Outubro Macabro
Outubro é conhecido por ser o mês do Dia Das Bruxas e, como tradição, muitas pessoas se reúnem para assistirem aos mais assustadores filmes de terror. Como sempre, os clássicos como: O Exorcista, Halloween, A Hora do Pesadelo, Sexta-Feira 13, Jogos Mortais; nunca ficam de fora dessa lista.
Fugindo do comum, preparei uma lista com cinco filmes inesperados para assistir no Halloween. O diferencial desta lista é que todos os filmes foram dirigidos por mulheres, algo inusitado em um gênero geralmente associado com o público masculino.
Raw (2016)
‘Raw’, também conhecido no Brasil como ‘Grave’, é um filme franco-belga de 2016 que marcou a estreia nos longas metragens da diretora e roteirista francesa Julia Ducournau.
O filme conta a história de Justine, uma jovem vegetariana estudante de veterinária que durante um trote na faculdade é forçada a comer carne animal pela primeira vez. Isso acaba desencadeando um novo comportamento e uma nova fascinação na sua vida: ela fica obcecada por carne humana.
‘Raw’ chegou a passar pelos festivais de Toronto, Sundance e na semana da crítica em Cannes. O filme foi criticamente elogiado, mas gerou muita controvérsia devido seu conteúdo explícito, tanto que quando ele foi lançado comercialmente nos cinemas nos EUA, algumas redes de cinema distribuíram sacos de vômito junto do ingresso.Na época de seu lançamento ele foi nomeado pela crítica como o filme mais sangrento já produzido, e foi categorizado como um torture-porn.
A diretora do filme, por sua vez, não ficou muito feliz com essa publicidade gerada em torno de seu filme. Ela disse que as pessoas pararam de comentar sobre o filme e sua temática, e começaram a falar sobre o sangue e as imagens, que ela julga não serem tão fortes quanto a mídia diz. A diretora ainda foi mais afundo e disse que essa controvérsia fez com que pessoas evitassem assistir ao filme pois tinham receio do que assistiriam, e que fãs do subgênero torture-porn ficaram desapontados com o filme pois ele não chega nem aos pés de ser um torture-porn verdadeiro.
O filme, entretanto, investe muito mais nos simbolismos e analogias do que um mero gore gratuito. ‘Raw’ é levemente baseado no curta Junior, também escrito e dirigido por Julia Ducournau.
Garota Sombria Caminha Pela Noite (2014)
‘Garota Sombria Caminha Pela Noite’ é o filme de estreia da diretora britânica Ana Lily Amirpour. Apesar de ser americano, ele é inteiramente falado em persa.
Descrito como uma mistura de Faroeste moderno e terror, o filme se passa na cidade fictícia de Bad City, no Irã, onde vivem diversos traficantes e prostitutas. O que ninguém sabe é que as noites de Bad City são assombradas por uma vampira solitária com muita sede de sangue.
Embora se passe no Irã, ele foi todo rodado na California em apenas 24 dias.
Além de dirigir o filme, Ana Lily Amirpour também encarou o papel de duble da personagem principal nas cenas aonde ela anda de skate. O filme merece destaque por tratar de temas feministas de um modo criativo e curioso, valorizando mais uma atmosfera tensa e incômoda do que em criar uma narrativa em sí.
O curioso é que a palavra ‘Vampiro’ nunca é dita durante o filme, mas os personagens usam bastante a nomenclatura “Drácula”.
Em pouco tempo o filme já adquiriu um status de Cult. Uma graphic novel baseada no filme foi lançada em 2014 pela editora Radco, em que a história de Bad City é explicada mais a fundo.
The Mafu Cage (1978)
Baseada em uma peça de teatro francesa, ‘The Mafu Cage’ é um filme de terror do subgênero conhecido como Psycho-biddy por falar sobre a degradação mental de uma personagem feminina. O subgênero popularizou-se nos anos 60 com o filme ‘O Que Terá Acontecido a Baby Jane?’
Em ‘The Mafu Cage’ duas irmãs vivem sozinhas em uma mansão completamente devastada. Elas mantêm um macaco em uma jaula que pertencia ao falecido pai delas. Quando o macaco morre, uma das irmãs começa a se afundar cada vez mais em sua demência e em atos de autodestruição.
