Crítica: Paixão Obsessiva
Paixão obsessiva tenta ser um thriller, mas acaba sendo uma telenovela
Ficha técnica:
Direção: Denise Di Novi
Roteiro: Christina Hodson, David Leslie Johnson
Elenco: Rosario Dawson, Katherine Heigl, Geoff Stults, Robert Ray Wisdom, Isabella Kai Rice.
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2017 (20 de abril de 2017 no Brasil)
Sinopse: Quando o casamento entre David (Geoff Stults) e Tessa (Katherine Heigl) termina, ele fica com a casa e com a guarda da filha pequena. Tessa, furiosa com a situação, descobre que ele já está envolvido com uma nova mulher, Julia (Rosario Dawson), uma vítima de abuso por parte do ex-marido. Enquanto Julia se adapta à vida de madrasta, Tessa bola um plano para sabotar a nova namorada de David e retomar o relacionamento.
Há muitas formas de fazer um filme como Paixão Obsessiva funcionar. A premissa – uma ex-esposa que decide se vingar da atual – já foi abordada de várias formas no cinema, seja na comédia, no terror trash, ou no thriller, que é o que este filme tenta ser, sem sucesso.
Tessa Connover (Katherine Heigl) é uma mulher com dificuldades para lidar com o fim de seu casamento e que descobre que David (Geoff Stults), seu ex-marido, fica noivo de Julia Banks (Rosario Dawson) – trazendo-a ao lar que um dia compartilharam e também à vida de sua filha, Lily (Isabella Rice). Tentando se ajustar à sua nova vida, Julia acredita ter finalmente encontrado o homem de seus sonhos, capaz de ajudá-la a deixar para trás seu passado conturbado. Contudo, o ciúme de Tessa torna-se doentio e nada a impedirá de transformar o sonho de Julia em seu maior pesadelo.
Este é o primeiro longa de Denise Di Novi, bem-sucedida produtora de Hollywood, à partir de um roteiro escrito por Christina Hodson e David Leslie Johnson, e a falta de experiência da diretora é perceptível não só na direção desinteressante e óbvia na escolha de planos, mas também pelas escolhas criativas, como a de começar o filme por um momento climático e tenso da narrativa. Ao invés de instigar o espectador, a cena o aliena e corta qualquer dualidade ou suspense que a “loucura” de Tessa poderia provocar.
E não é como se o filme escondesse isso, visto que, logo em sua primeira cena, a personagem vivida por Heigl surge como uma figura inexpressiva e vaidosa enquanto penteia os cabelos (em uma cena digna de vilã da Disney, ou melhor, de telenovela) e conversa de maneira quase sociopática com a pequena filha. A verdade é que o filme parece se contradizer ao tentar estabelecer algum suspense com a cena inicial envolvendo a protagonista Julia, vivida por Dawson, quando na verdade deixa escancarada a natureza fatal de Tessa em todas as cenas em que a personagem aparece.
E já que foi feita a menção a telenovela, é válido dizer que que o tom do filme, em seu melodrama barato e desinteressante, evoca as mais genéricas produções da telinha. Ao invés de usar essa cafonice a seu favor, Di Novi escolhe um tom grandiloquente e dramático que permeia toda a narrativa. Quando cogitamos conceder o benefício da dúvida à diretora, ela inclui uma cena de sexo – com o perdão do trocadilho – estéril emocionalmente, enquanto outra personagem pratica a masturbação paralelamente, numa clara intenção de clímax narrativo, à procura de um simbolismo barato e propósitos catárticos que são, francamente, caras de pau.
Incluindo ocasionalmente músicas pop sem propósito narrativo nas cenas e em interlúdios com paisagens, na esperança de que tais músicas justifiquem o que estamos assistindo, a diretora e seus roteiristas ainda incluem um subtexto artificial de empoderamento feminino à medida que anseiam, contraditoriamente, pela famosa catfight (termo usado para o esteriótipo da “briga de mulher” no exterior). E as maquiagens de ferimentos nunca foram tão artificiais. O argumento de que tais defeitos poderiam ser atribuídos ao baixo orçamento da produção não se justifica aqui, já que estes problemas são evidenciados pelos erros de continuidade. Cortes aparecem e somem como mágica.
A real tristeza fica quando vemos Rosario Dawson – sempre competente – se esforçando no papel, à medida que atores como Geoff Stults interpretam uma caricatura de um ser humano real.
No fim, Paixão Obsessiva é uma produção que, se já não nasceu errada em sua própria premissa, acabou morta no momento em que Denise Di Novi decidiu levá-la a sério. Onde produções como Obsessiva (sim, aquela com Idris Elba e Beyoncé) acertam, ao abraçar o espírito de filme B, esta erra.
É possível encontrar algum divertimento na performance de Heigl, é verdade, mas sua Tessa funcionaria melhor num desses suspenses B que vemos constantemente nos corujões da madrugada. Estas produções, pelo menos, não escondem o que são: divertidos e inofensivos filmes de gênero, onde lhes é atribuída uma certa dignidade por suas intenções honestas. Dignidade que Paixão Obsessiva não possui.
Quem estamos enganando? A verdade é que Tessa talvez funcionasse como uma vilã de novela. E não seria nem no horário nobre.