Filmes do Batman de Joel Schumacher e revisionismo no cinema
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Pensando sobre os filmes do Batman de Joel Schumacher e revisionismo no cinema

Estive esses tempos com pessoas revendo Batman: Eternamente (Batman Forever, 1995) do Joel Schumacher e, comentando o filme na Internet, levantou-se um debate sobre o “revisionismo” desse filme e de outros filmes. Pessoas revoltadas com outras pessoas simplesmente gostando de filmes que elas não gostam como se isso fosse algum absurdo ou um crime ou algo impossível, o que é bastante autoritário, infantil e limitante. Sempre acho muito bobo acusar qualquer opinião positiva atual sobre um filme que foi criticado negativamente no passado ou uma opinião negativa sobre um filme que foi criticado positivamente no passado de “revisionistas” como se esse termo, que cabe em discussões históricas e de acontecimentos factuais, coubesse em discussões artísticas e de opinião. Não cabe e não faz sentido. É um termo que não serve pra discussões artísticas e percepções sobre construções de obras artísticas. Desde o princípio do cinema sempre existiram pessoas que fizeram revisões de avaliação e interpretações de filmes do passado indo contra a maneira que eles eram vistos. O cinema permite isso e se constrói a partir disso. Faz parte do pensamento cinematográfico, do debate cinematográfico e da atividade critica se recuperar e trazer novas visões de autores do passado e obras do passado. Assim como fazer parte questionar e trazer novas percepções (negativas) sobre outros, como faz parte questionar “unanimidades” do momento e exaltar injustiças que são percebidas. O cinema se constrói a partir dessas coisas.

É revisionismo também o Bernard Tavenier – cineasta e cinéfilo francês – repensar parte dos filmes franceses que eram detonados pela Nouvelle Vague, é revisionismo a própria Nouvelle Vague repensar autores estadunidenses desprezados em seus países, é revisionismo o Peter Bogdanovich – crítico de cinema e cineasta – nos Estados Unidos recuperar a obra de diversos autores como o Howard Hawks o tratando como um grande artista e rebatendo a ideia que o Orson Welles “se perdeu depois de Cidadão Kane”, é revisionismo o João Bénard da Costa – crítico português – dedicar um texto exaltando um cineasta como o Richard Fleischer (subvalorizado na época em que atuou como diretor), quando o Carlos Reichenbach falava que um filme de gladiador italiano poderia ser tão bom ou melhor que um filme do Bergman, quando o Inácio Araújo defendia Tropas Estrelares e Showgirls na Folha de São Paulo ou existirem novas percepções de filmes e autores como Paul Verhoeven, John Carpenter, Brian De Palma, Tony Scott, Michael Cimino, o próprio Carlos Reichenbach, William Friedkin e diversos outros? Tendências de cinema como a chanchada e a pornochanchada passaram por uma reavaliação de críticos, profissionais da área, pesquisadores e estudiosos separando o joio do trigo na visão deles e recuperando obras e artistas desses períodos. Revistas de cinema como o Contracampo trouxeram outras visões a cineastas rejeitados como o Neville d’Almeida, que hoje tem muitos admiradores.

Não existe revisionismo no cinema quando estamos falando de opiniões sobre obras e análises sobre elas. Existe o revisionismo histórico de informações erradas sobre a produção de um filme, o lançamento dele, a recepção dele na época e por aí vai. Mas sobre a visão da pessoa que está vendo e avaliando o filme hoje em dia isso não existe. Filmes que foram mal falados na época do seu lançamento e que foram fracassos podem ser reavaliados sempre, como filmes que foram elogiados, premiados e foram sucessos podem ser detonados. O André Bazin, um dos maiores críticos que existiram, já fez textos com críticas negativas ao Alfred Hitchcock e questionando o nível dele como cineasta e dizendo que o cineasta William Wyler era melhor que ele. Enquanto seus pupilos como Truffaut, Godard, Jacques Rivette, Eric Rohmer e Claude Chabrol faziam textos apaixonados pelo cinema dele e em sua maioria desprezavam o Wyler. Enquanto críticos como os próprios Godard e Rivette, além de outros como o Dave Kehr, desprezavam figuras amadas como o Steven Spielberg por exemplo.

