Envolvimento de Guillermo Del Toro em Espíritos Obscuros é bom motivo para animar fãs do gênero de horror
Desde a Antiguidade, o sobrenatural é utilizado como forma de explicar coisas que não estão em nosso controle ou que não conseguem ser explicadas pela ciência. Entretanto, com o passar dos anos, mais e mais fenômenos que nossos ancestrais viam como “forças do além” ou “ações do espírito” têm sido explicados a partir da ótica científica, com estudiosos conseguindo desvendar através de suas pesquisas vários dos mistérios que antes eram verdadeiros quebra-cabeças até mesmo para as mentes mais brilhantes dos séculos passados.
No entanto, mesmo com o avanço científico explicando tais fenômenos, assim como a popularização da ciência por meio de documentários, podcasts e vídeos acessíveis a várias faixas de conhecimento, nosso fascínio pelo sobrenatural não cessa. Monstros continuam à solta em algumas das peças de mídia mais populares dos tempos atuais, desde seriados sobre zumbis, como The Walking Dead, até filmes dirigidos e produzidos por grandes diretores do cinema moderno, como o mexicano Guillermo Del Toro.
Del Toro tem uma cinematografia prolífica, sendo produtor, diretor e roteirista de pequenas, médias e gigantes produções da sétima arte. Seu nome está envolvido também em Espíritos Obscuros, longa de terror dirigido por Scott Cooper a ser lançado no fim do mês de julho e do qual o mexicano é produtor.
Diretor de Coração Louco estreia no gênero de horror
Em sua estreia na direção, o até então ator Scott Cooper conduziu Jeff Bridges ao Oscar de Melhor Ator por sua atuação no filme Coração Louco, um drama que conta a história de um ex-astro da música country tentando dar reinício à sua vida. Espíritos Obscuros é o quinto filme dirigido por Cooper, mas é o seu primeiro no gênero de horror.
A trama segue os irmãos Julia e Paul – interpretados por Keri Russell e Jesse Plemons –, uma professora e um policial de uma pequena cidade no estado do Oregon, na costa oeste dos Estados Unidos, que começam a se preocupar com um aluno deveras enigmático de uma instituição local. Por trás de seu semblante que emana mistério, Lucas Weaver (Jeremy T. Thomas) tenta esconder segredos que podem levá-los a encontrar uma criatura do além.
É uma história que enche os olhos dos fãs do gênero, ávidos por novas tramas de horror, ainda mais de um diretor tão bom como Cooper. E Del Toro, cujos vários trabalhos com o sobrenatural refletem as criaturas que povoam a sua mente, não poderia perder a oportunidade de produzir este filme.
Del Toro e sua vasta experiência no universo de histórias sobrenaturais
Além de cumprir sua missão de compartilhar com o público seu fascínio pelo sobrenatural, Guillermo Del Toro também foi responsável por ajudar a popularizar entre as gerações mais jovens algumas lendas que poderiam se perder pelo tempo. Por meio de filmes nos quais se envolveu de forma direta ou indireta, essas histórias continuaram vivas – apesar da grande presença de mortos nas tramas.
Assim foi com O Labirinto do Fauno, filme lançado em 2006 e dirigido por Del Toro, que trouxe ao mundo real várias representações horripilantes de criaturas dos contos de fada. Suas duas adaptações das histórias em quadrinhos de Hellboy, um herói metade humano, metade demônio que enfrenta vilões sobrenaturais em nome da Agência de Investigação e Defesa Paranormal dos Estados Unidos, são outro projeto que trouxe à tona histórias sobrenaturais.
Antes disso, Del Toro já havia dirigido uma trama envolvendo um dos seres mais tradicionais das histórias de terror: os vampiros. Sua estreia como diretor de cinema foi em 1993, com o longa Cronos, hoje considerado um dos melhores filmes de língua espanhola que conta a história do dono de antiquário Jesús Gris e sua transformação em um ser sedento por sangue após ter contato com um objeto que traz sua juventude de volta.
Com sua estreia nas telas, Del Toro não apenas acabou ajudando a abrir espaço para essas criaturas no imaginário coletivo e na cultura pop, mas também a moldar a representação mais tradicional dos vampiros, que vem de clássicos como o livro Drácula, do escritor Bram Stoker, e do filme Nosferatu, adaptação não autorizada do livro de Stoker que acabou se tornando uma obra-prima da Sétima Arte e que está disponível na Amazon. O sucesso gerado por essas criaturas aumentou à medida que sua imagem e seus mitos foram sendo explorados por diferentes vertentes e renomados artistas, o que fez com que esses seres servissem de inspiração também para outros ramos da indústria do entretenimento. Ilustram bem esse ponto jogos como os de RPG da série Vampire, que saíram dos tabuleiros para as telas de computador, como se vê na plataforma de jogos Steam, e o caça-níquel Blood Suckers, disponível em sites de cassino online que oferecem a seus usuários não apenas títulos diversos de caça-níqueis mas também uma gama variada das tradicionais modalidades de cassino. Outro exemplo da influência dos sugadores de sangue para além das telas é o jogo de cartas Nosferatu, lançado no Brasil pela Conclave Editora.
Entretanto, a colaboração de Del Toro com o universo dos vampiros não parou em Cronos, visto que ao dirigir Blade II, lançado em 2002, uma representação mais moderna das criaturas se daria pelas mãos do diretor. Sua inovação na contagem da história do caçador de vampiros abriu as portas para outras obras da indústria do cinema, como o seriado da HBO True Blood, que foi sucesso de audiência em suas sete temporadas, e outras produções como O Que Fazemos nas Sombras, que explora a imagem dos vampiros de forma mais cômica do que obras de terror tradicionais normalmente o fazem.
Um legado a ser guardado e passado adiante
Por muito tempo Del Toro foi considerado um dos grandes diretores modernos que ainda se encontrava injustiçado por não ter ganhado um Oscar por sua melhor obra – o supramencionado Labirinto do Fauno. Tal “injustiça” foi corrigida em 2018 por meio de A Forma da Água, filme que ganhou a estatueta dourada nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Trilha Sonora e Melhor Direção de Arte.
No entanto, mesmo que tal “correção” não tivesse sido feita, Del Toro dificilmente seria removido de sua posição como um dos membros mais influentes do cinema atual, visto que sua contribuição, principalmente quanto a histórias de terror e fantasia, é imensa. O diretor, que fez seus melhores trabalhos em filmes com orçamento “pequeno”, ultrapassando a faixa dos 100 milhões de dólares apenas com Círculo de Fogo, em 2013, usa hoje seus recursos e sua associação com o estúdio Searchlight Pictures para produzir e ajudar diretores que querem contar outras histórias fantásticas. Com isso, Del Toro ajuda não só na descoberta de novos talentos cinematográficos como também na manutenção do seu gênero favorito entre as “cabeças” da cultura e do público do cinema. É um esforço que deve valer muito a pena para o mexicano, que desde muito cedo começou a explorar o universo dos filmes com uma câmera Super 8 para, anos depois, começar a apontar as grandes câmeras em direção a alguns dos enredos mais brilhantes do cinema atual.