Crítica: Ghost in the Shell – O Fantasma do Futuro
Ficha técnica:
Direção: Mamoru Oshii
Roteiro: Kazunori Itô. Baseado na obra de Masamune Shirow
Nacionalidade e lançamento: Japão, 18 de novembro de 1995
Sinopse:
No caótico ano de 2029, o Esquadrão Shell, liderado pela Major Motoko, é encarrego de resolver crimes praticados por hackers. Um deles, o Mestre das Marionetes, gera uma onda de violência, utilizando memórias falsas, ao mesmo tempo em que ativa uma série de questões existenciais em Motoko.
O futuro:
Com o lançamento do filme “A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell”, vamos relembrar um pouco o prestigiado anime japonês “Ghost in the Shell”, que no Brasil teve o infeliz título “O Fantasma do Futuro”. Trata-se do primeiro de alguns longas e séries lançados até o momento, adaptados do mangá escrito por Shirow Masamune. É de longe um dos melhores trabalhos cinematográficos sobre a cibernética e sua complexidade, transitando em uma atmosfera de anseios e existencialismos entre humanos e máquinas, e também humanos-máquinas, explorando elementos como a mente, a alma, a liberdade e a limitação.
A major Motoko, em sua luta incessante para capturar o Mestre das Marionetes, se deixa levar pela dúvida ao começar a questionar elementos até então pouco explorados por uma agente, como a “alma”, sentimentos e sensações humanas. É como se ela começasse a entender que a vida tem algo mais a oferecer fora de seu ‘mundo’. Com o corpo repleto de aparelhos implantados (o que faz dela uma ciborgue), Motoko se vê mergulhando em pensamentos sobre a realidade. Não a realidade criada pelos engenheiros do poder que a mantém e a controlam de certo modo, mas a realidade que não está contida em sua mente, ou seja, as memórias falsas incutidas em seu ser já não passam de registros sem importância. O que ela deseja agora é transpor a barreira da verdade que há lá fora. E o Mestre das Marionetes parece ter essas respostas, por mais que este, para Motoko, não passe de um criminoso que precisa ser detido o mais rápido possível.
Claro que “Ghost in the Shell” não é apenas uma história sobre humanos-máquinas em crises existenciais, mas é também sobre uma grande caçada a um perigoso e extremamente inteligente criminoso que, aos poucos, ficamos sabendo ter saído de dentro do próprio Ministério das Relações, órgão ligado ao Esquadrão. No fundo, o criminoso é uma poderosa consciência artificial que, para alcançar seus objetivos, se utiliza das mentes de pessoas que tiveram suas memórias apagadas. Estas pessoas imaginam ter vivido situações que na verdade não passaram de memórias implantadas por um ser que as manipulam.
Trabalhando ao lado de Motoko, o incansável Batou é o reforço físico do grupo, aquele que ajuda a livrar seus colegas dos apuros. Mas, além disso, Batou também serve (para o espectador) como um elo que liga às respostas, fornecendo informações que nos ajudam a entender o que está ocorrendo aqui e ali.
O roteiro é excepcional, explorando de forma criativa uma narrativa que por vezes parece uma junção de um filme noir com uma ficção científica. Não é um roteiro esquemático, mas uma elaboração de várias ideias fantásticas e embaralhadas, cabendo ao público destrinchar todo aquele universo repleto de ambivalência e subjetividade. A grande virada da história se dá justamente em um momento ambíguo, quando um suposto acidente envolvendo uma mulher, revela um misterioso segredo que ocasionará o maior conflito da obra.