Crítica: Apocalipse nos Trópicos - 48ª Mostra de São Paulo - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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Crítica: Apocalipse nos Trópicos – 48ª Mostra de São Paulo

Ficha técnica – Apocalipse nos Trópicos
Direção: Petra Costa
Roteiro: Petra Costa
Nacionalidade e Lançamento: Brasil, 2024
Sinopse: Quando uma democracia termina e uma teocracia começa? O filme investiga o crescente controle exercido por lideranças evangélicas sobre a política brasileira. A diretora obtém acesso aos principais líderes políticos do país, incluindo o presidente Lula e o ex-presidente Bolsonaro, bem como um dos pastores mais famosos do Brasil —uma figura proeminente que parece manipular certos mandatários como fantoches.

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Novo filme da cineasta Petra Costa, Apocalipse nos Trópicos chega tentando analisar a relação entre a ascensão da extrema direita no Brasil e o crescimento das igrejas evangélicas e dos seus líderes ao poder. 

Como em suas obras Elena e Democracia em Vertigem, Petra narra tudo em primeira pessoa. Só que aqui, provavelmente por conta do seu próprio distanciamento da religião evangélica, a diretora produz um documentário bem menos pessoal que suas obras anteriores. 

Usando imagens de arquivo e entrevistas exclusivas, ela mostra a ligação direta entre líderes religiosos e sua promessa de um país com valores cristãos, e o projeto de poder que culminou com o Brasil elegendo Jair Bolsonaro. 

O longa não tenta fingir que não tem uma ideologia à esquerda. Petra nunca tentou esconder isso em suas obras. É um filme para esse público, mesmo que Silas Malafaia seja um personagem central. 

Dividido em partes que se ligam diretamente ao livro bíblico de apocalipse, o que encontramos em quase duas horas de projeção é uma análise superficial, apesar de um trabalho competente de registro e memória. Algumas das divisões são melhor desenvolvidas que outras, que claramente se perdem do seu foco. 

Talvez por Petra, como deixa claro em seu texto, nunca ter sido próxima do cristianismo, suas percepções e conclusões parecem aleatórias e distanciadas da realidade do povo. O filme nunca se aprofunda de fato em entender o povo evangélico e seus porquês, para além de seus líderes com projetos messiânicos. Isso em um país cheio de nuances socioeconômicas e culturais. 

Ainda assim impressiona a capacidade de Petra em adentrar locais inusitados e acessar os inacessíveis. E no nível que ela consegue. Aqui Silas Malafaia se torna um personagem central e se abre com a cineasta de forma impressionante, mostrando seus absurdos e contradições. 

O final parece um tanto quanto desconexo do resto da obra, o que traz um sentimento de anticlímax, mas é um documentário importante que exista.

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