44ª Mostra de São Paulo: Pari – Coronation
A manhã de sábado começou agitada. Sem perder muito tempo vou traçar alguns comentários sobre as produções vistas nessa manhã pela Mostra de São Paulo.
Pari (Grécia, França, Holanda, Bulgária) – ⭐️⭐️
Direção: Siamak Etemadi
Sinopse: Babak é um estudante iraniano que mora na Grécia. Quando seus pais vão visitá-lo, ele não aparece para recebê-los no aeroporto. Pari e o marido, um homem mais velho, ambos muçulmanos devotos, fazem sua primeira viagem para o exterior e não estão preparados para procurar pelo filho em um ambiente desconhecido e intimidador. Todas as tentativas dos dois para encontrar uma pista que pudesse levá-los ao paradeiro do garoto não os leva a lugar algum e eles logo chegam a um beco sem saída. Mas Pari não desiste de procurar por Babak, mesmo quando retornar ao Irã pareça ser a única opção. Seguindo os passos do filho rebelde nos cantos mais sombrios da cidade, ela usa sua força interior para realizar mais do que a busca de uma mãe pelo filho desaparecido.
Exibido no Festival de Berlim.
O que achei?
Dramas sobre pessoas desaparecidas sempre costumam chamar atenção, principalmente nas atuações. É possível fazer uma lista imensa com filmes que abordam essa temática, mas a lista diminui consideravelmente quando nos referimos as boas narrativas. E Pari, que aparentemente se trata de uma busca incessante por um filho perdido, no fundo aborda questões como liberdade e autodescoberta.
A premissa é interessante, um casal de mulçumanos completamente perdidos em um ambiente desconhecido, com uma cultura ocidental assustadora. Porém o filme não engrena, e o ponto central da narrativa, o qual seria o drama de uma mãe em busca do filho desaparecido, não cativa e não faz criar um elo de empatia com a personagem. Quase como se estivéssemos vendo mais do mesmo.
Não se trata de um filme ruim. Contudo, não empolga, nem gera expectativas. O ponto alto do filme é o contraste e o conflito de culturas. A busca pelo filho desaparecido se transforma em um recurso para refletir sobre a liberdade feminina da personagem e as prisões que ela e a sociedade sempre a impuseram.
Coronation (China) – ⭐️⭐️⭐️⭐️
Direção: Ai WeiWei
Sinopse: Em 31 de dezembro de 2019, o primeiro caso do novo coronavírus foi confirmado em Wuhan. As autoridades chinesas negaram repetidamente que a transmissão de pessoa para pessoa era possível, ocultaram o número de pacientes diagnosticados e puniram a equipe médica por divulgar informações sobre a epidemia. Em 23 de janeiro de 2020, a cidade foi colocada sob lockdown e, logo, a Covid-19 tornou-se uma pandemia global. Coronation examina o controle político do Estado chinês do primeiro ao último dia do lockdown em Wuhan. O filme registra a resposta militarizada e brutalmente eficiente do governo para controlar o vírus, os amplos hospitais de campanha que foram erguidos em questão de dias, os 40 mil médicos e enfermeiros que foram trazidos de ônibus de toda a China, além dos moradores locais, que foram trancados em casa. Ai Weiwei dirigiu, produziu e completou a pós-produção do longa remotamente da Europa.
As filmagens foram feitas por cidadãos comuns que moram em Wuhan.
O que achei?
A tarefa de toda produção documental é registrar um fato histórico, realizar uma denúncia, contar uma história que merece ser narrada. Coronation seu trabalho de registrar o primeiro epicentro da pandemia do coronavírus satisfatoriamente bem, mas com uma lentidão que pode incomodar em alguns momentos.
O documentário é um olhar de dentro do furacão e traz situações do cotidiano de diferentes pessoas que estavam em Wuhan, sejam residentes da província ou profissionais enviados à trabalho e que foram obrigados a ficar isolados.
Vale a pena dar uma atenção ao documentário, mesmo ele expondo pessoas em estado crítico em seus leitos hospitalares, o que acho particularmente desnecessário. Coronation fica mais interessante após os 40 minutos iniciais, onde o espectador de fato começa a ter contato com os cidadãos e suas histórias. Assim como, podemos conhecer um pouco sobre a força do regime chinês e como eles lidaram com a pandemia.
Deixando de lado o tema central, Coronation consegue romper a censura estabelecida pelo Partido Comunista Chinês e apresenta ao mundo o pensamento do povo chinês sobre o Estado e sobre a pandemia.