Existir um movimento de reavaliação e questionamento não te faz ter que concordar com ele, com todos eles, com tudo neles e isso sempre vai ser variável. Assim como não existe uma “unanimidade” sobre a opinião geral de filmes que deve ser seguida. O pensamento cinematográfico é feito a partir também da divergência, do debate, das diferenças de visões, das disputas de percepção e da troca saudável disso. Por mais que existam elementos objetivos que fazem um filme bom ou ruim – direção, roteiro, decupagem, fotografia, direção de arte, montagem e por aí vai – a organização desses elementos e como ele se conectam numa unidade ou numa construção é sempre completamente subjetiva e pessoal da percepção de cada pessoa. Por isso um filme do Paul W.S. Anderson – pegando um exemplo já manjado – pode ser visto como objetivamente horroroso para alguns, mas para outros pesquisadores e críticos ele é visto como um cineasta extremamente habilidoso e talentoso. Porque ele constrói a sua ação de um modo não tradicional e grosseiro dentro dos critérios objetivos do que é a “boa ação”, mas demonstra um domínio e um foco em como se constrói isso, em como se utiliza desses elementos para tornar as suas ideias mais imaginativas, mais potentes e se utiliza de uma dramaturgia muito direta e apenas funcional para chegar no impacto das imagens que ele constrói que tem uma coerência com a unidade de tudo que faz. Então por mais que os critérios técnicos sejam objetivos, a maneira e habilidade que esses critérios são manipulados pelo diretor e pela sua equipe para chegar numa unidade e num objetivo final sempre são subjetivos. Assim como é subjetiva a força disso, a aplicação disso e o impacto disso.

E tudo é variável e nada precisa ser extremo. Tem cineastas divisivos ou detonados que eu amo, que eu acho injustiçados e que eu defendo como o M. Night Shyamalan, o Paul W.S. Anderson e por aí vai. Como tem cineastas que são divisivos ou detonados que eu não gosto ou desprezo como o Zack Snyder e outros. Tem filmes tanto de agora ou do passado que eu acho que de fato foram injustiçados como Matrix Ressurections ou o Exorcista 2 do John Boorman por exemplo, assim como tem filmes que simplesmente são ou continuam ruins e fracos na minha visão como Mulher–Gato ou Cats. Da mesma maneira tem cineastas que são aclamados que eu acho extremamente questionáveis como o Christopher Nolan ou o Yorgos Lanthimos, e outros que eu também amo como o Paul Thomas Anderson. Tem filmes que a maioria das pessoas amam que eu não acho tudo isso ou não gosto, como tem filmes que a maioria das pessoas não gostam ou odeiam que eu gosto ou amo. Prefiro o Paul W.S. Anderson ao Christopher Nolan, ao Yorgos Lanthimos ou Denis Villeneuve, acho ele melhor cineasta genuinamente que qualquer um desses e consigo dar motivos pra isso com argumentos objetivos dentro de uma lógica subjetiva, mesmo eles sendo no geral mais aclamados numa esfera geral, porém prefiro o Paul Thomas Anderson, o Martin Scorsese e outros a ele. Não prefiro ele a esses que eu citei pra fazer um tipo, mas sim porque acho ele genuinamente melhor que esses exemplos, que eu acho muito limitados, mas por terem uma embalagem de “bom gosto” são automaticamente percebidos como “melhores”, ao invés do Paul W.S. Anderson que por estar na embalagem de “grosseria” é visto como “pior” mesmo tendo um domínio cinematográfico mil vezes superior na minha visão. E tudo é variável. Não é porque um filme é majoritariamente mal falado, que eu vou gostar dele pra ser “diferentão”, e nem o contrário. Essas coisas variam e tem que acontecer naturalmente. Agora não existe um “certo” absoluto no cinema, verdades absolutas e filmes que são “ruins” e “bons” de maneira inquestionáveis.

