#ENTREVISTA: Rafael Saraiva e Larissa Martina as mentes criativas do #CineclubeANIMASSA
A sessão #EspecialCineclubes, criada pela “Coluna RochaS” especialmente ampliar a visibilidade dos cineclubes e a propagar a cultura cineclubista, trás uma entrevista com dois integrantes da equipe de produção/realização do Cineclube ANIMASSA.
O projeto foi contemplado pelo Edital de Dinamização de Espaços Culturais da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SECULT), e é realizado pela RV Cultura e Arte, e desde janeiro, as sessões sempre aos sábados, trazem em cartaz curtas-metragens do universo do cinema de animação.
Nessa entrevista exclusiva concedida ao escritor e roteirista Felipe Ferreira, Larissa Martina (Diretora da RV) e o Rafael Saraiva falam sobre o Cineclube Animassa, do mercado cinematográfico de animação e muito +!
RAFAEL SARAIVA.
Mesmo graduado em Ciência da Computação, motivou-se a seguir carreira na área do audiovisual. Participou de workshops e oficinas relacionadas a roteiros e curadoria de festivais. Na área da crítica cinematográfica, fez cursos com os críticos Pablo Villaça (portal Cinema em Cena) e João Carlos Sampaio (jornal A Tarde), este último durante o VII Panorama Internacional Coisa de Cinema, quando teve ainda a oportunidade de integrar o Júri Jovem da Mostra Competitiva Nacional. Desde a oitava edição do festival integra a equipe de curadoria. E atualmente, também participa do Cineclube Glauber Rocha – projeto dedicado ao cineclubismo iniciado em 2014 – e do Cineclube Animassa, em 2016.
1.) Em 2016, pela primeira vez na história um longa metragem brasileiro (“O Menino e o Mundo” – Alê Abreu) foi indicado ao Oscar na categoria “Melhor Longa de Animação”. Qual a representatividade que isso tem para os profissionais que trabalham nessa vertente do cinema?
O Brasil vive uma história recente bem-sucedida em grandes festivais de animação. “Uma História de Amor e Fúria”, “Guida”, “O Menino e Mundo”, são todos filmes premiados no Festival de Annecy, na França, que é um dos festivais de animação mais longevos existentes. Além disso, a Lei da TV Paga estimulou muito a produção de novos conteúdos (não apenas de animação, mais audiovisuais em geral) e espaços para exibição desses materiais. “O Menino e o Mundo” fez uma carreira incrível nesses dois anos em que rodou os festivais e teve sua estreia no circuito nacional e internacional. E uma indicação ao Oscar certamente atrai os olhares, aumenta a rede de contatos, a possibilidade de futuras parcerias, oportunidades de coproduções, movimentos muito importantes para se realizar cinema.
2.) Qual a importância da cultura cineclubista no processo de retomada e consolidação identitária do cinema nacional, em especial do cinema de animação?
Cineclubes alimentam uma cultura de cinefilia que parece muito diluída hoje em dia… E o espaço do cineclube serve para agregar essas pessoas num mesmo local, criar um hábito, uma rotina de exibições e discussões cinematográficas. E como não existe uma preocupação mercadológica (como na programação do circuito oficial, por exemplo), há espaço para focar em filmes/gêneros/formatos específicos, que muitas vezes não são tão valorizados, como o do curta-metragem, ser uma válvula de escape para materiais que não tem força para competir no grande circuito, revisitação de clássicos, difusão de obras pouco conhecidas… Enfim, um leque de possibilidades que a dinâmica de um cineclube permite.
3.) Na etapa de curadoria do cineclube houve alguma preocupação em alinhar a escolha dos filmes à algum caráter discursivo e/ou temático, ou as decisões foram feitas exclusivamente por critérios artísticos e de produção?
Recortes temáticos são sempre interessantes, mas não fico preso a eles. Especificamente em nosso cineclube, como exibimos cinco ou seis filmes por sessão, muitas vezes não dá para ter essa linha temática unindo todos eles. Por isso, tento mesclar uma variedade de produções e construir uma espécie de gradação sentimental, da forma como o espectador reagirá a eles. Montar uma sessão toda com obras de mesmo tom pode ser moroso demais, então tento combinar certa alternância de sensações, que passa não apenas pelos filmes selecionados para aquela sessão em especial, mas pela ordem em que eles são exibidos. É um trabalho muito subjetivo e que nem sempre vai funcionar tão bem, mas me sinto livre para experimentar.
LARISSA MARTINA.
Graduada em Comunicação pela UFBA, Larissa Martina é uma das sócias da RV Cultura e Arte, um espaço cultural para as artes gráficas em Salvador. Assinou a curadora em mais de trinta exposições de arte contemporânea, e desenvolve projetos editoriais como a HQ “Billy Jackson” e o jornal “O Tiraço”, pelo selo da própria livraria.
1.) O ANIMASSA é uma mostra competitiva e de exibição formada exclusivamente por filmes de animação. Há algum motivo especial por essa escolha temática?
Somos uma mostra, mas não somos uma mostra competitiva. O Animassa na verdade é cineclube, então a ideia é que a gente tenha um espaço de exibição que não se limite a mostrar os filmes, mas também que seja um ambiente que permita que as pessoas conversem e troquem informações sobre animação, de forma geral. A escolha temática tem a ver com a trajetória da RV Cultura e Arte. Ao longo do tempo temos nos transformado em um espaço focado em artes gráficas e com um interesse constante em oferecer diferentes tipos de atividades, permitindo que o público experimente linguagens variadas dentro desta proposta gráfica. E aliado a isso sempre tentamos formar público para essas linguagens, seja propondo oficinas práticas, seja promovendo encontros entre artistas e o público. Então um cineclube de animação que tem muito a ver com a nossa proposta global!
2.) O “Cineclube ANIMASSA foi contemplado pelo Edital de Dinamização de Espaços Culturais da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. Como vocês analisam a participação do poder público no fomento a cultura cinematográfica? Ocorre um desequilíbrio do investimento governamental em projetos da área de animação em relação aos demais gêneros?
Esse edital especificamente não privilegia nenhuma linguagem das artes, o interesse dele é apoiar projetos que dinamizem espaços culturais (aí entendidos de forma bem ampla) em todo o estado. Mas como esse é nosso primeiro projeto mais próximo da área de Cinema não consigo fazer um panorama sobre esses investimentos públicos.
3.) “O Menino e o Mundo” foi lançado em 2012, mas só ganhou notoriedade na mídia e se tornou conhecido pelo público com essa indicação ao Oscar, quatro anos depois. O investimento em espaços culturais que garantam a exibição dos filmes produzidos aqui, é umas das deficiências do setor que deve ser tratada com mais carinho e atenção?
Acho que a questão da distribuição/exibição é o grande abacaxi do audiovisual brasileiro, de forma geral. Tanto é que a “cota de telas” está sempre em discussão, seja no cinema ou na televisão. Acho que falta investimento em ações continuadas de longo prazo.
4.) Deixem um convite aos leitores do Cinem(AÇÃO) e ao público em geral para conferirem as sessões do “ANIMASSA”.
O Animassa está só começando e até junho vamos receber vários realizadores e apresentar uma porção de filmes nacionais. Então se vocês se interessam por cinema de animação e querem conhecer um pouco do que tem sido feito no Brasil, juntem-se a nós! Todos os sábado, às 17h, na RV Cultura e Arte.