Crítica: A 13ª Emenda
“A 13ª Emenda” é um documentário que fala sobre o sistema prisional e a sociedade racista dos Estados Unidos… mas bem poderia ser do Brasil.
Ficha técnica:
Direção: Ava DuVernay
Roteiro: Spencer Averick, Ava DuVernay
Elenco: Melina Abdullah, Michelle Alexander, Cory Booker, Angela Davis.
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2016 (7 de outubro de 2016 no Brasil, via Streamig – Netflix)
Sinopse: Um olhar aprofundado para o sistema prisional dos Estados Unidos, e como ele revela a história de desigualdade racial nos Estados Unidos.
Existem documentários que merecem prêmios por suas construções narrativas ou até mesmo pelas imagens exibidas. Outros, no entanto, merecem destaque por sua importância para o momento. É o caso de “A 13ª Emenda”, de Ava DuVernay (Selma).
Com o selo Netflix (que já se especializou em produzir documentários importantes e variados), o filme mostra, ao longo dos seus 100 minutos de duração, uma costura de depoimentos e imagens de arquivo que mostram os problemas gravíssimos do sistema carcerário nos Estados Unidos, e como ele foi construído de forma a repetir a estrutura da escravidão, encarcerando uma imensa maioria de negros atrás das grades. Como base para todo o debate, está o texto da chamada “13ª emenda à constituição americana”.
Entre os méritos narrativos da diretora, é interessante notar como o filme começa direto com informações importantes e depoimentos que já colocam o espectador no cerne da discussão, para só depois apresentar os nomes e profissões dos entrevistados: e isso mostra como o discurso destas pessoas é mais importante que suas funções. Aliás, valorizar o discurso é o que o filme faz ao longo de sua narrativa, tanto por este motivo quanto por mostrar trechos de músicas que falam sobre o tema, dando importância para as manifestações artísticas (a música, especialmente o hip hop, é o espaço de fala do negro americano). Mais tarde, o documentário mostra um discurso do então candidato Donald Trump que, junto com imagens de arquivo, ressalta o verdadeiro significado da fala dele. O resultado final é cinematograficamente belo e, paradoxalmente, muito triste.
Como brasileiro, e especialmente depois de uma sequência de casos de massacres e rebeliões em presídios no Brasil, é interessante notar como praticamente todos os elementos do debate nos Estados Unidos servem para o nosso país: o uso da política da “lei e ordem” como disfarce para prender pessoas negras e pobres; a guerra contra as drogas que apenas reforça a prisão de mais pessoas negras; os interesses políticos e econômicos por trás da construção de tantas prisões.
O caminho percorrido por DuVernay é interessante, já que começa falando de forma mais aberta sobre o sistema carcerário americano, para depois abordar temas como os governos Nixon e Reagan, falar sobre leis e instituições influentes financiadas por grandes empresas, destacar a falida “guerra contra as drogas”, e finalizar com um pensamento crítico sobre como será o futuro das prisões americanas.
E entre tanto debate e informações, “A 13ª Emenda” traz um banho de conhecimentos e ensinamentos que, além de funcionarem como lições para países como o Brasil – que possui outros problemas ainda mais graves, também traz uma reflexão fundamental para uma nação que será governada por um republicano semelhante (até demais) a Nixon e Reagan.
E só por essa importância, “A 13ª Emenda” poderia ganhar um Oscar… ainda que seja cedo (e eu esteja inapto) para opinar.
Resumo
Aliás, valorizar o discurso é o que o filme faz ao longo de sua narrativa, tanto por este motivo quanto por mostrar trechos de músicas que falam sobre o tema, dando importância para as manifestações artísticas.