Crítica: Cozinhar F*der Matar – 44ª Mostra de São Paulo
“Cozinhar F*der Matar” é uma comédia dramática sobre o homem e seu não-lugar na sociedade.
Ficha técnica:
Direção: Mira Fornay
Roteiro: Mira Fornay
Nacionalidade e Lançamento: República Checa, 15 de outubro de 2020 (44ª Mostra de São Paulo)
Sinopse: Várias versões sobre como Jaroslav tenta salvar seu casamento são engenhosamente contadas e desdobradas na narrativa, em que papéis e a dinâmica de poder são invertidos, sempre culminando em muito sangue e louças quebradas.
Elenco: Jaroslav Plesl, Petra Fornayová, Regina Rázlová, Jan Alexander, Jazmína Cigánková, Irena Bendová, Roman Lipka, Mária Surková, Mária Fornayová, Emil Fornay, Lucia Steinerová, Cyprián Sulej, Tereza Krasnanská, Michaela Hollá.
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Jaroslav tenta entrar na casa da sogra para ver os filhos, mas não pode. Precisa da chave, que está com a esposa. O motivo talvez esteja na anedota que inicia a narrativa da cineasta checa Mira Fornay, mas isso ficará mais evidente ao longo da trama.
Jaroslav tem que cozinhar para sua mãe se quiser ganhar o apartamento da exausta matriarca para dar a sua esposa, com quem tem um relacionamento tóxico. O segundo verbo do título está mais nos interesses, mas também ocorre entre dois personagens. Já o ato de matar é o que permite que a história recomece.
Jaroslav sempre retoma a história do seu dia a partir de algum ponto. Revive momentos semelhantes, mas sempre modificados conforme as diferentes circunstâncias e escolhas. Assim, em meio ao caos de uma sequência de acontecimentos que flertam com o surrealismo e a comédia do absurdo, vemos críticas à masculinidade tóxica, retratos de relacionamentos degradados, e referências que poderiam muito bem ser analisadas ad infinitum.
Mira Fornay cria uma mise-en-scène invejável em diversos momentos, e sugere que há problemas intrínsecos no homem, como se talvez ele fosse o lobo da anedota. E as consequências disso podem ser irremediáveis, embora menos maléficas em alguns casos.
Talvez neste ponto resida a tragédia evidenciada pelo coro de mulheres, que remetem às mais clássicas das peças gregas. Mesmo assim, “Cozinhar F*der Matar” me parece mais uma série de exercícios e apresentação de elementos fugidios do que alguma proposta realmente enfática.
Não há problema nisso, mas também não há tanto mérito.