Crítica: A Garota do Livro
A Garota do Livro tem um roteiro bem ruim. O que sobra para além disso? Pouco…
Ficha técnica:
Direção e roteiro: Marya Cohn
Elenco: Emily VanCamp, Ana Mulvoy-Ten, Michael Nyqvist, Ali Ahn, David Call, Michael Cristofer
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2015 (26 de maio de 2016 no Brasil).
Sinopse: Alice na adolescência sonhava em ser escritora e teve como mentor um escritor de sucesso, mas as coisas não saíram como previstas. Anos mais tarde ela vira uma editora de livros e tem que lidar com fantasmas passados.
Se você gostou de Crepúsculo ou 50 tons de cinza esqueça o resto desta crítica. Compre um balde grande de pipoca, sorvete, refrigerante e vá curtir A Garota do Livro.
O filme traz dois momentos da vida de Alice: o final da adolescência e ela com 29 anos. Ambas as histórias são mostradas paralelamente. Assim vemos a construção dos fatos que geraram as consequências em Alice mais adulta. O longa Pais e Filhas, lançado recentemente usa o mesmo recurso, mas de uma forma muito mais acertada. Lá cada período tem tempo para se desenvolver e os cortes não ficam tão bruscos. A comparação é cabível: A Garota do Livro pega tudo que deu certo em Pais e Filhas e joga no lixo. Os elementos ruins ele traz e consegue piorá-lo.
Alice na adolescência é aspirante a escritora e tem um certo distanciamento dos pais. Nesse contexto aparece Milan Daneker. Ele é escritor de fato e vira um mentor e figura paterna dela. Como o título entrega, ele escreve um livro sobre Alice – usando os elementos que a jovem passa da vida dela. A relação entre os dois acaba passando da fronteira aluna-mestre.
Alice na fase mais adulta trabalha em uma editora, porém, na maior parte do tempo, cumpre funções quase que de secretária. Ela tem uma relação não tão boa com os pais, chefe e usa o sexo como válvula de escape (novamente tal qual Pais e Filhas). Notadamente os acontecimentos passados refletiram nela. E o fato de Alice mais velha ter que cuidar da divulgação do livro de Milan torna os fatos pretéritos muito vivos.
O enredo poderia despertar algum interesse, mas o roteiro é bem fraco. Os personagens tem desenvolvimento (quando tem) simplórios e clichês. Os diálogos são bastante questionáveis e saio do filme com a impressão que a frase mais bem elaborada foi um “eu te amo”. Há uma cena que se passa no banheiro de uma festa e outra de um discurso, ambas envolvendo Emmett Grant (par romântico da protagonista), que são muito ruins. Toda a construção do casal é óbvia, vazia e com falas entediantes e artificiais.
O ritmo é bem acelerado a ponto de no primeiro arco cansar, principalmente as já citadas idas e vindas das duas fases da protagonista. A trilha é manjadíssima e condizente com a qualidade do roteiro. Marya Cohn estreia na direção e traz uma abordagem bem equivocada ao optar por focar no uso de Alice como personagem do livro de Milan e ignorar o fato dela ter sofrido quase que pedofilia, este elemento fica meio jogado na trama, apesar de ser o foco central. Além disso ela conduz as relações de uma forma muito superficial, simplificando demais os caracteres dos envolvidos. Há também um envelhecimento, ou ausência dele, muito cretino. A diferença de idade de Alice fica clara, as dos demais personagens não. Cohn assina o roteiro – também o primeiro da carreira. Então a culpa do desastre chamado A Garota do Livro recai muito nos ombros dela.
As atuações não são marcantes, mas definitivamente não atrapalham o filme. Emily VanCamp, que já fez séries como Revenge e Everwood e os filmes do Capitão América, não traz maneirismos desagradáveis e dá a presença que a personagem pede. A versão jovem dela, Ana Mulvoy-Ten, tem um desempenho pior e traz sempre a mesma expressão. Ali Ahn, que faz a melhor amiga de Alice, não é uma personagem interessante, porém traz a única com mais realismo. A atriz ajudou no processo de colocar a personagem com os pés no chão. Michael Nyqvist é o antagonista e também se enquadra no “não atrapalha, mas não acrescenta”.
Enfim, quando um filme tem como mérito o fato de ser curto (1h26) é que temos problemas… Tomara que Marya Cohn não siga por esta linha nos próximos trabalhos e possa ter uma carreira de mais sucesso. Comparei algumas vezes com o Pais e Filhas. Se é para ter um romance e drama feminino (Pais e Filhas é muito mais que isso) prefira aquele do que A Garota do Livro.