O filme, também conhecido como ‘Don’t Ring The Doorbel’l na Europa, foi o segundo filme da diretora Karen Arthur. Karen dirigiu apenas três longas para o cinema, mas tem uma prolífera carreira como diretora de TV. Nesse filme, a diretora prova ter um domínio único em construção de tensão e direção de atores, tornando ‘The Mafu Cage’ um desses raros filmes de terror cuja atuação é um dos principais destaques da obra. Destaque para a incrível interpretação de Carol Kane, que se entrega magistralmente para viver a personagem de Cissy, a irmã demente. Ele também merece destaque devido ao figurino e design de produção impecáveis.
‘The Mafu Cage’ consegue se tornar mais bizarro e surreal a cada minuto, e conta com: torturas, criados macacos, incesto e assassinatos. Odiado por muitos que não conseguem enxergar a profundidade da trama, é um filme praticamente esquecido.
Encaixotando Helena (1993)
‘Encaixotando Helena’ é um filme de 1993 dirigido por Jennifer Lynch, filha do também cineasta David Lynch.
No filme, um famoso cirurgião se apaixona por uma prostituta, que o rejeita por completo. Quando ela sofre um acidente, o médico então tem uma ideia para poder ficar com a amada: ele amputará todos seus membros para que ela fique dependente dele para tudo.
O filme cria uma nova atmosfera para o subgênero de “cientista louco”, e adiciona uma bela dose de sexualidade, criando o primeiro filme de cientista louco erótico da história. Ele também marcou a estreia de Jennifer Lynch como diretora que, por sinal, escreveu o roteiro do filme quando tinha apenas 19 anos de idade.
A produção se envolveu em uma polêmica muito antes de ter estreado, tudo por causa da desistência de duas atrizes. Primeiro, Madonna viveria a personagem principal, mas desistiu da produção. Logo depois, a atriz Kim Basinger foi contratada para viver a personagem Helena. Kim Basinger desistiu de participar do filme semanas antes do início das filmagens, causando um enorme prejuízo para os produtores, o que levou ela a ser condenada nos tribunais a indenizar os produtores do filme em 9 milhões de dólares, o que levou a atriz a declarar falência na época. No final das contas, o caso foi resolvido fora dos tribunais e a atriz pagou pouco mais de 3 milhões como indenização.
Polemicas a parte, Jennifer Lynch entregou um filme que é considerado um clássico do cinema de terror erótico. Mesmo jovem, a diretora conseguiu criar tensão e medo de um modo muito criativo. Muitos criticaram o filme e a diretora chegou a ganhar um framboesa de ouro, mas é notório que ela sofreu preconceito não só por ser mulher, mas também por ser filha de David Lynch. ‘Encaixotando Helena’ é um filme que merece ser revisto pois ele é um dos poucos thrillers eróticos dos anos 90 que envelheceu com relevância. Imperdível para a noite de Halloween.
The Love Witch (2016)
‘The Love Witch’ é um filme independente dirigido por Anna Biller, uma das maiores vozes e talentos do cinema de terror dos dias atuais. Feito visualmente como se fosse um filme Technicolor dos anos 60, ele conta a história de uma Bruxa que faz diversos feitiços para que homens se apaixonem por ela. Uma história simples, mas contada com muito estilo.
A grande sacada de ‘The Love Witch’ é a crítica feita a masculinidade frágil de muitos homens. Ao enfeitiçar as vítimas que cruzam seu caminho, as coisas acabam fugindo do controle, pois todos os homens acabam tendo dificuldade de compreender suas emoções afetivas, já que elas desviam completamente do instinto macho e bruto.
Anna Biller, além de escrever e dirigir, foi a responsável pela montagem, pela trilha sonora, pelo figurino e pela direção de arte do filme. O filme foi todo rodado em película 35mm e é um dos últimos a ser montado manualmente. E não é só visualmente que o filme parece ter sido rodado nos anos 60, os atores da trama também usaram muito da técnica de atuação presencial, muito utilizada naquela década. Ganhador de inúmeros prêmios e presente em várias listas de melhores filmes do gênero, ‘The Love Witch’ é uma dica pouco conhecida, mas certeira para a noite de Halloween.