Crítica: Shirley – 44ª Mostra de São Paulo
Josephine Decker mistura sonho, realidade, drama e um leve toque de suspense nesse ótimo filme sobre a escritora de terror Shirley Jackson, interpretada por Elisabeth Moss. A trama ainda apresenta a figura de Stanley Hyman (Michael Stuhlbarg), crítico literário e professor, marido de Shirley. Formando um casal peculiar.
A narrativa acompanha essas duas grandes mentes conflitantes, que se manipulam e criam verdadeiros embates psicológicos entre si. A história ganha novos contornos quando um casal formado por Fred Nemser (Logan Lerman) e Rose (Odessa Young) vão morar junto com os Hymans. Aos poucos os dois vão se encantando e se conectando com os excêntricos anfitriões. Shirley, que vive um bloqueio criativo de escrita alimenta sua criatividade a partir da relação com os novos moradores.
Visualmente bonito e envolvente Shirley é uma adaptação do romance biográfico de Susan Scarf Merrell sobre a escritora Shirley Jackson. O longa constrói sua narrativa mostrando o dificultoso processo de escrita de um livro, os bloqueios criativos e as cobranças excessivas de si própria de seu marido. O filme ainda faz uma breve construção sobre a figura da mulher como escritora na década de 1960 e as milhares barreiras impostas a elas pela sociedade.
Atuações
E para dar vida a essa história Josephine Decker conta com uma atuação brilhante de Elisabeth Moss. Consolidando-se como uma das grandes atrizes da atualidade. E provavelmente com uma das melhores atuações de 2020. Vide O Homem Invisível, a qual a atriz faz outro ótimo trabalho.
Combinando diversos elementos Elizabeth Moss consegue transmitir ao mesmo tempo sua aparente fraqueza com um humor sarcástico. Ela transita entre a mulher indefesa, que sofre abusos psicológicos de seu marido, para uma mulher de grande poder manipulativo.
A fotografia e o design de som se unem para criar o clima e inserir o espectador na mente da escritora. E mesmo sendo taxada por todos como uma pessoa antipática e arrogante, aos poucos a personagem mostra seu outro lado. Mas uma coisa puxa a outra. E nesse caso a ótima atuação de Elisabeth Moss também se apoia no ótimo trabalho de Michael Stuhlbarg. Um personagem que mescla o bondoso, indo ao cafajeste e manipulador.
Para completar o trio de boas atuações está Odessa Young, a jovem Rose, fascinada pela escritora e seu trabalho. É a dinâmica entre Shirley e Rose, que faz rodar as engrenagens da história. Criando uma relação de cumplicidade que beira ao romance. Por outro lado, Logan Lerman mais uma vez se mostra um ator mediano, o qual tem pouco a acrescentar a trama.