“Operação Overlord” e a (des)complexidade do gênero
Não foram poucas as pessoas que ao saberem que J.J. Abrams estaria produzindo outro filme de terror com monstros, confabularam mais um possível spin-off de “Cloverfield” já que aparentemente para alguns, o diretor e produtor dedica-se quase que exclusivamente à franquia. Se você foi uma dessas pessoas, sinto muito estragar suas elucubrações teorísticas mas já adianto que por hora, esqueça “Cloverfield“, pois “Operação Overlord” é um filme que independe de outra obra ou mesmo universo para existir, o que é um tremendo alívio haja vista a liberdade criativa de linguagem, estética e narrativa que o filme possui. Tendo tirando esse elefante da sala, vamos falar sobre o filme.
Durante a Segunda Guerra Mundial, uma tropa de paraquedistas americanos recebe uma missão de máxima importância: invadir e destruir uma torre nazista localizada em um afastado vilarejo francês. Mas, quando se aproximam do alvo, percebem que não é só uma simples operação militar pois há muito mais escondidos naquelas terras francesas. Sim, estamos diante de uma obra de enredo simples e genérico, sem grandes mirabolâncias ou temáticas alegóricas para o deleite dos analistas do “meta-terror” e isso de maneira alguma é um demérito, afinal, terror não precisa ser sofisticado, cadenciado ou mesmo metafórico sem um bom terror.
Apesar de todo alarde causado pela presença do gigante J.J. Abrams na produção do filme, a direção ficou a cargo de um diretor ainda pouco conhecido – Julius Avery que está apenas em seu segundo longa-metragem. Porém, se lhe falta experiência, sobra talento no diretor que desde a primeira sequência mostra uma capacidade de direção que abrilhanta o filme, a começar pela cena de abertura passada dentro de um avião militar que logo sofre um ataque obrigando os soldados a saltarem de paraquedas em meio a um intenso e bem produzido bombardeio. Julius Avery com muita capacidade técnica explora uma cena longa, sem cortes, repleto de explosões que despedaçam o avião, atiram pessoas para fora, agita freneticamente o interior, explode cabeças (literalmente) de alguns soldados, e com a câmera que se mantem inabalável, aumentando a tensão por dar ao espectador a real noção do que está acontecendo em cena. Um diretor menos talentoso, usaria de diversos cortes em uma montagem frenética para dar uma falsa sensação de uma ação desenfreada que mais confundiria o espectador do que exploraria a cena. Aliás, nessa cena de abertura o diretor faz uma bela homenagem aos clássicos filmes de guerra dos anos 60 como “Crepúsculo das Águias” de 1966, “Os Canhões de Navarone” de 1961, “Dr. Fantástico” de 1964, “O Mais Longo dos Dias” de 1962 dentre muitos outros, por usar-se de um letreiro com o título do filme em fonte setentista e sob um céu bombardeado por aviões de guerra.
A segurança de Julius Avery na direção se mantem até o final e cresce a medida que o filme mergulha mais nos horrores da guerra e na violência gore prometida nos trailers divulgados. O trabalho de maquiagem no vilão da história é tão detalhista que é possível observar a musculatura interna se movendo ao passo que o personagem movimento o rosto. Visualmente o vilão impressiona, porém, sua capacidade de impor medo pára por ai.
Se “Operação Overlord” acerta na direção (incluo fotografia) o mesmo não se pode dizer de elementos como atuações, roteiro e trilha sonora. No roteiro a preguiça com que o mesmo trabalha alguns estereótipos beira o piegas, com romances injustificados, decisões heroicas surgidas de pedras, mudanças de postura que acontecem sem qualquer contextualização como por exemplo, um personagem que sempre se mostrou apático e até displicente para com a tropa e os demais civis se coloca como um herói altruísta sem que houvesse um contexto que o levasse a mudar de postura. Isso torna os personagens desinteressantes em grande parte do filme, especialmente no segundo ato onde o filme encontra seu maior problema, as limitadas atuações. Talvez eu esteja até sendo injusto com alguns atores que não têm tanto material para trabalhar, porém, há diálogos realmente constrangedores a partir da segunda metade do filme. Porém, pouca coisa me incomodou tanto quanto a trilha sonora desnecessariamente alta, invasiva, repetitiva e excessivamente grandiloquente. É o tipo de excesso que o filme não pede, nem mesmo nas cenas mais frenéticas pois a direção, maquiagem e fotografia já dão conta de sustentar o horror.
Apesar desses problemas citados acima, é um alívio poder assistir a uma obra que não tenta (pelo menos inicialmente) ser mais do que precisa ser. É um terror de estrutura simples e eficaz em sua proposta escapista, sem precisar de muletas alegóricas ou mesmo do suporte de uma franquia que aparentemente já deu tudo o que tinha para oferecer.