Crítica: Noite de Lobos (Hold the Dark, 2018) – Original Netflix
Noite de Lobos (Hold the Dark) é um suspense Original Netflix.
Ficha técnica:
Direção: Jeremy Saulnier
Roteiro: Macon Blair
Elenco: Jeffrey Wright, Alexander Skarsgård, James Badge Dale
Nacionalidade e lançamento: EUA, 28 de setembro na Netflix
Hold the Dark é o título original de Noite de Lobos. Sim, estamos diante de mais uma daquelas traduções que fogem por completo das palavras escolhidas pelo diretor. Claro que o título em português tem relação com o filme e que isso é uma questão menor, mas ainda assim, é algo quase que desrespeitoso com o trabalho.
Após esse mini desabafo, vamos ao que interessa: Noite de Lobos é um suspense que transita por vários gêneros e subgêneros. Muitos poderão ficar confusos e perdidos sobre o que o filme quis passar. Há uma certa ironia nisso, pois o mote inicial é, aparentemente bem simples.
Em uma região gélida e recheada de lobos várias crianças somem, uma das mães (Riley Keough, Ao Cair da Noite) que teve a cria subtraída contrata um escritor (Jeffrey Wright, Westworld) especialista nos lupinos para dar conta do recado. Em paralelo o pai da criança (Alexander Skarsgård, A Lenda de Tarzan) volta do front e também terá que lidar com uma guerra interna.
Tal trama é posta de maneira fácil, mas desenvolvida de forma confusa. Uma confusão em parte intencional para reforçar o mistério, mas por vezes o próprio longa se perde e tira viço da narrativa. Vale a nota: filmes extremamente explicados são péssimos, pois duvidam da capacidade do público. Os que se propõem a algo além têm que saber usar os espaços vazios, nem sempre Noite de Lobos consegue tal feito.
Um dos desafios para o público será o ritmo do longa. A morosidade, contudo, é justificada pela posição dos personagens. Eles estão em uma região que a vida passa mais lenta. Além disso, faz sentido pela construção e mudança naquelas figuras. Uma estrutura mais ágil tornaria a evolução injustificada.
Mas sim, não raro temos algumas barrigas e momentos que Noite de Lobos escapa do foco principal. O mais gritante é uma cena com tiros. Cinematograficamente e isoladamente, o momento tem viço, sendo possivelmente um dos mais merecedores de elogios aqui. O porém é que está mal inserido – com alguns muitos minutos de película pela frente – e sobra no contexto geral.
Os micro momentos de tensão funcionam e permitem que o público não escape totalmente. Mas a recompensa é muito baixa pelo tanto de investimento que fazemos. As mudanças de núcleos e a organização que o filme exige não traz o retorno ideal.
De modo coerente, a fotografia aposta em tons mais fechados. O frio é percebido tanto no clima, quanto na paleta e principalmente na personalidade dos habitantes da região. O desconvite, portanto, não está só nas camadas de neve, mas principalmente neste último ponto.
O ar sobrenatural é mais um elemento de qualidade dúbia. Apesar de bem construído e de estar genuíno na boca dos personagens. Acaba se tornando um penduricalho e nem tanto uma camada sólida de fato. O filme funcionaria normalmente sem aquilo.
Uma das chaves do longa é como ele trata os novatos, seja uma criança, um filhote ou os guardas que acabaram de entrar na corporação, principalmente em contraposição às lideranças, as naturais, institucionais e as circunstanciais. Outro ponto marcante diz respeito ao destino dos personagens. Este obviamente não vou dizer, mas quem sobrevive e quem morre é bem escolhido e tem motivos consistentes.
Noite de Lobos lida com um lado mais cru do ser humano e traça um paralelo curioso com os bichos. Por opção a história é contada de tal forma que acaba que o filme quer ser mais do que ele é criando um paradoxo: o diferencial são as camadas, mas elas quase inviabilizam o foco principal. As perguntas estarem em maior número que as respostas deixam um raro gosto amargo aqui.