Crítica: Sete Dias Com Marilyn
Embora tenha sido indicado a somente duas categorias do Oscar, “Sete Dias Com Marilyn” é um dos filmes “nostalgia” que o Oscar valorizou, o que endossa ainda mais a “homenagem ao passado” que a Academia de Hollywood preparou em fevereiro de 2012.
Baseado no livro de Colin Clark “Minha Semana com Marilyn”, o filme conta a história de Colin, um jovem inglês que, apaixonado por Marilyn Monroe (como todos os jovens de sua geração), começou a trabalhar na indústria do cinema. Colin foi o terceiro assistente de direção no filme “O Príncipe Encantado” (The Prince and the Showgirl), gravado na Inglaterra em 1957, estrelado por Marilyn Monroe, que foi dos Estados Unidos para a Inglaterra gravar o filme.
Após uma (bem) rápida introdução narrada por Colin, o espectador já consegue vislumbrar a situação do narrador protagonista, embora não seja possível captá-la profundamente. Aliás, a falta de profundidade dos personagens é justamente a grande falha do filme, que insiste em repetir informações sem nunca aprofundá-las. Apesar disso, o filme consegue ter como principal qualidade o empenho e a simpatia dos atores, especialmente de Michelle Williams, que copia perfeitamente os trejeitos e gestos da loira que foi uma das maiores celebridades de todos os tempos. Também são destaques Kenneth Branagh e Judi Dench.
Assim como os principais homenageados de 2012 pela Academia, como “O Artista” e “A Invenção de Hugo Cabret”, o filme de Simon Curtis (David Copperfield) se utiliza da metalinguagem para enriquecer a própria obra. No caso de “Sete Dias Com Marilyn”, há referências ao método de atuação criado por Stanislavski, que Marilyn usava, mas que ia de encontro ao método de atuação dos atores da época, já que não era tão difundido. Em determinado momento da projeção, Colin diz que Marilyn “representa o futuro”, na tentativa de explicar porque a atriz tinha tantos problemas para gravar o filme. Hoje, este é o método largamente utilizado no cinema.
Ao mesmo tempo em que o filme mostra como se gravavam filmes na época, “Sete Dias Com Marilyn” parece ser artificial ao mostrar os conflitos existentes entre o diretor (e ator principal) Laurence Olivier (Kenneth Branagh) e sua “estrela” Marilyn. É como se apenas repetissem a ideia de que ela se atrasava para gravar e esquecia o texto, mas em nenhum momento é mostrado qualquer problema grave para o estúdio (como o encarecimento da produção ou a necessidade de terminar logo o trabalho, por exemplo).
Embora tenha cortes muito rápidos em diversos momentos, que mostram uma montagem bastante falha, o longa consegue ser eficiente em mostrar como Marilyn Monroe era nada menos que uma personagem vivida por Norma Jean Mortenson (seu nome verdadeiro). É neste ponto que Michelle Williams merece todo o crédito por personificar uma mulher que vivia um mundo de fantasias, de sonhos e, consequentemente, de situações passageiras. A emoção que Marilyn tem ao ver uma casa de bonecas mostra muito bem como ela vivia de sonhos que acabavam, o que a transformava em uma “arrasadora de corações”, já que fazia homens se apaixonarem e depois os deixava.
Mas é importante destacar que falta alguma coisa na construção dos personagens. Por ser um drama baseado em relações entre personagens, o filme deveria se aprofundar mais, pelo menos em relação aos personagens Colin e Marilyn. Entretanto, a trama insiste em apenas repetir cenas de confusão nas gravações e de paixonites entre os personagens principais. Dessa maneira, o filme mantém o espectador sempre afastado das personagens, quando deveria se esforçar em aproximá-los.
Mesmo assim, “Sete Dias Com Marilyn” é uma bela homenagem à atriz e ao cinema de seu tempo. Além de bela, talentosa e representativa de um período do cinema, Marilyn Monroe foi um microcosmo do próprio cinema: ela vivia em um mundo de fantasias e sonhos, que passavam e davam lugar a outros momentos e outros sonhos (e outros homens). Tudo em sua vida (e toda a sua própria vida) foi breve e passageiro, assim como foram os sete dias de Colin, e assim como são os filmes: um mundo de sonhos que acaba após algum tempo, mas que permanece na memória e jamais será esquecido, capaz de até mudar o destino de quem se sensibilizar com as emoções propiciadas.
Nota: 03 Claquetes