Crítica: Feliz Para Morrer
Feliz Para Morrer prova que “a juventude nunca morrerá”.
Ficha Técnica:
Direção e roteiro: Matevz Luzar
Elenco: Evgen Car, Milena Zupancic, Vladimir Vlaskalic, Juta Kremzar, Ivo Ban
Nacionalidade e lançamento: Eslovênia, 2012 (exibido no Brasil no Festival de Cinema Europeu, 2016).
Sinopse: Ivan, um professor de musica aposentado, tem 76 anos. Ele se mostra consciente da eminente morte. Compra um caixão, arruma os próprios pertences em caixas e vai morar em uma casa de repouso para idosos. No local ele descobre um novo motivo para viver, a companheira Melita.
Recentemente tivemos alguns longas cujos protagonistas são idosos. O cotidiano de um casal que está há 45 anos casado, no filme 45 Anos. O pluri artístico e brilhante A Juventude (melhor filme do ano até agora). O instigante, porém conveniente Memórias Secretas. A palavra definitiva sobre amizade, Truman.
Feliz para morrer conta com um personagem principal cujo ator tem 72 anos e no filme o irmão dele tem 79 anos…
Filmes eslovenos não são a minha especialidade. Mas sempre me atraio por comédias de outros países para entender parte da cultura do local (foi o que me atraiu em A Ovelha Negra, da Islândia). O (mau)humor de Ivan se mostrou universal e os dramas por ele vivido tão empáticos que para funcionar basta você ser um humano.
Quem se interessar pelo longa faço o alerta que a primeira meia hora é um pouco lenta. Caso esse início te incomode, tente superá-lo e será recompensado com personagens apaixonantes e em situações bem divertidas.
O primeiro terço de Feliz Para Morrer possui piadas boas, no tempo certo. Contudo, o filme se encaminhava para ser apenas de regular para bom. O arco da família de Ivan não é o ponto forte. Apesar de justificáveis ao trazerem um contraponto ao protagonista, Marko (filho de Ivan) e a esposa são personagens sem grandes presenças. Ela se mostra uma mulher detestável e ele um homem infeliz. Já a neta Brina protagoniza bons momentos ao lado do avô.
Quando Ivan para a casa de repouso o filme ganha consideravelmente. Tudo ali funciona. O local, ao contrário de algumas instituições brasileiras, é bem aprazível. As enfermeiras são profissionais e os “hóspedes” tem várias atividades, tais como hidroginástica e informática. As cenas envolvendo os computadores é singelamente hilária.
O grande destaque vai para a relação de Melita e Ivan. A dupla carrega o longa para um patamar superior. Toda a construção/desconstrução/reconstrução do casal é bem feita, complexa e verossímil. Quando ela entra em cena começamos a sentir o caminho que a história vai levar – algo que ficou pouco explícito no começo.
Os personagens mais velhos tem inusitadas situações onde eles parecem crianças. Há um ciúme tipicamente adolescente, eles se comunicam pelo facebook e passando bilhetinhos em sala de aula, correm para pegar um ônibus e se divertem em um carro de polícia ao pedir para ligarem a sirene e as luzes. Ivan e os companheiros também jogam cartas escondidos das enfermeiras de uma maneira que lembra jovens ocultando drogas dos pais. O humor situacional, leve e alegórico se realiza de forma irrepreensível (Vizinhos 2 poderia aprender aqui).
Na parte técnica o grande destaque vai para a parte musical. A trilha escolhida permeia o longa como um bom complemento à narrativa. A música tem um papel importante em vários momentos aqui. O protagonista é professor de música, e se orgulha disso. Ele tem um rádio, que é um companheiro instável. E juntamente com o grupo de “vovôs” faz uma serenata engraçada e bela.
As atuações engrandecem os ótimos personagens. Destaque para Evgen Car (Ivan) e Milena Zupancic (Melita). Os dois transitam em diversas situações, sentimentos e fazem um humor voluntariamente involuntário. O irmão de Ivan, o Marko, também é bem interpretado por Vladimir Vlaskalic dando uma presença forte ao personagem. A jovem Juta Kremzar, que faz a netinha de Ivan, consegue também dialogar de forma convincente com os atores mais experientes.
A direção também é muito competente no trabalho com a câmera. Ressalta enquadramentos simétricos e expressivos. Há cenas que apreendemos os sentimentos devidos só pela escolha do diretor Matevz Luzar. A última cena é magistral. Há um momento que poderia ser o corte final e sairíamos da sala bem felizes e “conversando” com aqueles personagens. Mas o longa continua rodando e o que vemos é um trabalho bem inteligente de câmera como elemento narrativo. E o real desfecho é bem impactante.
Feliz Para Morrer é uma comédia e como tal faz rir. É também um drama e como tal gera um efeito catártico a quem estiver aberto àquelas reflexões. Aparentemente simples, profundamente empático. Definitivamente o cinema esloveno me encantou e procurarei mais longas do país.
Vi o filme no Festival de Cinema Europeu. Felizes para morrer será exibido gratuitamente nas seguintes datas, nas cidades:
24/05 Goiânia
01/06 Florianópolis
04/06 Belém
10/06 Belo Horizonte
19/06 Curitiba
25/06 Vitória
28/06 Manaus