50º Festival de Brasília – 7º dia: Por Trás da Linha de Escudos + 6 filmes
O sétimo dia do Festival de Brasília não foi o de descanso… e que bom, já que tivemos a melhor noite até agora. Nenhum filme ruim (YES!) e teve a minha primeira lágrima derramada. A noite foi dos documentários e contamos também com animação e ficção científica – dois gêneros raros no Festival.
Veja a nossa cobertura dos demais dias do Festival de Brasília:
Abertura – Não Devore Meu Coração!
2º dia Música Para Quando as Luzes se Apagam, Vazante e mais…
3º dia Pendular
4º dia Café com Canela
5º dia Menina de Barro e Construindo Pontes
6º dia Jeitosinha e o Nó do Diabo
MOSTRA BRASÍLIA
Curtas:
Damrõze Akwe – Amor e Resistência
Direção: Guilherme Cavalli. Documentário, 22 min, 2017, DF, 16 anos. Com Durkwa Xakriabá e Sawidi Xakriabá
Documentário sobre um casamento indígena do povo Xakriabá. O curta acompanha o casal Juvana Sawidi e Durkwa Xakriabá na preparação e na cerimônia efetivamente. Com explicações da dupla sobre a importância de resgatar aquele rito. As demais falas, principalmente sobre a importância da pintura corporal, são bem pontuada. O filme peca ao ouvir separadamente o casal. Isso cria depoimentos repetidos e atrapalha a fluidez da obra. Há também um desequilíbrio entre a parte ensaiadinha demais e onde o diretor deixa a câmera rolar. Nota: 3 estrelas
À Margem do Universo
Direção: Tiago Esmeraldo. Ficção, 18 min, 2017, DF, livre. Elenco: Petra Sunjo, Inikiru Suruawaha, Genivaldo Sampaio e Juliana Drummond
Rara ficção científica nacional e mais rara ainda dentro do Festival de Brasília. Seres alienígenas exploram uma Terra já desabitada. Conflitos morais, decisões difíceis e uma conexão com a natureza integram a temática. Um figurino bem arrojado dá a força visual à protagonista. A atriz angolana e a língua indígena usada (que encontra-se em risco de extinção no mundo real) também ajudam nessa composição. Um excesso de explicação sobre o que aconteceu na Terra e como os humanos podem ser bons e ruins cansa um pouco. O final, com uma bela revelação, sobre o saldo para bem positivo. Nota: 3,5 estrelas
Longa:
O Fantástico Patinho Feio
Direção: Denilson Félix. Documentário, 74min, 2017, livre. Com Alex Dias Ribeiro, João Luiz, Zeca Vassalo, Helládio Toledo, Roberto Pupo Moreno, Nelson Piquet
Como o diretor mesmo fala: é uma história tão inacreditável que é surpreendente que nunca tenha virado filme. O Fantástico Patinho Feio narra, em mais um documentário, a aventura de um grupo de amigos na década de 60, em Brasília, que construiu no quintal de casa um carro para competir em uma das principais corridas do calendário nacional. O longa tem um começo, meio e fim bem delimitados e com sentido narrativo. O início contextualiza a paixão local com o momento social e político da época. Boa parte do filme são carismáticos depoimentos dos atores daquele momento. E o desfecho uma emocionante descrição da corrida. A inevitável tecnicalidade ao falar de partes do carro não tirou o interesse – o que é um mérito para o diretor e um desafio para um público amplo. O efeito é até emocionante. Fui às lágrimas. O grande problema do filme é não indicar o nome e função dos entrevistados, ao menos uma vez eles poderiam ter o crédito em tela. Nota: 4,5 estrelas
MOSTRA COMPETITIVA:
Curtas:
Torre:
Direção: Nádia Mangolini. Animação, 18’40’’, 2017, SP, 12 anos. Elenco: Isabel Gomes da Silva, Gregório Gomes da Silva, Virgílio Gomes da Silva Filho, Vlademir Gomes da Silva e Ilda Martins da Silva
Animação/documentário que de forma tragilúdica ouve os depoimentos de 4 irmãos que sofreram com a ditadura e a ausência parental. Momentos difíceis que geram uma emoção sincera são bem construídos, gradativamente, em tela. O traço rústico, quase infantil, mas sem nunca soar desleixado – pelo contrário – adiciona uma rima visual potente. Impactante e sensível. Nota: 4,5 estrelas
Baunilha
Direção: Leo Tabosa. Documentário, 13 min, 2017, PE, 16 anos
Didático e belo curta sobre BDSM. Acompanha um personagem gay que sofrera com uma perda recente e que continuou as práticas sexuais na arte do BDSM. Ele, advogado, tem a imagem preservada por conta de preconceitos vários dos colegas de profissão. A câmera é muito sagaz ao seguir essa orientação ao mesmo tempo que descobre ângulos inteligentes. Há nudez explícita que vai além do choque pelo choque, apesar de chocar alguns menos acostumados. Dada a natureza do tema, há uma explicação um pouco rasa para situar o público. Considero uma opção errada e que tira um pouco da consistência do todo. Nota: 4 estrelas
Longa:
Por trás da linha de escudos
Direção: Marcelo Pedroso. Documentário, 95 min, 2017, PE, 10 anos
Corajosa proposta de um documentarista de esquerda, que após participar de forma engajada de manifestações, resolve entrevistar a Tropa de Choque local (Pernambuco). Ao ouvir o outro lado, ele procurou entender e humanizar aqueles homens que antes enfrentara. Um prólogo tecnicamente poético e recheado de simbolismo dá um show à parte e já ganha o público. A ironia do projeto é realçada por um tom também irônico de algumas comparações entre o endeusamento de parte da população dá aos policiais e a repressão que outra parcela sofreu. Perguntas inteligentíssimas e que suscitam reflexões conseguem arrancar respostas afiadas da corporação. Alguma enxugada se fazia necessária e certos arcos ficam sobrando. O final não sabe a hora de parar e perde a chance de coroar de modo incisivo e novamente alegórico. O debate proposto, contudo, é rico e causará reações várias – vide os aplausos e vaias percebidas ao final da sessão. Nota: 4 estrelas