sempre muito hábeis na compactuação do seu perfil de direção – o que atinge o ápice com Patrick Ness no roteiro de Sete Minutos Depois da Meia-Noite (2017) que consegue alinhar uma narrativa envolvente com um transbordamento de reflexões filosóficas que simplesmente regem a obra, transformando-a em uma experiência elevada, de catarse, que atinge diretamente questões primordiais como espaço, tempo, finitude e dependência do amor como forma de evolução.

Ainda sobre o roteiro e desenvolvimento, é elegante ao extremo a maneira sutil como os personagens são revelados aos poucos ou transformados diante à fatalidade que ronda a família, essa transição foge do óbvio e mesmo que o tom fantasioso se faça presente, se trata de um filme visivelmente muito realista, se não na composição geral, mas na sua mensagem. Os efeitos especiais dão um sabor infantil à película, conferindo a ela uma verdadeira porta de entrada para o contraste entre o duro sentimento dos fatos e a incapacidade de enxergá-los como um “adulto”, afinal, percebemos a história através dos olhos de uma criança, Conor (Lewis MacDougall), um menino super criativo mas que fora tirado da sua própria trajetória pela iminente morte da mãe – figura que sempre o inspirou e impulsionou sua imaginação e aptidão artística. A maturidade do protagonista causa estranhamento, no mesmo tempo aumenta potencialmente a empatia pelas suas dores tão enormes a ponto de transformá-lo em uma criança moldada pelo processo de adultização que a morte obriga, prende e corrói lentamente e vertiginosamente, ao mesmo tempo.

Sete Minutos Depois da Meia-Noite (2017) mostra a vida sendo construída para trabalhar a morte e o processo de luto antecipado sob a ótica de uma criança angustiada. Pior do que a morte é a ciência dela, algo cabível exclusivamente a espécie humana que, dentre todas as outras, é a única que sabe da sua finitude desde o momento que conquista a consciência de si. Se é tão doloroso nos situarmos em nosso próprio espaço e tempo, quiçá ter que lidar com o do outro, ainda mais quando o amamos. Nesse sentido, o filme representa muito mais do que é, intercalando a fantasia com o real, como modo de suavizar tamanha magnitude, envolve diversas alegorias que vão desde a interpretação de histórias, três atos narrativos, significado dos sonhos como ilustração dos temores do subconsciente etc, se tratando, no fim, de uma obra cuja importância é gigantesca, principalmente no cunho pessoal, onde as experiências vividas e imaginadas pelo espectador preencherá os campos vazios propositalmente pelo filme e assim perceberá que está diante de um verdadeiro e belo diálogo filosófico sobre as intermitências da morte.

Deixe seu comentário