Crítica: Alemão
À primeira vista, a pessoa que vai ao cinema assistir ao filme dirigido por José Eduardo Belmonte pode imaginar que irá se deparar com uma obra semelhante à Tropa de Elite e Cidade de Deus. Contudo, o expectador recebe uma grata surpresa , com um singelo toque de politiques.
O filme se passa poucos dias antes da tomada do Complexo do Alemão, através de uma operação muito bem arquitetada em conjunto com a polícia civil, militar e as forças armadas (nesse aspecto a ficção se confunde com a realidade).
O tema do filme em análise gira em torno de 05 (cinco) policiais infiltrados, que têm suas identidades reveladas por conta de um erro muito mal explicado.
Aliás, talvez essas “más explicações” sejam o grande vilão do filme, e não o Chefe do Tráfico do Complexo do Alemão, chamado pelo apelido de “Playboy”, interpretado (daquele jeito fraco) por Cauã Reymond.
As histórias dos personagens são pouco explicadas, assim como outros detalhes do filme – em especial o contexto de um plano ousado dos protagonistas, – que acaba mais por parecer uma filhadaputagem traição inocente de um do policiais, em um momento crucial do filme.
O filme me lembrou muito o clássico de Quentin Tarantino – Cães de Aluguel – com os protagonistas confinados em um local, desconfiando uns dos outros e com um perigo iminente na soleira da porta.
No time dos policiais temos o PM Branco, interpretado por Milhem Cortaz, bastante conhecido pelo público por conta do personagem Capitão Fábio em Tropa de Elite, e que faz um personagem irritadiço, desconfiado e cheio de acusações, mas que ,tirando o fato de sabermos que ele tem uma filha pequena, nada mais sabemos sobre o personagem; Samuel, interpretado por Caio Blat, que faz o policial bonzinho e idealista; Carlinhos (Marcio Melo Jr.) que convence como homem de boas intenções, mas não parece, em instante algum, ter frequentado qualquer Academia de Polícia; Danilo (Gabriel Braga Nunes) um personagem que poderia ter tido uma história bem mais detalhada e, por consequência, se tornar mais interessante. Contudo, o referido personagem acaba sendo só um policial tarado e carente ; e Doca (Otavio Muller), o policial mais velho, que mantém uma pizzaria como disfarce dentro da favela.
O filme é muito bem produzido, mas por conta de seu roteiro pouco elaborado e de sua contaminação política, acaba deixando a desejar. Porém, ainda assim, é uma obra que vale ser vista por quem quer conhecer um pouco mais dessa importante parte da história contemporânea do nosso país.
Como interpretação o destaque é para a participação do Antonio Fagundes, que tem presença em um dos momentos mais dramáticos do filme.
Não é possível, ainda, esquecer da brilhante interpretação do ator faz o sub-chefe da favela e braço direito do “Playboy”, extremamente convincente em seu papel, que, porém, tem seus créditos abafados diante da divulgação principal dos atores globais, o que é lamentável para o cinema nacional.