Crítica: A Mensageira - Olhar de Cinema 2024 - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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Crítica: A Mensageira – Olhar de Cinema 2024

Ficha técnica – A Mensageira
Direção: Cláudio Marques
Roteiro: Cláudio Marques
Nacionalidade e Lançamento: Brasil, 2024 (Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba)
Sinopse: Em cumprimento ao seu trabalho como oficial de justiça em Salvador, Íris entrega mandados e, muitas vezes, se vê forçada a executar ordens que vão diretamente contra aquilo em que acredita. O ofício a atormenta. Um dia, com o desaparecimento de um militante depois da execução de um mandado entregue por ela, a oficial passa a investigar o crime e se vê envolvida na descoberta de um grande esquema de grilagem de terras.

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Com temática interessante e urgente dentro do Brasil, o filme A mensageira traz no seu centro Iris (Clara Paixão), uma oficial de justiça negra de Salvador que é encarregada de despejar os mais diversos tipos de pessoas. Por mais que cumpra ordens dos seus superiores ela, pouco a pouco, vai se incomodando com seu trabalho que a obriga a fugir dos seus valores. Até que um dia, após a execução de um dos seus mandados, um ativista negro some e Iris começa a investigar as razões por trás do desaparecimento. Com isso ela vai refletindo sobre sua ancestralidade, o seu papel como mulher negra oficial de justiça e o próprio sistema, que não é tão justo como deveria ser.

Aqui Salvador é em preto e branco, melancólica e sem vida, o oposto da realidade acolhedora da cidade baiana que emana energia. Tudo é vazio, as relações parecem secas, distanciadas. Nada aqui é verdadeiramente realista. Os diálogos são robóticos, de uma artificialidade que chega a incomodar. Na verdade, até a razão de aspecto do filme é pensada para causar desconforto no público. O formato mais quadrado da tela faz com que os personagens pareçam espremidos. Em especial Iris, que quase sempre é deixada no canto da tela. Junte a isso os longos pesadelos que a protagonista tem, cheios de simbologia beirando uma lógica surrealista e se perceba perturbado.

O longa não é sutil nos seus mecanismos. Faz questão de deixar claro que Iris, apesar do seu nome, é cega para o sistema do qual faz parte. Não percebe como é usada por pessoas brancas e como seu distanciamento da própria ancestralidade a deixa frágil dentro dessa estrutura. A discussão dentro da obra é válida, mas apesar dos recursos visuais para torná-la metafórica, todos os significados são bem óbvios. 

O problema em A Mensageira é que depois que o problema é colocado tudo começa a se repetir e torna-se cansativo. O filme já traz uma proposta mais lenta e fria, mas quando passamos a ver pesadelo atrás de pesadelo trazendo a mesma mensagem que já foi dada anteriormente fica enfadonho.

É um longa que tinha tudo para ser excelente, já que traz uma crítica pertinente sobre o nosso sistema judiciário, além de trazer elementos visuais interessantes, mas a verdade é que o filme se perde em seu próprio virtuosismo e nas repetições dentro de suas 2h20.

  • Nota
2.5

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