Crítica: Independence Day: O Ressurgimento
Independence Day: O Ressurgimento tem consciência do que é
Ficha técnica:
Direção: Roland Emerich
Roteiro: Nicolas Wright, James A. Woods
Elenco: Liam Hemsworth, Jeff Goldblum, Bill Pullman, Judd Hirsch, Vivica A. Fox, Brent Spiner, Charlotte Gainsbourg, Jessie Usher, Maika Monroe e Sela Ward
Nacionalidade e lançamento: Estados Unidos; 23 de Junho (Brasil)
Sinopse: Usando a tecnologia alienígena recuperada, as nações da Terra têm colaborado em um programa de defesa para proteger o planeta. Mas nada aparenta ser suficiente diante da força sem precedentes dos alienígenas. Na trama, somente a ingenuidade de alguns valentes homens e mulheres pode impedir a extinção da vida na Terra.
No cinema blockbuster, pode-se dizer que Roland Emmerich é uma espécie de “rei dos filmes catástrofe”. O diretor tem em seu currículo filmes como O Dia Depois de amanhã, 2012, O Ataque (em menor escala no quesito destruição) o Godzilla de 1998 (que, de Godzilla continha só o nome) e, é claro Independence Day. Seus filmes são sempre cheios de heroísmo e frases de efeito, com uma grandiloquência e um patriotismo que só se equiparam aos de Michael Bay. Mas há uma diferença essencial no cinema de ambos: os filmes de Emmerich possuem uma espécie de auto-consciência que é mais honesta em relação a suas pretensões que a de Bay. Ambos sabem que suas obras são apenas produtos, mas Emmerich não tenta fazer um filme de 3 horas. Ele sabe rir de si mesmo.
Por isso, Independece Day: O Ressurgimento é um filme divertido e um dos melhores de Emmerich (o que não quer dizer muito, de fato). Sendo lançado 20 anos após o filme original, esta parece mais uma daquelas continuações que ninguém havia pedido. O original é um retrato de seu tempo e contém todos os aspectos de filmes de ação dos anos 90 que mencionei lá em cima e, por isso, foi ridicularizado por muito tempo, apesar de seus excelentes efeitos especiais para a época. Porém, com o tempo, ele sofreu o que eu gosto de chamar de “Efeito Con-Air” (o filme de ação com Nicolas Cage e John Malkovich). Ou seja, um filme tão ridículo que se tornava divertido de assistir comendo um lanche num fim de tarde.
Esta sequência porém, surpreende justamente por essa auto-consciência. Ao mesmo tempo em que presta homenagem ao original, ele parece reconhecer a natureza ridícula, por exemplo, de frases de efeito, e o melhor: ele as abraça sem medo. Há momentos em que só falta o personagem olhar para a tela e colocar um óculos antes de proferir alguma frase cafona de efeito. E o melhor é que apesar disso, há um resquício de peso na trama. Como muitos dos personagens coadjuvantes e seus respectivos atores retornam no filme, nos importamos minimamente com o destino deles, já que desenvolvemos uma afinidade pelos rostos conhecidos. Entre os que retornam estão Jeff Goldblum (sempre carismático), Vivica A. Fox, Judd Hirsch, Brent Spiner (e seu divertido doutor Okun que parece ter saído de um desenho animado) e nosso ilustre Bill Pullman retornando como o (ex)presidente. Will Smith nem faz tanta falta, no final das contas.
Carne Nova
A ‘nova geração’ que se junta ao antigo elenco é competente e faz um trabalho aceitável com o que lhes é dado. Entre os novos atores estão Jessie T. Usher como Dillan Hiller, filho do Steven Hiller interpretado por Will Smith no primeiro filme, Maika Monroe como a filha do ex-presidente Whitmore e Liam Hemsworth, que destaca-se como o jovem Jake Morrison. Apesar de Liam interpretar o estereotipado papel do ‘herói loiro de olhos azuis’, o ator tem carisma o suficiente para carregar o longa enquanto Goldblum e Pullman não estão em tela. Outra boa adição ao elenco dos novatos é nossa musa (e do Lars) Charlotte Gainsbourg no papel da doutora Catherine Marceaux. É bom ver a atriz em grandes Blockbusters.
