Eu Cinéfilo #81: Estamos criticando ou só seguindo a massa? - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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Eu Cinéfilo #81: Estamos criticando ou só seguindo a massa?

Virou moda odiar? Parece que sim. Hoje, muita gente critica filmes e séries sem nem assistir, só porque “todo mundo tá falando mal”. Em vez de formar uma opinião própria, segue a onda da internet. Mas será que estamos realmente analisando as produções ou apenas repetindo o que está em alta nas redes sociais?

Pega Emilia Pérez, por exemplo. O musical estrelado por Selena Gomez, Zoe Saldana e Karla Sofía Gascón tem, sim, vários problemas. O formato incomum, as escolhas narrativas ousadas e até certas decisões estéticas dividem opiniões. Mas será que o ódio massivo que recebeu teria sido tão pesado se não estivesse disputando um Oscar contra o brasileiro Ainda Estou Aqui?

Emilia Pérez - Karla Sofía Gascón

A sensação é que muita gente torceu contra antes mesmo de assistir, e outros que assistiram antes da onda de haters começaram a falar mal simplesmente pra seguir a corrente. De repente, virou uma “tendência” falar mal, e quem tentava defender era atacado ou acusado de querer ser “do contra”.

Outro caso é o live-action de Branca de Neve, que está com uma média de 1.5 no IMDb, uma das piores notas da história. Será que o filme realmente merecia isso ou foi alvo de um movimento de hate exagerado? Rachel Zegler foi alvo de ataques pessoais desde o anúncio do elenco, e a rejeição começou muito antes de qualquer pessoa ver o filme completo.

A polêmica não girou apenas em torno da qualidade do longa, mas também de mudanças na história, falas polêmicas da atriz e uma reação inflamada da internet. Quando se chega a esse ponto, fica difícil separar crítica legítima de boicote organizado.

O mesmo aconteceu com The Marvels, que sofreu críticas antes das sessões de imprensa acontecerem. De fato, o filme não agradou à maioria dos espectadores, mas até que ponto ele teve a chance de ser avaliado com imparcialidade? O linchamento virtual começou antes mesmo do lançamento, criando um efeito dominó. Quando algo já estreia com uma aura negativa tão forte, o público já entra predisposto a odiar.

E mesmo filmes aclamados não escapam desse fenômeno. Anora, grande vencedor do Oscar 2025, também enfrentou críticas e polêmicas antes e depois de sua vitória. A performance de Mikey Madison foi amplamente elogiada, mas também gerou reações controversas, principalmente pelo fato de sua personagem ser uma garota de programa.

Muitos questionaram a abordagem do filme e a representação da protagonista, enquanto outros atacaram a própria atriz, como se seu papel fosse uma extensão de sua vida real. Mas será que essas críticas vinham de um lugar sincero ou apenas da frustração de quem torcia para outro candidato?

Isso sem falar em Madame Teia, Coringa 2, Wonka, A Pequena Sereia e tantos outros. Produções que, por diferentes motivos, foram alvo de ataques coordenados, onde a crítica deixou de ser sobre o filme e passou a ser sobre discursos políticos, nostalgia ou simplesmente a necessidade de estar “do lado certo” da internet. Isso não quer dizer que todos esses filmes são bons ou que não merecem críticas, mas existe uma diferença entre análise construtiva e linchamento virtual.

Outro fator que influencia esse comportamento é o algoritmo das redes sociais. Plataformas como TikTok, X e YouTube alimentam bolhas de opinião, onde conteúdos negativos têm mais engajamento e, por isso, são mais promovidos. Um vídeo detonando um filme viraliza com mais facilidade do que um elogio sincero. Isso cria um ciclo vicioso em que o hate é recompensado com curtidas e visibilidade, enquanto opiniões equilibradas são deixadas de lado. Estamos mesmo formando opinião ou só querendo likes?

Além disso, a velocidade com que consumimos conteúdo hoje em dia também interfere. Maratonamos séries, assistimos trailers acelerados, lemos manchetes sem clicar na matéria. Nesse ritmo frenético, a reflexão vai embora, e o julgamento apressado vira regra. O problema é que, ao atropelarmos o tempo da análise, perdemos a profundidade. Será que não estamos tratando filmes e séries como fast food cultural, onde tudo que não agrada no primeiro minuto já vai direto pro lixo?

A pergunta que fica é: será que ainda sabemos criticar de verdade ou só seguimos o fluxo? Quando foi a última vez que você deu uma chance a algo antes de julgar?

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Texto escrito por: Sérgio Zansk

@cine.dende

cinedende.com.br

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