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Crítica: Mickey 17

Mickey 17 – Ficha técnica:
Direção:
Bong Joon-ho
Roteiro:
Bong Joon-ho
Nacionalidade e Lançamento: 
Estados Unidos, Coreia do Sul, 2025.
Elenco: 
Robert Pattinson, Steven Yeun, Michael Monroe, Patsy Ferran, Mark Ruffalo, Toni Collette.
Sinopse: 
Mickey 17 é um “dispensável”, que é um funcionário descartável em uma expedição humana enviada para colonizar o mundo gelado de Niflheim. Depois que uma iteração morre, um novo corpo é regenerado com a maioria de suas memórias. Mas algo diferente atrapalha tudo.

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Praticamente toda a ideia proposta pelo diretor coreano Bong Joon-ho em seu primeiro filme após o sucesso de “Parasita” se concentra em seus 10 primeiros minutos. “Mickey 17” começa com Mickey, personagem de Robert Pattinson, que participa de um experimento na qual ele é chamado de “descartável” e pode morrer e ter seu corpo reimpresso a todo momento. Na cena, ele está próximo de mais uma morte e rememora toda sua trajetória até chegar ali.

Porém, o grande chamariz da produção não se encontra na narrativa irônica sobre as transmutações e mudanças de corpos e sim no encontro com si mesmo. Isso porque o protagonista da trama é a 17ª impressão de Mickey. Porém, quando ele acha que vai morrer, acaba sobrevivendo e descobre, logo depois, que a 18ª impressão também foi feita – algo que é proibido.

A partir daí, a forma como Bong elucida os dilemas éticos e as tensões dramáticas do filme se concentram em enfatizar a comédia. Isso fica evidente em como ele abraça uma encenação praticamente em referência a Woody Allen, com seu personagem título declamando as memórias – que são revisitadas a partir das cenas anteriores –, na qual se transformam em uma compreensão profunda sobre a maneira como essa mesma figura aceitou tudo que ocorreu com ele.

Parte dessa consolidação dramática se concentra na relação dele com duas figuras: Berto (Steven Yeun) e Nasha (Naomi Ackie). O primeiro é, em teoria, o único amigo de Mickey, mas também o grande responsável por todo o sofrimento que ele passou nos últimos tempos. Já a segunda é sua namorada. Possessiva, ela é a única pessoa em que ele pode confiar.

A trama toda se passa não na Terra, mas em uma expedição especial – e é isso que constrói o entendimento narrativo. O local é um planeta gelado chamado Niflheim, em que algumas estranhas criaturas vivem. O motivo de estarem lá é que um político que perde todas as eleições resolve bancar a colonização desse ambiente novo. Kenneth Marshall (Mark Ruffalo) é uma figura totalmente autoritária e egocêntrica e vive sob os apelos de sua esposa, Gwen (Toni Collete).

Se a parte ainda mais escrachadamente cômica aparece com a dupla autoritária – e que flui o enredo para um caminho de mais ação -, o mesmo não pode ser dito do desenvolvimento dos dois. Aliás, nem mesmo de qualquer personagem secundário. Assim como muitos aparecem do nada, outros vão da mesma forma e quantidade de assuntos que Bong quer abordar parece não influir em conseguir dar conta de todos. Autoritarismo, entendimento sobre o ser, controle, relacionamento abusivo e mais, tudo está presente. No entanto, assim como tanto aparece, pouco sobra, como se fosse uma peneira.

Um exemplo bem claro disso está em cima da personagem Kai (Anamaria Vartolomei), que parece ser apenas uma figura criada para construir uma única piada. Depois disso, é descartada.

Parte dessa ideia do descarte entra na concepção cênica, visto que é como Mickey observasse, agora que sobreviveu, tudo ruindo a sua volta. Como se fosse essa a sua verdadeira morte, por assim dizer. Contudo, esse elemento também não passa de algo mais simples e que ressoa como um ponto bobo, em especial no grande clímax da produção.

No entanto, o maior apelo – e sua maior genialidade – se encontra na primeira hora de “Mickey 17”. É nesse momento que o filme consegue elucidar mais o próprio tema, em especial ao centrar todos os momentos sob o olhar do protagonista de Pattinson. Ele é alguém que, ao mesmo tempo, soa ridículo e sério e constrói, dentro desse cosmo do filme, alguém praticamente a revelia de tudo. Esse fato é o fundamental para que se faça sentido toda sua narração em off, que permeia boa parte desse momento. Ele, ao mesmo tempo que é ridicularizado pela narrativa, também é transformado no único individuo capaz de destruir o sistema, já que é alguém a margem dele.

Soa como Bong Joon-ho tivesse tanta paixão e interesse pelo universo maluco e os personagens que se perde na quantidade de temáticas que vão aparecendo. Isso, ao mesmo tempo que reforça o dinamismo da trama, também deixa ele mais atravancado, perdido até certo ponto.

Mesmo assim, ele ressoa mais quando consegue seguir um caminho próprio do protagonista, ao olhar apenas para ele como figura fundamental a esse cosmo. O olhar dele é o que constrói tudo e, quando o filme esquece disso, parece que não sabe o próprio caminho. O problema é que quando consegue se centrar completamente nessa trajetória, vira uma grande obra-prima. Entre um caminho e outro, ele fica no meio. Mas parece muito pouco.

Nota: 3/5

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