Crítica: Doce Veneno
Doce Veneno não é “errado” em momento algum, mas é um filme “bobo”.
Ficha técnica:
Direção: Jean-François Richet
Roteiro: Jean-François Richet, Lisa Azuelos
Elenco: Vincent Cassel, François Cluzet, Lola Le Lann, Alice Isaaz
Nacionalidade e lançamento: França, 2015 (16 de junho de 2016 no Brasil)
Sinopse: Laurent e Antoine são os pais de Marie e Louna, respectivamente. Eles saem em férias com as filhas em Córsega. Mas a jovem Louna acaba se envolvendo com Laurent e gera uma série de problemas com o pai e a amiga.
Lolita, escrito por Vladimir Nabokov, foi um romance bem marcante e que reverberou no cinema em diversas adaptações e referências. A premissa de uma jovem tendo um relacionamento com um homem mais maduro não é, portanto, novidade alguma. Daí Doce Veneno deixar um gosto amargo, já vimos aquela história algumas vezes. Para se tornar marcante, o longa teria que fazer algo espetacular ou acrescentar algo novo (o que não ocorre aqui). A proposta de ser mais do mesmo – travestida em outro cenário – não é “errada”, mas vacila em como contar aquela trama.
O elemento que tenta dar um tempero aqui é o fato de que a jovem Louna, menor de idade, apaixona-se pelo quase cinquentão,
Laurent. O pai dela é o melhor amigo dele. E a filha de Laurent, Marie, melhor amiga de Louna. Os 4 tendo que conviver na mesma casa, o que gerou um desconforto e situações que se propunham a serem cômicas.
Questão central à parte, os dois pais têm visões diferentes sobre a criação das filhas e ambos têm problemas com as mães das garotas. Antoine, mesmo mais conservador, paquera outras mulheres ainda estando casado. Ele também é marcado pela personalidade forte. Vide o jeito como lida com um problema de javalis (!) tentando entrar na propriedade dele. As várias tentativas infrutíferas de afastar os bichos são uma metáfora (um tanto forçada) para a situação com a filha.
Aliás, um dos problemas do longa são as soluções fáceis e até preguiçosas para desenvolver e concluir a história. O jeito que Marie descobre que o pai teve um caso com a amiga é um exemplo. O mistério e a sugestão poderiam ficar mais tempo em tela, neste caso. E a querela poderia ir além da menina ficando mais rebelde e indo para a balada diariamente. Ou quando Antoine, pai de Louna, mostra-se cego em um nível que flerta com o inacreditável.
O primeiro arco do filme também tinha falhas, mas nos conduziu a um conflito de gerações interessante. Com as meninas tirando selfies em um túmulo secular da família, pois lá era o único local com wi fi. E quando um dos pais clama para as filhas não se tornarem um esteriótipo da geração delas, mostra como o filme sabe que transita entre o clichê e o fato de que parte dos adolescentes são assim mesmo.
Destaque positivo para Vincent Cassel (Laurent) que consegue fazer boas dobradinhas com os demais atores – Alice Isaaz (Marie) à parte, já que a atriz pouco acrescenta…. Mas Cassel tem bons diálogos casuais com François Cluzet (Antonie) e passa situações críveis com o amigo, apesar da péssima cena na floresta no final do filme. O grande destaque é a parceria com Lola Le Lann (Louna). A química do “casal” permite gerar uma tensão sexual que se não se sustentasse, tornaria o filme pior do que ele é.
Doce Veneno recicla ideias, mas pode ser um bom entretenimento – apesar de um tanto pueril. Não alcança grandes momentos cinematográficos, porém não soa desastroso tecnicamente. Vale a ida ao cinema? Com muita boa vontade e um descompromisso, sim… Contudo, pense se não há outra opção melhor em cartaz.