Crítica: O Protetor
Quem assistiu ao excelente “Dia de Treinamento”, que teve o diretor Antoine Fuqua em parceria com o ator Denzel Washington, cujo trabalho lhe rendeu o Oscar em sua categoria, logo imaginaria que um segundo encontro dos dois poderia trazer algo semelhante ao filme de 2001. No entanto, “O Protetor” é completamente diferente do que Fuqua fez em um de seus primeiros filmes.
Em “O Protetor“, que adapta uma série de TV de 1980, Denzel Washington vive Robert McCall, um homem que viveu um passado misterioso e que tenta manter uma vida tranquila, mas acaba se afeiçoando por uma jovem prostituta (Chloë Grace Moretz), que sofre nas mãos de uma gangue ligada à máfia russa. A partir de então, ele terá que enfrentar os bandidos com suas incríveis habilidades de luta e espionagem.
Seria inevitável, até mesmo pela origem da história, que o filme não fizesse referência aos típicos longas de ação dos anos 80. No entanto, em vez de fazer uma homenagem, o roteiro e a direção acabam se rendendo aos clichês, por mais que funcione como entretenimento aos que buscam divertidas cenas de luta.
Quanto aos personagens, o filme não apenas os mostra com características exploradas exaustivamente no gênero, como também não se aprofunda nem mesmo no que é apresentado. O que temos, no fim das contas, é uma série de personas unidimensionais. Há uma tentativa maior de se aprofundar em McCall, já que vemos os livros que ele lê e algo sobre seu passado, mas não o suficiente para que o espectador se importe com ele. Aliás, o fato de ele não se mostrar em perigo em nenhum momento da projeção apenas reforça tal sentimento. O mesmo pode-se dizer da jovem Alina (Moretz), que se limita a uma jovem sonhadora que veio a se prostituir sabe-se lá por qual motivo. Se o roteiro não ajuda, ao menos os atores se esforçam para carregar seus personagens de verdade – até onde podem.
Em relação aos vilões, eles não apenas são vagos, como possuem características clichês. O simples fato de serem russos já sugere que o roteirista nem sequer pensou em mudar este fato do material original, já que esta nacionalidade de vilões era bastante conveniente aos americanos no período da Guerra Fria. No entanto, embora a máfia russa pudesse servir justamente como uma forma de desconstruir a visão dos criminosos, seria minimamente aceitável se o filme tomasse esta escolha como algo que criticasse ou brincasse com a situação.
Para enfraquecer ainda mais o filme, o diretor opta por exagerar nas cenas de ação: close-ups demais, câmeras lentas demais, Denzel Washington malvado demais e escapando de explosões demais (sem nem olhar para elas). E por mais que a figura de um justiceiro pareça algo interessante, já que promove uma espécie de catarse coletiva – por matar policiais corruptos e bandidos, por exemplo – o espectador consegue perceber que trata-se de um artifício para forçar a humanização do personagem. Fuqua ainda insiste em criar diversos planos que desfocam o que está à frente para depois desfocar o que está ao fundo (ou vice-versa), em momentos extremamente desnecessários que apenas incomodam o espectador.
Considerando que Antoine Fuqua foi responsável por um filme de peso dramático muito mais eficiente, como foi “Dia de Treinamento”, é uma pena que este “O Protetor” funcione apenas como entretenimento raso. E tudo fica mais triste quando vemos que trata-se de mais uma tentativa de criar uma franquia.