Não existe unanimidade nem no próprio meio do cinema e da crítica: um bom exemplo recente foi o MaXXXine do Ti West, um filme que muitos colegas gostaram bastante e outros como eu acharam fraquíssimo. E ambos podem ter boas razões e argumentos para as duas coisas. Como é possível ter razões ruins e argumentos ruins para as duas coisas. É possível inclusive se fazer uma defesa de qualquer filme assim como é possível se questionar negativamente qualquer outro também, o que vai validar a sua opinião é o embasamento dos seus argumentos e a maneira com que você os constrói. É possível numa outra percepção se criticar negativamente como cinema um filme que eu julgo como perfeito tipo Fogo Contra Fogo (1995) do Michael Mann, meu filme favorito. Assim como é possível defender como cinema um filme tipo O Pequenino por exemplo. A grande questão é que você vai ter que embasar muito e construir de modo muito forte a sua linha de pensamento, os seus argumentos e a sua visão para não parecer que está querendo ser só um “provocador”, um “diferentão” e que a sua opinião é meramente baseada em achismo. O Ruy Gardner por exemplo, excelente crítico, tem um texto na Contracampo defendendo o primeiro Vovó Zona como cinema e é um texto extremamente bem embasado de um ótimo crítico.

Sou contra a ideia de “guilty pleasures”, acho que se eu gosto de um filme é porque ele é bom em algum nível e eu percebo alguma coisa boa na construção dele e organização dele que me impacta, que valha uma defesa em diferentes níveis, e não ter medo de arcar com a minha visão. Não acredito nisso de “eu não gosto, mas é bom” e “eu gosto, mas é ruim”, isso sempre é condicionamento dentro dessas ideias fechadas e mais conservadoras do que é “bom” e “ruim” como se existisse isso absolutamente. Porque também tem outros fatores: filmes são bons e ruins em diferentes níveis e impactos. Você pode achar um filme bom e ter várias ressalvas a ele, assim como você pode achar um filme ruim e ver qualidades nele. Óbvio que também existe um certo extremismo em quem é totalmente contra a ideia de “guilty pleasures”, no sentido que óbvio que o conceito de “guilty pleasures” é uma bobagem gigantesca, mas também é obvio que existem filmes que não são bons como cinema, que são fracos ou ruins, mas nos sentimentos algum carinho por eles, alguma simpatia, por uma relação de nostalgia ou porque percebemos coisas isoladas neles que gostamos ou achamos divertidas mas o todo não é bom, percebemos isso e nem por isso gostamos dele ou achamos bons. Filmes ruins podem causar uma certa diversão (até involuntária) e continuarem ruins. Tenho carinho pelos filmes do Garfield, mas vendo hoje em dia é impossível não achar eles ruins para mim. Da mesma forma que existem filmes como Looney Tunes: De Volta a Ação e parte dos filmes da franquia Todo Mundo Em Pânico que eu consigo defender facilmente como cinema independente desses sentimentos. E por aí vai.

Mas e aí chegamos no assunto principal: os filmes do Batman do Joel Schumacher são injustiçados? Depois de rever ambos, para Batman Eternamente eu diria que sim. Para Batman e Robin infelizmente não, apesar de achar ele longe da completa porcaria que dizem que ele é, mas é um filme ruim de fato. Batman Eternamente é perfeito? Não. Mas as qualidades dele são muito maiores que os defeitos na minha visão e no saldo geral, diferente do Batman e Robin. O roteiro de Batman Eternamente é bem formulaico encaixando os personagens num fiapo de história que só existe para estabelecer a nova aventura do Batman e ir conectando os personagens com ela de uma maneira bastante corporativa. As soluções e desenvolvimentos são preguiçosos nesse sentido, mesmo que o filme amarre bem as questões emocionais dos personagens – Bruce tendo que lidar com Dick percebendo nele o seu trauma – e suas interações que vão se estabelecendo com o tempo para caracterizar quem eles são psicologicamente e emocionalmente.

É um filme que ao mesmo tempo lida com a estrutura da caracterização dos filmes de Tim Burton (que começou a produção, mas saiu e ficou só como produtor), mas também lida com os desejos e interferências da Warner que queria um filme mais “vendável”, mais espetaculoso, mais aventuresco e mais leve para que ele tivesse mais sucesso em vendas de brinquedos e por aí vai. O resultado foi atingido: o filme foi um sucesso imenso de bilheteria e diferente do que as pessoas fazem parecer, a recepção dele na época não foi negativa, foi uma recepção de positiva pra mediana. A avaliação negativa do filme só surgiu depois da recepção ruim de Batman e Robin com as pessoas reavaliando esse filme (olha aí o revisionismo surgindo de novo, só que agora é o revisionismo permitido pelas pessoas que o criticam porque elas concordam com ele). Joel Schumacher, que vinha de sucessos da época e era uma figura constante nas produções da Warner, queria um filme que mais pesado, mais sombrio e que tivesse um foco num estudo psicológico das questões mentais conturbadas do Batman/Bruce Wayne. Isso está no filme em alguns momentos solos com o Val Kilmer, dele com a Nicole Kidman revivendo suas memorias e com o fato da personagem ser uma psicológica atraída pela loucura do Batman/Bruce Wayne, mas nunca é plenamente desenvolvido porque foi uma trama extremamente cortada pela Warner e que acaba sendo suprimida pelo lado mais mercadológico do filme.

