Crítica 2: Pari – 44ª Mostra de São Paulo
“Pari” é um drama bem filmado que continua o debate sobre o choque cultural entre os países islâmicos e a cultura ocidental.
Ficha técnica:
Direção: Siamak Etemadi
Roteiro: Siamak Etemadi
Nacionalidade e Lançamento: Grécia, França, Holanda, Bulgária, 2020 (44ª Mostra de São Paulo)
Sinopse: Babak é um estudante iraniano que mora na Grécia. Quando seus pais vão visitá-lo, ele não aparece para recebê-los no aeroporto. Pari e o marido, um homem mais velho, ambos muçulmanos devotos, fazem sua primeira viagem para o exterior e não estão preparados para procurar pelo filho em um ambiente desconhecido e intimidador. Todas as tentativas dos dois para encontrar uma pista que pudesse levá-los ao paradeiro do garoto não os leva a lugar algum e eles logo chegam a um beco sem saída. Mas Pari não desiste de procurar por Babak, mesmo quando retornar ao Irã pareça ser a única opção. Seguindo os passos do filho rebelde nos cantos mais sombrios da cidade, ela usa sua força interior para realizar mais do que a busca de uma mãe pelo filho desaparecido.
Elenco: Melika Foroutan, Shahbaz Noshir, Sofia Kokkali, Argyris Pandazaras, Lena Kitsopoulou, Dimitris Xanthopoulos.
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Uma das primeiras imagens de “Pari” é do mar visto do avião. Tema comum nos filmes da Mostra de São Paulo deste ano, ele volta a aparecer só mais tarde no filme do iraniano Siamak Etemadi, simbolizando a liberdade buscada pela personagem-título e por seu filho.
Pari chega com seu marido na Grécia, onde deveria encontrar o filho Babak. Aos poucos, não apenas descobre que ele desapareceu, como também mudou completamente: deixou de lado sua cultura, seus estudos e seu passado, para seguir uma vida de liberdade. Mas para descobrir isso, a persistente mãe vai se desfazer aos poucos dos véus que a cobrem e a limitam (literal e simbolicamente).
Falando um inglês básico, Pari se vê embebida em uma cultura completamente diferente. As pichações de Atenas são exageradas, e a vida dos anarquistas punks, com quem seu filho teria se envolvido, são praticamente o oposto de sua cultura.
Assim como “Al-Shafaq”, o filme também fala sobre o choque cultural entre os países essencialmente islâmicos e as nações europeias. Mas aqui a imagem do jovem iraniano que se rendeu à “liberdade” europeia (como diz o homem da embaixada) é deixada para nossa imaginação. O que importa é sua mãe e as pistas deixadas.
“Pari” é certeiro naquilo que quer dizer: o próprio marido da protagonista fala sobre ela ser parecida com o filho – e mais tarde veremos isso de forma mais evidente. A cena em que seu chador (a capa comprida e preta que ela veste) é incendiado impressiona pelo impacto que causa: é a primeira camada a se desfazer na mãe, e o diretor escolhe acompanha-la de perto com a câmera, aproximando-nos do vulto e da realidade que vemos naquele momento.
Às vezes, o filme pode cair no exagero. A morte repentina poderia ser apenas um retorno ao país, a universidade não precisaria parecer um lugar abandonado, e a protagonista não precisaria passar por um momento de violência para se desfazer da última camada. Mesmo assim, ela demonstra força e inteligência graças ao trabalho da atriz Melika Foroutan.
Em certo momento, Pari fala sobre seu filho ser o fogo e sobre se tornar fogo. Depois, a expressão “devemos nos afogar” é lida no livro que era dele. Sem desistir, ela usa o oceano para se conectar – e para se libertar.