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Crítica: Twisters

Ficha técnica – Twisters
Direção: Lee Isaac Chung
Roteiro: Mark L. Smith, Joseph Kosinski, Michael Crichton, Anne-Marie Martin
Nacionalidade e Lançamento: Estados Unidos, 2024
Elenco: Daisy Edgar-Jones, Glen Powell, Anthony Ramos, Brandon Perea, Maura Tierney, Harry Hadden-Paton.
Sinopse: Kate Cooper é uma ex-caçadora de tempestades assombrada por um encontro devastador com um tornado durante seus anos de faculdade. Estudando os padrões de tempestades nas telas, em segurança na cidade de Nova York, ela é atraída de volta às planícies por seu amigo, Javi, para testar um novo sistema de rastreamento. Lá, ela cruza seu caminho com Tyler Owens, o carismático e imprudente ícone das redes sociais que se diverte postando suas aventuras de caça a tempestades com sua equipe barulhenta
.

Lembro da primeira vez que alugamos Twister (1996) ainda em VHS. Eu só não lembro qual idade tinha, mas claramente as sensações ainda estão vivas na minha memória, e ao rever recentemente, as mesmas sensações se repetiram. São cenas icônicas: as vacas voando, o tornado destruindo o cine drive-in que estava exibindo O Iluminado (1980) na exata cena que o personagem do Jack Nicholson arrebenta a porta com o machado, etc. Mas diferente do primeiro filme, “Twisters” de 2024 não tem nada marcante para apresentar, é apenas um reboot regular, divertido e mais melodramático que seu o antecessor lançado há quase 30 anos.

É curioso Hollywood ter demorado tanto tempo para reviver esse filme, pois ele oferece o que há de mais interessante no cinema de catástrofe: destruição, melodrama, mensagens ambientalistas rasas e sobrevivência – sou fã confesso do cinema catástrofe, inclusive dos filmes do quase-conspiracionista Roland Emmerich, que ultimamente não anda muito inspirado. Mas diferente dos filmes de Emmerich, “Twisters”apresenta uma trama relativamente substancial que é pouco marcante; atualiza a trama com uma brincadeira espertinha com o utilitarismo da internet; explora o triângulo amoroso com mais intensidade que o primeiro, mas não alcança o charme que o antecessor carregava.

“Twisters” tem direção de Lee Isaac Chung, revelado por seu drama independente Minari (2020), em que as qualidades marcantes do diretor ficam evidentes, como o drama intenso no relacionamento dos personagens, a fotografia contemplativa com planos abertos de paisagens e a ambientação familiar interiorana. Essas qualidades se repetem em “Twisters”, em que os tornados ficam relativamente de lado por um tempo, para dar espaço ao desenvolvimento do trio composto por Tyler Owens (Glen Powell), Javi (Anthony Ramos) e Kate Carter (Daisy Edgar-Jones), e tudo isso embalado por uma trilha sonora country pop grudenta e genérica.

Glen Powell é atualmente o destaque promissor de Hollywood, apenas nesse ano, o novo galã tem no currículo o excelente Assassino por Acaso (2023) e a comédia romântica Todos Menos Você (2023), ambos filmes de grande repercussão entre crítica e público. Glen Powell não é um ator versátil, mas é carismático o suficiente para sustentar um filme no papel de um cowboy caçador de tornados, que exibe suas façanhas no Youtube e parece ser um tanto maluco, fazendo isso apenas pela diversão. Daisy Edgar-Jones, é mais competente do que sua dupla, encarnando uma meteorologista que passou por uma grande tragédia e que é convocada por seu amigo Javi – que sobreviveu com ela na tragédia passada – para trabalhar no mapeamento dos trajetos dos tornados.

É uma premissa simples em que o diretor se sai bem, e é muito ajudado pela evolução dos efeitos visuais na construção da tragédia e seus impactos. As cenas de destruição são bem dirigidas, a escala da catástrofe é bem delimitada, e existe uma preocupação dos roteiristas Mark L. Smith e Joseph Kosinski, em aprofundar os impactos na vida dos moradores afetados, incluindo, ainda que perifericamente, um debate sobre especulação imobiliária, criando a deixa para Lee Isaac Chung construir o drama com mais intensidade e trabalhar os conflitos e interesses românticos do trio principal.

No filme de 1996, os “vilões” eram os concorrentes de tecnologia que não apresentavam tanta ameaça, aqui, o vilão é mais evidente, os “concorrentes” dos cowboys trabalham para um especulador imobiliário que age assim que os moradores são atingidos, aproveitando da fragilidade para fazer negócio. Javi trabalha para esse especulador, e Kate, sem saber, acaba ajudando no projeto influenciada pela amizade pregressa com Javi. Essa trama, um pouco desarticulada, parece existir apenas para mais tarde acompanharmos a redenção de Javi que se juntará a Tyler e Cate – já formando um tímido casal – para salvar a vida de algumas pessoas na próxima tragédia. É difícil comprar essa mudança de perspectiva, já que o que gira em torno dessa construção é uma ganância pouco desenvolvida, mas confesso que não faria muito sentido desenvolver esse arco, logo, acaba sobrando como um obstáculo simplório que precisaria de mais tempo para ter substância.

Existe, ao que parece, uma inspiração “Spielbergiana” em priorizar a reação antes de mostrar a ação, o retorno mágico aos sonhos esquecidos, a humanização do personagem masculino que se apresenta durão, mas no fundo é uma boa pessoa e merece o amor da protagonista, além é claro da luz direta criando brilho até nos momentos escurecidos, o que combina bem com a intensidade de trovões e relâmpagos. Steven Spielberg é produtor do filme junto com sua empresa a Amblin Entertainment, isso talvez explique alguma coisa. Apesar dessas belezas e claras inspirações, ainda falta uma elaboração mais consistente para certificar a marca da direção – que pode ser por falta de experiência em trabalhar com filmes de grande escala e alto orçamento – mas ainda assim é um trabalho decente.

“Twisters” escolhe conscientemente deixar de lado o espetáculo da ação com os tornados, ainda que o faça com sobriedade, e dá espaço para o triângulo amoroso melodramático bem mais acentuado, evidenciando a personalidade do diretor. Porém, Lee Isaac Chung não consegue, na ação, criar momentos marcantes para um registro mais internalizado, diferente do seu antecessor, em que o diretor Jan de Bont conseguiu trabalhar a intensidade e urgência da proposta. É difícil não comparar os filmes, pois ambos seguem as mesmas estruturas, e o recém-lançado se utiliza de muitas referências em forma de homenagem. De todo modo, isso não invalida as qualidades, mas também não apresenta nada novo, é morno a ponto de ser possível se divertir e pouco empolgante para se importar.

  • Nota
3

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