Crítica: Soros (documentário) – 44ª Mostra de São Paulo - Cinem(ação)
Soros - 44ª Mostra de São Paulo
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Crítica: Soros (documentário) – 44ª Mostra de São Paulo

“Soros” traz uma visão positiva do filantropo político mais controverso do mundo.

Ficha técnica:
Direção: Jesse Dylan
Nacionalidade e Lançamento: Estados Unidos, 2019 (44ª Mostra de São Paulo)
Sinopse: George Soros é uma figura controversa. Ele ficou famoso por apostar contra o Banco da Inglaterra em 1992 – e, assim, ganhou 1 bilhão em apenas um dia. Judeu e ativista por causas como a liberdade de imprensa e os direitos civis para minorias, Soros usa seu dinheiro para resolver os problemas e é criticado por ideólogos de esquerda e de direita. O documentário acompanha o bilionário em viagens pelo mundo, revelando sua história: como a experiência de sobreviver ao Holocausto deu origem à sua luta contra o ódio e o autoritarismo.

Qualquer conservador dos dias atuais não hesitaria em chamar o bilionário George Soros de “comunista”. Talvez seja por isso que o documentário “Soros” se preocupe em enfatizar a contribuição do investidor para o fim da União Soviética, não sem antes destrinchar as acusações que Soros recebe daqueles que discordam de suas ações.

Mesmo se manifestando como um documentário que vai “descobrir” o verdadeiro George Soros, o filme acaba por se autodeclarar uma defesa das ações do bilionário. Com a presença dos filhos dele, bem como do próprio biografado, o espectador passará a conhecer mais de sua trajetória.

Assim, com entrevistas de arquivo e outras realizadas pela própria equipe, “Soros” busca explicar como o homem se tornou bilionário e quais foram os acontecimentos que o fizeram deixar de tentar ganhar tanto dinheiro para gastá-lo com ações que visam transformar países que não estejam trilhando o caminho de uma sociedade livre.

Com uma narrativa tradicional e que segue as regras de qualquer documentário comum, assistimos a uma construção da persona de George Soros, bem como a uma explicação de como suas ações de ajuda a grupos, ONGs e instituições de educação transformam a realidade de diferentes países.

Com base no passado de Soros – que correu riscos quando era um jovem judeu disfarçado de cristão na Hungria ocupada pelos nazistas – o filme busca explicar as bases para o pensamento do bilionário como favorável ao que ele chama de “sociedade aberta”, algo que vai além dos princípios básicos da democracia – especialmente nos tempos atuais. Ou seja: não basta haver eleições se os eleitos perseguem minorias (e aqui, o filme chega a usar imagens de arquivo também utilizadas no filme “Bem-Vindo à Chechênia”).

É nesse ponto que o filme comenta a ascensão do nacionalismo de extrema-direita, com situações que demonstram que os esforços de Soros não seriam “suficientes” ou estariam “saindo pela culatra”. Um dos exemplos é o atual presidente da Hungria, que estudou com financiamento do bilionário, e é hoje um de seus principais algozes. O documentário também destaca os problemas que relacionam a Conselheira de Estado do Myanmar, Aung San Suu Kyi, antes apoiada por Soros, com o massacre do povo Rohingya.

No fim das contas, o documentário tenta nos mostrar que George Soros é apenas um “filantropo político” que faz escolhas de apoio baseado em suas crenças, mas não tem poder sobre tudo. Por meio da metáfora do homem que procura um chapéu na sala escura, podendo apenas tatear ao redor até encontrá-lo, vemos que Soros nem sempre consegue os resultados que gostaria, e que ganha inimigos porque, para muitas pessoas, “o mundo faz mais sentido quando se tem um gênio orquestrando tudo”, como diz uma entrevistada.

“Melhorar o mundo é mais difícil que fazer dinheiro”, afirma o bilionário. Certamente porque não há subjetividade no dinheiro. Mas a humanidade ainda não chegou a um consenso sobre o que significa um “mundo melhor”, se é que um dia chegará.

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