ROCHA)S( #17 – A extinção dos cinemas de rua no mercado cinematográfico brasileiro.
“… Das 282 salas existentes em São Paulo, apenas 19 não estão dentro de centros de compras. E apenas uma, a Cinesala, em Pinheiros, não é controlada por uma rede e não tem uma empresa ou órgão público como mantenedor…”
O abismo numérico acima é recorte de uma matéria do jornalista Diego Iwata Lima da Folha de S. Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/08/1671828-cinemas-de-rua-usam-atendimento-diferenciado-para-enfrentar-as-redes.shtml?cmpid=comptw), e o retrato do mercado de exibição cinematográfico, não só da capital paulista, mas de todo território nacional.
No sistema capitalista em que os shoppings centers se multiplicam, as salas multiplex e grandes redes nacionais/internacionais de exibição passam a sitiá-los, e centralizam estrategicamente o acesso ao leque de películas e seus horários de exibição.
A demarcação de território é visível, e parte intrínseca do sistema de distribuição das salas, e consequentemente dos filmes. O que se vê, onde se vê, em que horário se vê, por quanto tempo podemos ver.
Romper as trincheiras do mercado é a grande questão para quem faz um cinema alternativo, sem subsídios e sem patrocínios.
À medida em que a revolução tecnológica avança (3D, 4D, 4K…), os “templos do consumo” transformam o ritual de ir ao cinema, em uma experiência de luxo com direito a poltronas VIPS, cardápio gourmet e até prosseco. Enquanto isso, os cinemas de rua e os circuitos sala de arte, tentam resistir firmes na contracorrente, tentando manter seu público pela preservação da história, do estreitamento de uma relação mais intimista, e com o trabalho de uma curadoria diferenciada que reflete na programação dos filmes e na realização de eventos temáticos.
Um dos quatro sócios da Cinesala, o ex-jogador de futebol Raí, explicou de forma direta o projeto:
“Queremos ser uma antirrede… Nosso trabalho é artesanal, com cuidados que vão da preservação da arquitetura original à programação”.
O projeto inaugurado há dez meses, apesar da filosofia cultural e de acessibilidade, além de superar as expectativas de mercado, se mostra um negócio lucrativo.
Essa manutenção artesanal da cultura cinéfila parece ser a forma mais eficaz de manter o mercado alternativo das salas de cinema.
“… Das 57 salas existentes em Salvador, apenas 11 não estão ilhadas entre as vitrines. Uma é patrocinada pelo banco Itaú, duas estão sob a batuta do DIMAS (Diretoria de Audiovisual) e da FUNCEB, e as outras oito são integrantes do Circuito Sala de Arte, sendo que uma encontra-se atualmente em manutenção”.
Aqui os números se mostram ainda mais defasados se levarmos em conta as salas de rua desativadas nos últimos tempos, entre elas o Circuito Sala de Arte (antes sob o patrocínio da VIVO, que preferiu centralizar os investimentos na rede Cinemark, dando desconto aos clientes Vivo), que já esteve espalhado por oito bairros distintos da cidade.
Em uma viagem à “Era de Ouro” das grandes salas (Cine Bahia, Cine Art e Cine-Teatro Jandaia), que simbolizavam o hábito coletivo de ir ao cinema, percebemos melhor a dimensão do problema histórico da abertura de novos espaços artísticos, e do desprezo com os legados das vanguardas.
Além do diferencial, a localização era outro ponto comum entre elas. Ambas tinham como endereço as movimentadas ruas do centro da cidade. Avenida Sete, Baixa dos Sapateiros, Rua Chile…
Atualmente, há apenas 03 salas off-shoppings, que funcionam no Centro da Capital:
– O Espaço Itaú de Cinema – com a referência nominal à Glauber Rocha cada dia mais camuflada – funciona no centro da cidade. Localizado na Praça Castro Alves, apesar do bom fluxo de público, em julho deste ano a rede dirigida pelo cineasta Cláudio Marques, ameaçou fechar devido à falta de segurança e investimentos na região.
– O DIMAS que engloba as Salas Alexandre Robatto e Walter da Silveira, esta última onde é realizado o “Cineclube Walter da Silveira” criado em homenagem ao crítico e ensaísta, com exibição mensalmente de clássicos de várias cinematografias do mundo.
O mercado alternativo como um todo (salas, festivais e mostras) possui um público cativo. A plateia que vai até ele anseia por novos olhares e gosta de ser provocada. A expansão, ou no mínimo a manutenção, dessa fatia do mercado, parece mais viável se feita por meio de uma mobilização conjunta.
Os diretores das salas, no desenvolvimento de um projeto forte de divulgação e formação de novas plateias; As empresas que precisam reconhecer o poder comercial do nicho cinematográfico alternativo e nele investi-lo; E os órgãos políticos, pela implantação de políticas públicas e de fomento ao cinema.
No início deste ano, uma grande mobilização tomou conta do Facebook, após o anúncio do fechamento do Cinema do Museu. O “S.O.S Sala de Arte” – nome dado ao movimento – atualmente tem quase 10.000 seguidores, que entre curtidas, compartilhamentos e postagens de vídeos de artistas e usuários do espaço fez coro em prol
à sua manutenção na cena cinematográfica da cidade.
O resultado positivo do mutirão virtual só reforça a importância do engajamento na luta pelos direitos na cena cultural.
Se posicionar é fundamental, mas a ação não pode ficar restrita a tela do computador, ocupar os espaços é um dos passos mais importantes que precisam ser dados.
Para ver essa arte, outras ilustrações, foto-montagens, colagens, e conhecer o trabalho da Adriana Lisboa:
Tumblr: http://adrianalisboapictures.tumblr.com/ ||
Instagram: https://instagram.com/adrianasalisboa ||
Pinterest: https://www.pinterest.com/adrianalisboa71/