“A Rede Social” – (2010)
O que me move para a escrita é o tesão, o élan. O filme A Rede Social é um dos que me fizeram pensar sobre alguma coisa quando terminei de vê-lo. O tinha visto já há um tempo, mas resolvi trazer outras perspectivas sobre ele, tendo como enfoque não a narrativa em si e sim, o quanto as redes sociais tanto quanto o avanço dessa plataforma tecnológica de amizades contrói um mundo que rapidamente nos engloba e quando nos damos conta, já estamos inseridos nele.
Atualmente vivemos numa era que se preenche de tanta conectividade que não sabemos mais priorizar nossa privacidade em detrimento da comunicação em massa de que fazemos parte. Por que não pensar no humano e suas relações com esse espaço de troca o qual nos afasta de nós mesmos e nos leva para uma solidão desenfreada apesar de haver tanta conectividade? Com o advento da modernidade, em companhia dos meios de comunicação, principalmente a internet, o avanço da síndrome narcísica assim como da representação demasiada e constante da imagem de felicidade que gradualmente foi construída pelos usuários tornam-se fatos irrevogáveis. O simulacro da realidade tem por via a criação de estampas que acabam sendo tão diversas que acabam se afastando das originais havendo uma ruptura com o seu próprio eu, transformando-o desta forma em outro, tanto para si quanto para os outros como bem desejar.
É intrigante refletir a respeito dessa mudança de comportamento já que os ditos felizes compartilham seu estado de bem-estar assim como o considerado triste, já que acaba tendo ou sentindo uma obrigação para consigo mesmo de ilustrar sua fortuna, seu júbilo, sua alegria; e se por exemplo o sucesso é considerado hoje um sinônimo de felicidade, resta perguntar que tipo de felicidade os seres humanos estão esperando cultivar. O gozo como consequência do imediato é um traço do comportamento feliz por que quando temos o que desejamos naquele momento, ainda mais quando podemos comprar o que queremos, mesmo que pelo uso daquele dinheiro que não temos e que o pagamos em parcelas, ele se realiza.
Há um empobrecimento do ser humano quando ele se fecha para si e para com suas relações de afeto. É como quando sentamos num restaurante para jantar e pedimos a senha do wifi ou observamos que durante a conversa, todos os aparelhos celulares estão ligados à espera de alguma mensagem de uma outra pessoa ou mesmo sendo usado concomitantemente com a conversa ali estabelecida. Talvez toda essas transições comportamentais sejam sintomas de angústias, ansiedades as quais acabam tendo parcela significativa num mundo em que a comunicação virtual acaba tendo mais vida que a própria realidade. Há, portanto, um desafeto contínuo e progressivo o qual acompanha a alta demanda de conexão on-line que convive conosco.
Segundo Fernando Pessoa: “Enquanto não atravessarmos a dor de nossa própria solidão, continuaremos a nos buscar em outras metades. Para viver a dois, antes, é necessário ser um.”