Crítica: El Chanfle (1979)
El Chanfle é melhor que ver o filme do Pelé?
Ficha técnica:
Direção: Enrique Segoviano
Roteiro: Roberto Gómez Bolaños
Elenco: Roberto Gómez Bolaños, Florinda Meza, Ramón Valdés, Carlos Villagrán, Edgar Vivar, Rubén Aguirre, María Antonieta de las Nieves, Angelines Fernández, Raúl ‘Chato’ Padilla
Nacionalidade e lançamento: México, 1979
Sinopse: Chanfle é o roupeiro do América-Mex. Ele é atrapalhado, mas tem um ótimo coração e uma retidão de caráter invejável. Na vida pessoal Chanfle passa por dificuldades financeiras e para conseguir ter um filho com a esposa.
Uma das expressões mais famosas do querido seriado Chaves é: “era melhor ter ido ver o filme do Pelé”. O “filme do Pelé” na realidade foi uma licença poética da dublagem brasileira. No original temos exatamente o filme do El Chanfle. O episódio que o Chaves vai ao cinema nada mais é do que a promoção de um filme real. Cabeças explodindo em 3…2..
Sou muito fã de Chaves, futebol e, é claro, cinema. Ver os três elementos juntos é algo muito forte para o meu fraco coraçãozinho. Mas temos que ser críticos na análise e ressaltar os pontos negativos e positivos de forma mais equilibrada possível… Se eu extrapolar um pouquinho juro que foi sem querer querendo….
A história traz o dia a dia de um roupeiro de uma equipe profissional de futebol (o América). Vemos El Chanfle (Roberto Gomez Bolaños) nos treinamentos, jogos e nos bastidores do clube. Também é mostrada a vida pessoal dele. Morando em uma casa simples, porém honrada, junto com a esposa Tere (Florinda Meza, a mamãe do Quico, Dona Florinda). No trabalho ele é querido por alguns e esnobado por outros como técnico Reyes (Ramón Valdés, mais conhecido como Senhor Madruga..) e pelo grande astro do time, o garanhão Valentino (Carlos Villagrán, o dono das bochechas de buldogue velho).
A relação com a esposa é boa, mas eles sofrem por não terem consigo ter filhos, mesmo estando casados há 10 anos – por diversas vezes Chanfle coloca a bola por baixo da camisa simulando uma gravidez. Outro fato importante é a falta de dinheiro de Chanfle.
O filme é uma grande lição de moral, como é comum em muitos episódios dos seriados de Bolaños. É constante o embate honestidade vs malandragem (no pior sentido da palavra). Também vemos classes bem marcadas e o conflito, mesmo que superficial, entre elas. O aumento de salário de Valentino e Chanfle é um exemplo disso.
Temos o humor característico que marcou (e marcará) gerações. Abundância de piadas físicas e repetições que ficam mais engraçadas cada vez que aparecem, inclusive cenas onde a repetição é desvirtuada e fica mais hilária ainda.
Os personagens secundários – entenda-se todos com exceção de Chanfle – não tem tanta profundidade. A relação entre eles também deixa a desejar. Esse fator deixa o roteiro um pouco mais fraco do que vemos no seriado Chaves. Os personagens de Rubén Aguirre (o Mestre Linguiça professor Girafales) e María Antonieta de las Nieves (a Chiquinha) tem aparições bem fracas e com pouquíssimos diálogos. Quando o personagem de Bolaños não está em cena o nível cai. Mesmo sem um peso melhor distribuído, a trama, ainda assim, flui bem.
A direção de Enrique Segoviano imprime uma pegada parecida com o que já conhecemos. Não à toa, ele também é o diretor do seriado. Alguns momentos as cenas acabam de repente. Carecendo, portanto, de uma melhor finalização. Em outros ele deixa o humor acontecer de forma fluída e se sai bem.
Outro ponto positivo de El Chanfle são as imagens com referências ao futebol. Mesmo não sendo algo de encantar os olhos há mais cenas com piadas futebolísticas que o costumeiro (não lembro de um nacional com tantas). Em um dado momento Bolaños repete o tradicional gesto de Pelé na hora de comemorar um gol ou ainda quando ele “expulsa” o árbitro da partida (gesto parecido ocorreu nos gramados brasileiros décadas depois). Além do futebol com os pés vemos uma cena bem divertida que faz alusão ao futebol americano.
É possível reparar em alguns fan services: Valentino usa a camisa 8 e Chanfle em um dado momento veste a 14. No seriado o Quico mora na casa 14 e Chaves no 8 (no original o seriado se chama inclusive Chaves del Ocho), ou seja no longa eles “invertem” os números. Florinda Meza teve um relacionamento com Villagrán. Bolaños meio que ” a roubou” do companheiro de elenco. No longa é até irônico ver um momento que o personagem de Villagrán paquera Florinda causando ciúmes em Chanfle/Bolaños.
O Ramon Valdés ficou ausente do seriado por um tempo. Para cobrir essa falta de peso, Bolaños inseriu novos personagens. Um deles foi o simpático carteiro Jaiminho, interpretado por Raúl ‘Chato’ Padilla. Por esse motivo você nunca viu Jaiminho e Senhor Madruga juntos em um mesmo episódio. A curiosidade em El Chanfle se dá pelo fato de ambos estarem no elenco, mas não contracenarem em momento algum, mantendo a “tradição”. Outra que foi colocada no seriado, naquele período, foi a Dona Neves. E ela e o Dr. Chapatin também fazem uma ponta em El Chanfle.
Mesmo com vários méritos, o longa perde um pouco de sustentação como obra cinematográfica. Por outro lado cumpre de forma digna o que promete e serve para vermos os nossos atores em outro ambiente que não a vila (aqui no Brasil não foi tão popular, mas a programação dos programas de Chesperito ia bem além do carro-chefe do seriado Chaves/Chapolin).
O filme encontra-se completo no Youtube, com áudio original e legendas em português, publicado pela equipe do Fórum Chaves. Conheça El Chanfle e mate a saudade da trupe tão amada.