Crítica: Além da Vida
Quem começa a assistir “Além da Vida” sem saber muito do que se trata, terá uma boa surpresa logo no começo. A cena inicial de uma tragédia natural é muito bem feita e inesperada para o tipo de filme. É uma pena que nem tudo no filme foi tão cuidadosamente feito a ponto de colocá-lo entre os melhores do diretor Clint Eastwood. Aliás, “Além da Vida” é um dos filmes mais fracos do diretor, o que não o torna de todo ruim.
“Além da Vida” conta três tramas que aos poucos vão se interligando: uma jornalista francesa que sofre uma tragédia e teve experiência de quase morte, um menino em Londres que vive o drama de ser afastado de sua mãe após a dolorosa perda do irmão, e um “vidente-médium” que tem dificuldades de continuar a vida carregando o fardo de mal poder tocar as pessoas.
Como é de se esperar, Eastwood faz algumas escolhas interessantes para lidar com o tema da vida após a morte. Em todos os momentos em que o vidente George (Matt Damon) vai se ligar ao mundo “dos mortos”, ele está em um ambiente escuro em meio às sombras, da mesma maneira que a jornalista Marie LeLay (Cécile de France) conta que viu escuridão em sua experiência. Assim, o filme estabelece uma relação muito próxima da morte com a escuridão e as sombras. Como oposição à morte, Eastwood faz questão de fazer os momentos mais sensíveis e, consequentemente, de valorização da vida, sempre recebendo uma luz quase etérea iluminando os personagens. A resolução do problema do menino Marcus (Frankie McLaren) apenas consolida a ideia de que é necessário que os vivos se libertem do apego aos mortos, para que então possam seguir seus caminhos na Terra.
A maneira como as histórias vão se conectando é orgânica à narrativa, embora seja feita às pressas para que o filme não gaste mais tempo do que gastou com o primeiro ato, além de soar artificial a “ascensão e queda” da jornalista francesa, que desistiu do emprego para se decepcionar em seguida e, subitamente, ter seu “polêmico” livro publicado.
Os grandes problemas de “Além da Vida” residem na organização do tempo e na condução do personagem principal vivido por Matt Damon. Seja devido à montagem ou ao roteiro, o filme não consegue delimitar um bom tempo de projeção para cada um dos personagens principais, e seu ritmo faz com que o filme seja episódico e quase que picotado, como se os cortes tivessem sido escolhidos aleatoriamente.
Quanto ao personagem de Matt Damon, é o único inconsistente, quando deveria ser o mais consistente de todos. Se ele deixa tão claro que seu dom é na verdade uma maldição, como ele pode ceder tantas vezes em dar uma “esmola” a pessoas que perderam entes queridos? E se tem tanto medo de perder as pessoas após usar seu “poder”, como pôde ser tão estúpido de se deixar levar pela curiosidade de uma amiga por quem estava interessado, ao ponto de contar algo que ele sabia que iria afastá-la? Tal acontecimento é tão gritante que o espectador nem se surpreende quando ela some da projeção.
Embora o final seja louvável em não explicar o que virá depois, peca por não explicar o que realmente ocorreu antes. Afinal, um filme que carrega a mensagem de que a morte não é o verdadeiro fim, faz bem em mostrar que o fim não é o verdadeiro fim, e que a vida continua. Fica a dúvida de como Marcus superou realmente suas dores tão facilmente, e porque George se encantou tanto por Marie.
Nota: 03 Claquetes