O brasileiro precisa se ver representado na tela de verdade
Recentemente o ator Thiago Fragoso disse em uma entrevista que novelas não possuem mais espaço para homens brancos e heterossexuais. Antes parte do elenco da Globo, o ator agora está sem contrato fixo e sente na pele as dificuldades da profissão.
(imagem acima: cena da novela Renascer)
Só que apesar da instabilidade que a profissão traz, Thiago fala de restrições por conta do seu perfil de homem branco, loiro, de olhos claros e heterossexual. Será que essa reclamação condiz com a realidade?
Não vou nem me aprofundar na questão da orientação sexual, mas em um país essencialmente composto por pessoas não brancas é, no mínimo, questionável como a maioria das produções brasileiras possuem poucos personagens negros ou indígenas. Em 2023 foi a primeira vez que o país teve os três protagonistas das novelas da Globo sendo negros.
Nos últimos anos muito se tem lutado por mais espaço para pessoas não-brancas dentro do cenário audiovisual brasileiro. E uma representação que fuja dos estereótipos raciais que sempre foram usados em excesso e que prejudicam negros, indígenas e asiáticos.
Só que para que a nossa TV seja mais diversa e inclusiva, isso significa que mais espaço para pessoas não-brancas sejam abertos e consequentemente que a hegemonia branca diminua.
E estamos longe de ter uma lógica igualitária em nossa televisão. As novelas ainda mostram a maioria massiva dos personagens sendo brancos. Isso quando não reduzem os poucos personagens negros a coadjuvantes sem uma narrativa complexa ou que existem como um alívio cômico a partir da sua própria negritude.
Então é questionável quando um ator branco e padrão diz que não existe mais espaço para ele, já que basicamente o que se vê na televisão são pessoas exatamente como ele. E a qualquer mínimo movimento que traga mudança, que demonstra oportunidade de inclusão, logo o que se vê é o incômodo de pessoas brancas que sempre foram privilegiadas por conta da própria branquitude, achando que algo está errado porque o domínio diminuiu nem que seja um pouquinho.
A TV brasileira tem muito o que mudar. Já passou da hora das narrativas serem diferenciadas. Não faz sentido em 2024 que o espaço seja ocupado basicamente por brancos contando histórias de pessoas brancas. Isso não é o Brasil. E o brasileiro precisa se ver representado na tela de verdade.