Crítica (2): MaXXXine
Ficha técnica – MaXXXine
Direção: Ti West
Roteiro: Ti West
Nacionalidade e Lançamento: Estados Unidos, 2024
Elenco: Mia Goth, Charley Rowan McCain, Simon Prast, Deborah Geffner, Daniel Lench, Elizabeth Debicki.
Sinopse: Nos anos 1980, a estrela de cinema adulto e aspirante a atriz Maxine Minx recebe sua grande chance, mas com um assassino perseguindo as estrelas de Hollywood, um rasto de sangue ameaça revelar seu passado sinistro.
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Um dos meus filmes mais aguardados do ano foi, também, uma das maiores decepções que eu tive em uma sala de cinema. Encerrando a trilogia de Ti West, “MaXXXine” se une a “X – A Marca da Morte” e “Pearl” sem, contudo, alcançar o mesmo patamar de qualidade de seus antecessores (que por sinal, também não são grandes obras-primas). De Brian de Palma a Hitchcock, de gialli a slashers, West transparece um grande fã do cinema de horror, mas não sabe dosar nem destacar suas referências, esvaziando-as repetidamente e criando uma farofa que, no final, não tem o menor tempero.
Dos fatores que mais me incomodam nesse filme o principal é a forma como o diretor lida com a sua protagonista. Se a Maxine de “X – A Marca da Morte” é uma final girl formidável, a Maxine do filme homônimo é uma personagem de atitudes passivas, incongruentes com a sua determinação em se tornar uma grande estrela hollywoodiana – e sua determinação em sobreviver à esse mundo, também. Anulada de seu próprio filme, é possível contar nos dedos de uma só mão as vezes em que a personagem se parece com aquilo que o universo fílmico da trilogia havia construído sobre ela.
Para ser mais exata, há apenas uma cena no filme, bastante marcante por sinal, em que Maxine toma o controle de sua narrativa de volta: a cena em que esta é encurralada por um maníaco em um beco. Um personagem que, por sinal, aparece rapidamente e desaparece da mesma forma, sem o menor contexto dentro do filme. A única ideia mesmo é persuadir o espectador em acreditar que este se tratava do assassino em série, “The Night Stalker”, da subtrama mal elaborada e pouquíssimo interessante que corre em paralelo com a promessa de ascensão da protagonista na indústria.
A tentativa de ser um whodunit é tão falha, especialmente por conta das escolhas preguiçosas do roteiro, que se torna cada vez mais irrelevante saber quem é esse assassino (embora grande parte da audiência já consiga saber quem é desde pelo menos a metade do filme). A dupla palerma de policiais e as personagens que são vítimas deixam o incômodo ainda maior, o que em determinado momento me fez implorar pelo sumiço abrupto do assassino seja ele quem fosse. O filme tem tão pouca confiança em si mesmo que mesmo depois de dar ênfase à mesma frase três vezes, ainda utiliza o recurso do flashback sem a menor necessidade, como se chamasse seus espectadores de limitados (ou desatentos). Quando ao fim e ao cabo, a limitação mora no próprio filme.
Toda bagunça e descaso, especialmente quanto à trama, endossada pela pouca imaginatividade da direção acabam culminando em um final no mínimo insatisfatório, completamente inócuo em seu discurso sobre moralismo em Hollywood uma vez que, inclusive, o filme inteiro dedica-se muito pouco à expor o tema ou mesmo abordá-lo por meio de suas escolhas formais. Não existe sexo, não existe nudez e não existe tesão. Praticamente não existe nem a MaXXXine. Portanto qual seria a razão de um clímax cujo tema ao espectador pouco interessa?
Ainda penso que até a própria MaXXXine ser posta nessa posição de super-heroína pelo filme, nesse ideal “oitentista” que tenta construir para si mesmo em determinado momento, é jogar a coerência interna da personagem e da trilogia, como um todo, pela janela. Em qual universo sua personagem deveria se importar com suas concorrentes sendo eliminadas? Até onde sei é possível pensar que esse era até o desejo da protagonista. Em suma, minha crença é de que Ti West esqueceu que para fazer um bom filme, seja lá qual gênero, não basta apenas boas referências e esparsos bons momentos. Para mim, “MaXXXine” é um filme estéril, refém de suas próprias enrascadas e limitado até o último frame. Incapaz de seguir suas tramas e subtramas com paixão e coerência, transformando-se em uma sátira de si mesmo fadado a ser esquecido com o passar do tempo.