Um reboot eficiente e uma continuação aceitável
O enredo de Independece Day: O Ressurgimento é até interessante, mesmo que seja abordado de forma genérica, com as convenções do gênero. Fazem 20 anos desde o primeiro ataque dos aliens e vitória da humanidade. As potências mundiais se juntaram em paz para produzir armamento e se preparar para futuros ataques. enquanto todos comemoram, o ex-presidente Thomas J. Whitmore tem visões de um inevitável retorno, e quando uma das naves da primeiro filme que ficaram abandonadas no meio do deserto é reiniciada inesperadamente, é hora de se preparar para uma nova batalha.
A mitologia e design do universo criado por Emmerich são dignos de atenção, e é interessante ver como os humanos usaram a tecnologia alienígena para fabricar armamento e naves. Não há nenhuma explicação, de qualquer forma, e tudo serve mais em prol de cenas impactantes de ação.
Então, tudo acaba funcionando como um reboot eficiente, devido ao carisma de Hemsworth e uma sequência aceitável, pois realmente vemos a progressão do universo previamente estabelecido.
Design e efeitos
Os maiores atrativos do filme, como no primeiro, recaem no ramo técnico. Mesmo tendo uma produção e pós apressada, os efeitos especiais do filme são eficientes, assim como o design ameaçador e criativo dos aliens que são uma evolução daqueles vistos no filme de 96. O filme é mais interessante quando se foca nos extraterrestres e suas naves. A nave mãe, por exemplo, de tão grande possui um próprio ecossistema. E a imagem da imensa nave, depois de pousada na terra, vista do espaço é arrepiante e ameaçadora.
Mais contido que o original
O filme ganha também por ser mais contido no quesito destruição que o filme original (e a maioria dos filmes de Roland Emmerich). O cineasta não as filma aqui de forma tão fetichista como um destruction porn, e, por serem menos cenas de destruição descontrolada, quando elas ocorrem pra valer você sente o impacto emocional pretendido. Quando as sequências de ação estão prestes a se prolongar demais, elas acabam, o que confere um ritmo melhor.
Os velhos problemas de sempre
Apesar de muitas melhoras, velhas marcas do cinema de Emmerich são bem visíveis aqui, como as subtramas desnecessárias. Há uma envolvendo o pai do David Leninson vivido por Goldblum e um grupo de adolescentes liderados por Joey King (que já havia trabalhado com o diretor em O Ataque) que é desnecessário e forçado. A resolução para a personagem de King então… digna de telenovela. O pai de Leninson, inclusive, protagoniza as cenas mais cômicas (não intencionais) do projeto. O velho vício do cineasta de incluir cenas em que personagens sobrevivem a situações impossíveis de formas saídas de desenho animado (como a fuga da família no filme 2012) retorna aqui.
Outro velho problema, também, é a forma genérica e previsível com que a trama se desenvolve. Você prevê tudo que vai acontecer e acerta… Mas talvez eu esteja exigindo demais do filme, se tratando de Emmerich e o fato de que ele diverte muito mais do que eu achei que divertiria.
Independece Day: O Ressurgimento é uma grata surpresa. Com os mesmo erros do original, mas melhoras comparado ao habitual de seu diretor, Roland Emmerich. Um elenco carismático e boas cenas de ação garantem uma experiência divertida, num filme cafona e divertido como o primeiro. E o melhor de tudo: ele tem consciência disso.
Resumo
Independece Day: O Ressurgimento é uma grata surpresa. Com os mesmo erros do original, mas melhoras comparado ao habitual de seu diretor, Roland Emmerich. Um elenco carismático e boas cenas de ação garantem uma experiência divertida, num filme cafona e divertido como o primeiro. E o melhor de tudo: ele tem consciência disso.