O que 12 homens podem nos ensinar?
Olá caro leitor, acredito que você tenha clicado neste post com certa curiosidade devido ao título. Pois, fique calmo, este post não tem nada a ver com os 12 apóstolos ou com o filme “12 homens e outro segredo (2004)” (bem fraco, por sinal), mas sim com o clássico “12 homens e uma sentença (1957)” – aposto que você nunca havia notado quanto o número 12 é utilizado na história da humanidade!
E por que será que eu resolvi falar de um filme de 1957? Provavelmente a maioria de nós nem sequer estava vivo! Sim, eu sei disso, mas além de investir na tentativa de mais pessoas assistirem a este clássico (como já fiz no podcast do Indic(ação) #13 – Especial Anos 50), eu devo admitir que este filme realmente me fez refletir sobre muitas coisas. Vou deixar de lado a análise técnica do filme, já que acredito que ele fale por si mesmo quando você o assistir. As palavras que o definem são “verdadeira obra de arte”, principalmente quando pensamos sobre a construção do seu roteiro, posicionamento de câmera, interpretações, etc; neste momento, quero me dedicar a uma reflexão mais filosófica.
Muito bem, 12 homens se reúnem em uma sala e começam a discutir se o réu, um garoto de 18 anos, é culpado da acusação de ter matado o seu pai ou não. Se estes senhores declararem que o garoto é culpado, ele será sentenciado à cadeira elétrica, porém, caso haja alguma dúvida quanto a sua ação, o réu deve ser inocentado. Eles iniciam a decisão com uma escolha lógica, o voto. A primeira votação resulta em 11 homens definindo o réu como “culpado” e um, apenas um, como “inocente”. Henry Fonda (1905-1982), o ator que interpreta este personagem tão contraditório, começa com um simples questionamento: “e se ele não matou o pai?”. Ele começa a arguir os outros homens perguntando o porque cada um julga o rapaz culpado.
Aí está um dos momentos brilhantes do filme, pois ninguém sabe justificar ao certo porque o garoto é culpado, “ele simplesmente é”, dizem. Henry Fonda pede que todos fiquem um tempo mínimo na sala para ao menos terem certeza do destino que darão ao menino. Afinal, estão lidando com a vida de uma outra pessoa!
Eu gostaria de saber, desde quando temos tanta certeza das coisas? Ouvimos o que as pessoas têm a dizer sobre um determinado assunto, juntamos três ou quatro informações e chegamos à conclusão! De fato, vimos o garoto com a faca na mão assassinando o pai? Não. Ouvimos o vizinho que acha que ouviu alguma coisa, ouvimos a vizinha que afirma ter visto o menino com a faca na mão pouco antes de passar um trem na frente da sua janela e ouvimos o dono da loja que vendeu a faca para o garoto. Logo concluímos: “Ora, ele só pode ser culpado!”.
Não sei se você está muito familiarizado com as pesquisas mais recentes sobre a memória humana, mas estudos já comprovaram que grande parte da população, quando está sendo questionada sobre um determinado fato, apresenta-se de forma altamente suscetível às sugestões do investigador. O que isso quer dizer? Uma pesquisa feita na Inglaterra alguns anos atrás selecionou alguns participantes que tinham acabado de presenciar um roubo no meio da rua. Quando estes foram questionados sobre as características do ladrão, ocorreram divergências. Alguns afirmaram categoricamente que era loiro, outros juravam que era moreno. Todas haviam presenciado o roubo, mas dependendo de como o pesquisador as perguntava (sendo mais rígido ou mais simpático), a memória dos sujeitos as “enganavam”. Além disso, estudos realizados nos Estados Unidos já comprovam que boa parte das nossas memórias da infância na realidade não aconteceram exatamente da maneira como nos lembramos. Ao longo dos anos, modificamos as nossas lembranças a cada vez que as acessamos para contar para outras pessoas, por exemplo.
O filme “12 homens e uma sentença” me fez pensar sobre isso, sobre a certeza que temos sobre todos os assuntos. E, além de dar a sentença imediatamente, vivemos em um mundo extremamente competitivo, o que resulta em eu garantir que o meu argumento é válido e o seu, falso. Logo, entro em uma lógica onde eu preciso rebaixá-lo para eu poder ser ouvido.
Por isso, eu quero te fazer um desafio, que tal olharmos todos os lados da moeda e avaliarmos a situação por nós mesmos antes de aceitar a opinião das outras pessoas? É claro que a visão do outro é importante, é através dela que eu construo a minha, mas tudo bem se você não tiver uma opinião formada sobre determinado assunto. Tudo bem se a gente falar: “eu não sei”; ou se eventualmente mudarmos de opinião sobre as coisas! Eu tenho certeza que será muito mais interessante para todos se estivermos abertos ao diálogo e se realmente escutarmos um ao outro. Vamos estabelecer um tempo mínimo antes de darmos a sentença, ok? Porque e se as coisas não forem exatamente o que nós achamos?