Crítica: Blackfish
“Blackfish” é um documentário norte-americano que foi lançado em 18 de Outubro de 2013 para o mundo. Neste período “Blackfish” foi exibido nos festivais de Sundance, Seattle, Sydney, AFI, Best of Hot Docs Vancouver, entre outros e além de chamar a atenção ele também conseguiu uma certa repercussão na mídia.
Para escrever sobre o filme, gostaria de dividir esta crítica em 2 partes, a primeira será exclusivamente sobre a montagem, direção e roteiro do documentário, a segunda, será sobre a mensagem e os ensinamentos que “Blackfish” traz.
PARTE 01:
“Blackfish” é escrito e dirigido por Gabriela Cowperthwaite, uma diretora “nova” no mercado, que tem se dedicado exclusivamente a categoria de documentários. Neste filme em particular, Gabriela resolveu contar a fascinante história que mostra e analisa a vida da “baleia assassina” Tilikum, que vive em cativeiro e já causou a morte de várias pessoas, a última foi a treinadora Dawn Brancheau, com quem Tilikum treinava e ensaiava diariamente.
O filme se propões a colocar o lado da baleia na história, já que o animal, desde o incidente diante do público em 24 de fevereiro de 2010, esta preso e só é usado para uma pequena aparição em shows.
Gabriela Cowperthwaite trouxe a tona uma discussão fervorosa sobre os maus tratos aos animais em parques e circos, algo que já vem sendo debatido a muito tempo. Porém em um filme de 1h 23min podemos analisar muitos pontos e muitas história paralelas para se aprofundar um pouco mais no assunto.
Para mim, tecnicamente, o filme tem um pequeno problema com o roteiro, pois ele acaba indo e voltando ao decorrer da história para trazer profundidade a narrativa, porém, em alguns momentos acho que ele acaba se perdendo e assim, mostra eventos isolados apenas justificar algo que já esta sendo dito a bastante tempo. Um exemplo disso é quando eles começam o filme com um diálogo por telefone, onde alguém informa a polícia que a treinadora tinha sido atacada, e ao decorrer do filme, temos inúmeros exemplos de baleias que atacaram seus treinadores, ou seja, a repetição de informação é algo constante no filme, talvez uma técnica que ajude a afirmar algo, mas que se repetida tantas vezes pode trazer uma certa “chatice”.
Fora esta parte de roteiro, o filme tem um ótimo ritmo em termos de narração e montagem. Em vários momentos em que estamos assistindo o filme e vendo as pessoas narrando o evento ocorrido podemos sentir o coração pulsar mais rápido, pois estamos diante um animal gigantesco que pode fazer “patê” do homem, ou seja, quando vemos eventos que mostram tragédias e sabemos que aquilo acabará mal, o filme consegue nos impor um ritmo que mesmo sabendo que acabará mal, nós sentimos angústia e medo.
Uma coisa que eu senti falta foi um pouco de ousadia nas entrevistas, um pouco da “Escola Michael Moore” de ser. Tipo um câmera na mão e microfone na cara das pessoas. Digo isso, porque o filme informa ao seu final que tentou inúmeros contatos com os administradores do SeaWorld, mas não obtiveram êxito. Neste momento, entraria justamente a “Escola Michael Moore”, pois seria muito interessante colocar na tela o medo ou o despreparo de administradores perante algumas acusações sérias, esse atitude sensibilizaria ainda mais a causa do filme e daria aos responsáveis um pouco mais de “vergonha na cara”. Porém, com esta falta o filme tenta supri-la de uma maneira interessante, já que se propões a colocar no ar as contradições, ou seja, um pesquisador diz: “Nós sabemos que baleias vivem 80, 90, 100 anos em seu habitat natural”, aí há um corte e aparece um funcionário do SeaWorld falando: “Graças a este ambiente seguro que construímos para as baleias, elas podem viver 40 anos! Sendo que na natureza não passariam dos 20, 30.”, ou seja, o filme consegue expor o despreparo e até a manipulação das informações, é uma forma eficaz, porém acho que a “Escola Michael Moore” poderia servir ainda mais como complemento desse “tapa na cara”.
