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Crítica: De Volta à Ação

De Volta à Ação – Ficha técnica:
Direção: Seth Gordon
Roteiro: Brendan O’Brien, Seth Gordon
Nacionalidade e Lançamento: Estados Unidos, 2025
Elenco: Jamie Foxx, Cameron Diaz, Kyle Chandler, Glenn Close, McKenna Roberts, Rylan Jackson.
Sinopse: Situado em um único quarto, ele acompanha as muitas pessoas que o habitam ao longo dos anos, do passado ao futuro.

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O título “De Volta à Ação” tem um caráter meio dúbio. Ao mesmo tempo que, obviamente, reflete a trajetória desses personagens retornando ao trabalho que haviam abandonado, também funciona sob a perspectiva de Cameron Diaz. A atriz, que fez extremo sucesso nos idos dos anos 2000, não participava de um filme novo há mais de 10 anos. A última vez foi com “Annie”, de 2014. Por isso, sua aparição aqui é uma espécie de “comeback” para a ação.

Porém, o longa se estabelece tanto ao seu passado que seus 15 primeiros minutos refletem o lado mais genérico do cinema de ação que se mistura com comédia. Três músicas pop praticamente consecutivas, personagens rasamente explicados e sequências de ação com mais cortes que sentido. Curioso que o diretor Seth Gordon coloque isso logo de cara para gerar a quebra e construir a força motriz do próprio filme: o relacionamento familiar.

Com ecos de Sr. e Sra. Smith, a trama acompanha o casal Matt (Jamie Foxx) e Emily (Cameron Diaz), dois espiões da CIA que, um dia, decidem abandonar a vida ao fingirem que morreram em um acidente. O motivo é nobre: Emily está grávida e eles não querem construir uma família desse jeito. Quinze anos depois, entretanto, um vídeo que viralizou dos dois lutando traz inimigos de volta e um objeto que, teoricamente, foi perdido após o acidente.

Gordon coloca a relação familiar desses personagens como grande mote para o desenvolvimento da narrativa. Os dois filhos do casal, Alice (McKenna Roberts) e Leo (Rylan Jackson), são figuras centrais na maneira como os pais se estabelecem com esse mundo da violência. Antes, praticamente apaixonados por ela. Agora, inebriantes, precisando reprimir esse mesmo desejo. Essa questão se faz até presente em um momento cômico na qual os dois jovens ouvem barulhos do quarto dos pais, imaginando que eles estão transando. Quando, na realidade, ambos treinam.

Além disso, há outro elemento familiar fundamental na história, que é a mãe de Emily, Ginny (Glenn Close), uma figura icônica do MI-6, o serviço de inteligência britânico. O roteiro constrói um espelhamento de relações, visto que nenhuma das duas filhas possuem bons relacionamentos com as mães. E os motivos são os mesmos: como o lado profissional escondeu uma conexão maior que poderia se ter.

“De Volta à Ação” transforma essa complexidade da família no grande lado dramático e cômico para o desenvolvimento, justamente, da ação. Seth Gordon já tentou, porém nunca foi exatamente um primor nesse sentido. Por isso, ela soa sempre genérica, simplista e rápida, até mesmo. Entretanto, o grande interesse do cineasta é na forma que ela ressoe para as mudanças no entorno desses personagens e suas próprias relações. O perigo de vida de um deles pode afetar na conexão com o outro?

A encenação do filme ainda reforça um aspecto meio pueril dessas relações, visto que se integra muito na maneira como os personagens são afetados. Ou seja, é muito mais uma câmera de reação do que propriamente de ação, transformando isso desde algo engraçado até mesmo mais sisudo. Esse elemento se encaixa bem em Nigel (Jamie Demetriou). Namorado de Ginny, ele é um protótipo dela para se tornar agente. Entretanto, é bobo e tem medo de praticamente tudo. Por isso, todas as suas ações giram em torno da forma como ele reage ao que acontece. Da mesma forma o casal protagonista, que nunca consegue realmente começar algo, planejar, sempre precisando reagir aos ataques.

Se “De Volta à Ação” funciona de uma maneira bem intensa e divertida, até mesmo, no micro, no macro soa sempre como um projeto extremamente bagunçado. As aparições de dois personagens que vivem em um limiar de vilões e parceiros são o reflexo disso. Tanto Baron (Andrew Scott), quanto Chuck (Kyle Chandler), soam sempre artificiais e fazem até mesmo trejeitos cômicos que em momento algum anterior havia sido desenvolvido. Como se praticamente fosse uma piada interna. Desse jeito, a própria narrativa chave para o filme se desenrolar é frágil, visto que pouco se explica, mesmo que o próprio desenvolvimento busque explicar superficialmente. Novamente, fica sempre em algo raso.

É impossível dizer que “De Volta à Ação” não é divertido. Longe de ser um dos mais genéricos do meio de comédia e ação, ele se suporta muito bem em sua veia dramática familiar. Entretanto, parece que para por aí. Poderia ser suficiente se a própria produção não buscasse também próprias explicações que nunca são verdadeiramente respondidas.

Ao fim de tudo, pelo menos dá para sorrir ao ver Cameron Diaz de volta.

Nota: 2/5

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