Então o que me faz gostar muito de um filme tão quebrado assim? O fato que o que eleva Batman Eternamente é o Joel Schumacher conseguir usar essas bases e essa dramaturgia pra construir um filme que une de maneira hipnotizante e muito bem mesclada diferentes tons e vertentes recheando isso de coisas interessantes sendo essa grande viagem puramente aventuresca por uma ambientação cyberpunk misturada com cenários ultra cartunescos, operísticos e grandiosos (que muito mais lembram Dick Tracy do que a Gotham City expressionista e gótica do Tim Burton mostrando que ele dá um direcionamento totalmente diferente a proposta anterior) que é marcada por um jogo de iluminação de cores hiper estilizadas, do verde do Charada, o azul na recriação da origem do Bruce Wayne (cena fantástica) e o brilho amarelo no rosto de Val Kilmer que muda ele de lugar na cena. É um filme saboroso de se olhar com as suas criações visuais. Até a personagem da Nicole Kidman que graças as imposições se estúdio se torna só a interesse romântico protocolar acaba ganhando uma força a mais na sensualidade latente que Schumacher coloca no filme todo fazendo que o tesão entre ela e Val Kilmer seja bastante explosivo (diferente da sensualidade do Burton que é algo muito mais bizarro e amalucado no seu mundo fabulesco). O homoerotismo está lá latente em momentos de pura caracterização como a apresentação da família do Robin e as vestimentas do Chris O’Donnell.

Toda a construção visual de plasticidade do filme, os figurinos extravagantes/carnavalescos em choque com outros mais classudos, retrôs e a direção de arte são aproveitados em como os planos e enquadramentos expansivos do Schumacher vão te emergindo naquela aventura e de como o Batman/Bruce Wayne reage a esse mundo fora do padrão ao redor dele – se sentido deslocado de tudo e todos –  enquanto Val Kilmer está perfeito como o playboy milionário Bruce Wayne (talvez o melhor que já tivemos nesse sentido de caracterização) e faz bem o homem sério e atormentando no meio de toda essa loucura com ele dividido entre a responsabilidade e a dualidade das duas identidades que carrega, mostrando que mesmo minimizado o Schumacher ainda assim conseguiu colocar algo da ideia original dele. Existem outros problemas como as cenas de ação preguiçosas como são as de qualquer filme do Batman tirando o do Matt Reeves que é o único que tem foco pra isso e é interessado nisso, as cenas jovens “radicais” do Robin que estão lá só pra se somar a uma formula imposta da época, o ato final é ultra protocolar num embate de heróis e vilões feito do modo mais genérico possível, assim como é o plano deles, o Jim Carrey começa fazendo o mais do mesmo dele sem nenhuma particularidade totalmente fora de controle até que ele brilha no ato final quando absorve por completo a energia queer e homoerótica que o filme tem, o Tommy Lee Jones está sobrando não convencendo ao fazer uma imitação do Coringa do Jack Nicholson sendo que ele é o extremo oposto de tipo de ator que o Jack Nicholson é até chegando ao ponto que o Duas Caras se torna um capanga em grande parte do final, mas tudo isso está dentro de uma construção tão própria e com um olhar de construção de universo tão poderoso que se tornam detalhes bem “menores”.