Tipo isso, vamos a próxima parte…
PARTE 02:
“Blackfish” é um documentário corajoso, que expõe na nossa cara, como somos medíocres e pobres.
Tilikum é uma Orca, conhecida entre os homens como a “baleia assassina” (irônico, já que nunca foi registrado um ataque desta baleia contra um ser-humano). Ela tem em média 10 metros de comprimento e pode pesar até 7 toneladas, ou seja, um animal gigantesco e hiper-forte que o homem colou na cabeça que seria fantástico te-lo para se entreter. Tilikum em especial foi capturado ainda bebê e quando este “seqüestro” aconteceu sua família ficou desolada e muito abatida. Sim, Orcas são animais hiper-inteligentes que desenvolveram uma parte de seus cérebros que se comunica de uma maneira emocional tão complexa que nem o homem chegou ao seu nível.
Após capturada, a baleia é levada a um cativeiro, onde (dependendo do treinador) pode sofrer maus tratos e passar fome, tudo isso para aprender a ser um animal que faça tudo que o seu “sequestrador” mande. Agora imagine você nesta situação…preso em um cativeiro onde fica isolado do mundo. Você em m quartinho de 3 metros quadrados, onde de vez em quando, abrem para você ir a uma sala de 10 metros quadrados e lá você tem que danças, girar, e cantar, para um bando de pessoas, que te aplaudem e tiram fotos. Após sua apresentação, você volta aos seu quartinho e lá fica…Pois bem, esta é a vida de Tilikum, a “baleia assassina” que se apresenta diariamente no SeaWorld. Agora me diz uma coisa, de maneira fria e racional, não da raiva? Vontade de matar quem te maltratou durante tantos anos, que te tirou da sua família, que te fez passar fome, que roubou sua liberdade? “Blackfish” é o documentário que expõe esse lado, e te permite refletir sobre o que você é, e sobre o quanto cegos somos.
Para mim, “Blackfish”, trouxe um questionamento muito mais profundo do que simplesmente os maus tratos aos animais, mas ele me fez pensar no quanto animal somos perante nós mesmos. Há uma frase no filme que me tocou profundamente:
“Um ex-treinador de baleias esta sentado no tribunal, e ele tem na sua mão esquerda uma caso onde uma baleia matou seu treinador em 1990, em sua mão direita ele tem o caso mais recente, em 2010, onde a treinadora Dawn Brancheau, de 40 anos foi morta. O advogado vê os 2 casos e pergunta para o ex-treinador: “Você tem estes 2 casos em suas mãos, que tem um intervalo de 20 anos, me diga, o que mudou de um caso para o outro?”….o ex-treinador de baleias, respira fundo e diz: “Nada mudou””.
Podemos pensar que o homem tem a tendência de evoluir, porém, essa tendência é levada a qual custo e sob quais condições? Além de imoral, o ato de capturar animais e domestica-los para nos entreter é primitivo e arcaico. Algo que não combina nem um pouco com uma sociedade que diz ter a tendência de evoluir.
O mais incrível do filme é justamente mostrar como o “business” vem antes de qualquer coisa, ou seja, com a morte de Dawn a indústria teve o álibi perfeito, pois foi muito fácil o SeaWorld colocar a culpa na treinadora que não poderia mais se defender. E porque colocar a culta na treinadora, porque perder a baleia é muito mais caro. A treinadora pode ser substituída, ainda mais se tiver cometido um erro, mas a baleia, que custou milhares de dólares, é preferível que viva em cativeiro e seja usada esporadicamente em apresentações, do que seja simplesmente libertada.
“Blackfish” é um documentário que merece ser assistido justamente para lhe colocar em conflito com você, sua vida e sua sociedade. O filme esta disponível no Netflix, e convidamos a todos a assinarem uma petição que necessita de 1 MILHÃO de assinaturas para a libertação da baleia Tilikum que esta em cativeiro desde 1982.
>> Petição: http://chn.ge/RCBNQX
>> Site Oficial: http://