Crítica: Conspiração e Poder (Truth)
Conspiração e Poder mostra os bastidores de uma reportagem bem polêmica.
Ficha Técnica:
Direção e Roteiro: James Vanderbilt.
Elenco: Cate Blanchett, Robert Redford, Topher Grace, Stacy Keach.
Nacionalidade e lançamento: EUA, 2015 (24 de março de 2016 no Brasil).
Sinopse: a história real de Mary Mapes, uma jornalista que faz uma matéria, publicada às vésperas das eleições americanas de 2003, mostrando que o Presidente Bush talvez tenha fugido de servir na guerra do Vietnã usando de influências políticas.
Lançado na mesma semana de Batman Vs Superman – A Origem da Justiça, o filme Conspiração e Poder será, claro, esmagado nas bilheterias e poderá passar despercebido por muita gente. A pergunta que fica é: merece caçar um cinema para acompanhar o mais novo longa da Cate Blanchett?
Este ano venceu o Oscar de melhor filme (e melhor roteiro original) um longa que trata de jornalismo. Spotlight – Segredos Revelados mostra como uma equipe de um jornal pode fazer um trabalho sério. Ele foi reverenciado, dentre outros motivos, por ser uma aula de jornalismo e deve entrar para os currículos dos cursos da área.
Conspiração e Poder, arrisco-me a dizer, traz o dia a dia de uma jornalista de uma forma tão boa, ou até melhor que Spotlight. Não me entendam mal: o filme como um todo é bem inferior àquele, mas neste ponto específico de mostrar esse lado do jornalismo, Conspiração e Poder dá um show.
Vou parecer meio escuso ao tratar da história, pois qualquer detalhe pode ser spoiler. Mas pela sinopse e pelo outros aspectos creio que já dá para ter uma ideia do enredo. Então se você gosta de jornalismo e/ou política o filme é uma boa pedida.
A Kate, como quase sempre, dá um peso à personagem principal que sobe e muito a nota geral do filme. Ela é obrigada a passar diversas emoções da personagem e se relacionar com tipos muito distintos de pessoas que exigem dela o talento que sabemos que tem. E, uma das coisas que mais gosto quando trato de interpretações, não lembra em nada o outro filme recente dela, onde também foi a protagonista e indicada para o Oscar, o longa Carol.
Mas não é só ela que está bem: Topher Grace, como membro da equipe de Mary, é um pouco inconstante às vezes, mas tem alguns rompantes que tornam a atuação dele positiva. Stacy Keach (o diretor da penitenciária na série Prison Break) também se coloca bem e mesmo com pouco tempo em tela fica marcante, com alguns tiques e maneirismos que funcionam. Contudo, quem brilha muito é o veteraníssimo Robert Redford. Ele dá uma sobriedade e carisma ao personagem Dan Rather (jornalista muito famoso nos EUA) que nos colocam dentro da trama de uma forma muito verdadeira.
Temos a direção e roteiro de James Vanderbilt. Ele estreia na função de diretor, mas já assinou o roteiro de filmes como Zodíaco e o Espetacular Homem Aranha. Infelizmente os problemas do filme recaem sob ele. Tem algumas cenas que são construídas de forma óbvia ou até, de forma não intencional, com um certo ar de galhofa. E o arco familiar da protagonista não acerta plenamente no tom.
A formação da equipe de investigação também é feita de uma forma bem clichê e os personagens, com exceção do Mike Smith (Topher Grace), são pouco desenvolvidos, pela duração do filme dava para trabalhar melhor este ponto.
A câmera é um pouco preguiçosa, em alguns momentos a movimentação lembra algo de novela e a fotografia é simples. Ou seja, o longa entra na categoria, meio acinzentada, de “filmes para TV”. Há também alguns diálogos que claramente são colocados para reverberarem posteriormente. Quando eles acontecem você percebe que eles estão ali para serem referenciados depois, sem grande função narrativa. Algumas explicações também são desnecessárias, tornando alguns pontos expositivos demais.
Voltando a falar do lado bom (gosto de encerrar as minhas críticas em um tom positivo, quando o filme merece, é claro…), apesar de alguns probleminhas no roteiro, a história é bem contada e desenvolvida. Eu confesso que não conhecia o acontecido e me senti bem contextualizado. A edição, de forma macro, também traz um ritmo agradável (mesmo sendo um pouco longo e com uma leve barriga no segundo arco).
Enfim, Jornalistas e entusiastas do gênero, podem comparecer às salas de cinema o quanto antes (imagino que ele não fique muito tempo em cartaz).
Temos aqui um belo exemplo de como a curiosidade e o empenho em fazer um bom trabalho são essenciais e uma pergunta pode mudar os rumos das coisas.
[o trailer é bem interessante: não tem spoiler e dá uma noção geral da coisa]
https://www.youtube.com/watch?v=YAraTeVDJbQ&ab_channel=Cinemaginando