Muitos comparam essa versão do Schumacher como uma “homenagem da série de TV do Batman“, mas não tem nada a ver (o Batman e Robin sim abraçaria isso de vez): só existe essa ligação pelas duas fazerem abordagens de humor e apresentarem um Batman queer, mas enquanto a série dos anos 60 vai pra um humor de gags, de sarcasmo fino e de autoconsciência, esse filme vai pra algo muito mais extravagante e exagerado na sua construção farsesca do mundo de super heróis. Batman Eternamente é algo muito mais único e muito mais particular. Diferente do Batman Eternamente que se equilibra entre uma farsa, um filme de aventura e um filme sobre o Batman em crise, Batman e Robin que saiu em 1997 se assume totalmente como uma comédia camp e espalhafatosa sendo muito mais próximo de uma emulação da série dos anos 60 com a sonoplastia, os diálogos espetinhos e o Comissário Gordon vestido como o chefe de polícia da série do Adam West. O problema é que enquanto o filme de 1995 é muito imaginativo em se equilibrar entre esses tons contrastes, esse de 1997 falha muito em se estabelecer nesse tom único. Claro ainda temos a ambientação caprichada dos cenários ultra cartunescos e grandiosos, a iluminação colorida hiper estilizada e a direção de arte extravagante mas o problema é que a direção do Schumacher se utiliza de tudo isso de uma maneira muito mais mecanizada, comum e plana na decupagem e na utilização da construção das cenas, que parecem vindas de uma série de super herói genérica dos anos 90 com muito mais orçamento e valor de produção mas com a mesma falta de inspiração.

Até o aspecto sensual e homoerótico do filme parece muito mais travado e banalizado por mais que esteja espelhado por mais lugares, diferente do Eternamente (que tem isso de forma muito mais pontual, mas é muito bem-sucedido e forte em se utilizar disso), justamente por quão superficial e protocolar é a utilização disso parecendo só mais uma coisa entre tantas. Não existe mais aquele vigor formal e inteligência de se aproveitar de todos esses elementos grandiosos que o Batman Eternamente possui em como decupar a cenografia grandiosa e estilosa. Tudo é uma extravagância banal e mais totalmente corporativa. As cenas de ação que já eram fracas no filme anterior, ficam ainda mais preguiçosas, porque não existe uma encenação que torne com que elas sejam compensadas. É um filme muito vazio em que os personagens só conseguem se comunicar por piadas e trocas de diálogos juvenis e bobas que ficam cansativas, onde eles são jogados na trama de modo preguiçoso e protocolar sem nenhum desenvolvimento. A Batgirl por exemplo e tudo que envolve ela é totalmente jogado no filme e deslocado do resto dele desde do seu papel como sobrinha do Alfred, a sua vida dupla como motoqueira até a sua transformação é o caso mais gritante disso), onde questões da trama e dos personagens parecem totalmente esquecidas (como o Robin interessado na Batgirl ou não querendo ser visto só como uma parceiro) até voltarem sem peso pra serem esquecidas de novo e o roteiro ruim do péssimo Akiva Goldsman só existe como desculpa para acumular personagens que são nada além de bonecos de aventura vendáveis numa aventura genérica com batidas genéricas do gênero.

O arco do Mister Freeze é muito atrapalhado por essa falta de desenvolvimento e a péssima escalação do Arnold Schwarzenegger completamente constrangedor no papel. Até existem momentos engraçados que o filme se aproveita do seu tom, mas é tudo mais vergonha alheia e bagunçado do que qualquer outra coisa. A Uma Thurman é a melhor atriz do filme compondo bem essa caricatura de diva da comunidade LGBT, e por mais que ele não se aproveite bem da sua construção visual, a teatralidade queer da visão do Schumacher continua muito prazerosa de ser vista mesmo ficando no uso mais monótono dela. Porém um dos principais problemas é o George Clooney mesmo, que além de estar totalmente desinteressado e blasé como protagonista, tem o pior Batman/Bruce Wayne em mãos. Não existe nada de particular ou de personalidade ou de específico no seu Batman para além dele ser o Batman e seguir de modo esquemático o que é estabelecido dentro do roteiro. O Clooney está péssimo, o Batman/Bruce Wayne deles são os piores possíveis, os mais genéricos e até o único traço específico que é a sua ligação emocional com o Alfred e o drama de lidar com a sua trama não é desenvolvido plenamente, parece um protocolo de roteiro e acaba sendo totalmente indiferente emocionalmente apesar da boa atuação do Michael Gough que é travada por esses fatores. Por esses fatores esse não é um filme que ao ser revisto por mim entrou no meu radar do revisionismo. Diferente do Batman Eternamente. Mas pode entrar no de outras pessoas que discordem de mim, assim como eu posso discordar elas. E aí jogados esse debate para frente, que é o grande valor do cinema. Não achar que as pessoas têm que ter as mesmas opiniões obrigatoriamente sobre filmes, exaltando e detonando sempre apenas os mesmos filmes.

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