Crítica: Barry
“Barry” é a produção da Netflix que visa mostrar um trecho da vida de Barack Obama.
Ficha técnica:
Direção: Vikram Gandhi
Roteiro: Adam Mansbach
Elenco: Devon Terrell, Anya Taylor-Joy, Jason Mitchell, Ellar Coltrane, Avi Nash, Ashley Judd.
Nacionalidade e lançamento: Estados Unidos, 16 de dezembro de 2016 (circuito limitado). Lançamento mundial na mesma data em streaming.
Sinopse: Na década de 80, o jovem Barack Obama é um dos poucos estudantes negros na Universidade de Columbia, em Nova York. Enquanto namora uma jovem rica e vive algumas típicas idas e vindas de um estudante, ele tenta encontrar seu lugar no mundo em meio a situações preconceituosas.
Crítica
É muito fácil entender o objetivo e a premissa do filme “Barry”, produção modesta da Netflix sobre o jovem Barack Obama. Além de presumir que todos saibamos de quem se trata o protagonista (algo que pode datar o filme ou excluir quem não o saiba), ele não tem o objetivo de mostrar alguma trama completa, mas apenas um recorte específico no tempo.
Assim, desde a primeira cena, acompanhamos o jovem Barry lendo uma carta de seu pai, com quem ele não tem uma relação muito boa e viu poucas vezes ao longo da vida. Se essa informação é nova para você, não se preocupe: ela será repetida inúmeras vezes ao longo do filme. Aliás, as informações sobre onde Barry nasceu, cresceu, e como foi sua infância são verbalizadas constantemente, o que demonstra um roteiro extremamente repetitivo.
Como se não bastassem as repetições verborrágicas sobre a “falta de origem” ou “dificuldade de identidade” por parte do estudante, o longa não vê qualquer problema em repetir situações e cenas que reforcem o quanto Barry (cujo sobrenome nunca é citado) está deslocado. Ele conta isso às outras pessoas, se vê dividido entre um amigo com quem tem muito em comum mas é branco (Ellar Coltrane, de Boyhood), e chega a ser insultado por homem negro do bairro, que repete em alto e bom som que ele não pertence àquele lugar.
É claro que é interessante ver que o pai de sua namorada lhe oferece uma gorjeta no banheiro antes de saber quem ele é, e sequer o reconhece pelo rosto ao cumprimentá-lo. Também é interessante ver como Barry se identifica com os garçons negros em um casamento sofisticado – e de brancos, ou como ele sobe uma escada repleta de quadros de antigos “homens importantes”, todos devidamente brancos, mostrando que poderia ultrapassá-los a despeito de sua cor. Isso só prova o quanto o filme se torna muito mais interessante quando os elementos referentes ao racismo e ao lugar que Barry ocupa são sutis. É uma pena que, na maioria das vezes, eles sejam gritados ao público – em alguns casos, literalmente!
Se Anya Taylor-Joy consegue mostrar muita emoção com seus olhos vivazes (e menos temerosos que em A Bruxa), Devon Terrell merece aplausos pelo trabalho vocal que o transformou em um verdadeiro retrato do personagem-título, sem jamais cair no campo da caricatura.
Mesmo repetindo frases como “essa não é a minha praia” (This ain’t my scene) tantas vezes, e mesmo sendo compreensível que “Barry” seja muito mais um filme de personagem que de trama, o fato é que a falta de um caminho claro ao protagonista, e alguns elementos de storytelling certamente fariam da produção algo muito mais memorável – e bem menos cansativo.