Filmes de mulheres: necessidade ou mi-mi-mi? - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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Filmes de mulheres: necessidade ou mi-mi-mi?

Tenho visto muitos filmes dirigidos por mulheres. Não é que normalmente não faça isso, faço sim! Consumir produções audiovisuais feitas por mulheres é algo que me interessa naturalmente, tem relação com o meu trabalho e com quem eu sou. Só que recentemente comecei a ler o livro “The Female Gaze: Essential Movies Made by Women” da Alicia Malone, uma escritora, apresentadora e estudiosa sobre as mulheres no cinema, cujo trabalho me inspira bastante. E ele traz análises de filmes dirigidos por mulheres durante as décadas. Alguns eu já tinha visto, outros não. E antes de ler cada análise do livro eu assisto aos filmes. E como é bom ver essas produções…

Aprecio o trabalho de vários homens. Só que é impossível negar que existe uma dominação masculina, um olhar masculino, um cinema feito deles para eles. Se a nossa sociedade como um todo é dominada por homens brancos, heterossexuais e cisgêneros; se esses são a maioria em cargos de poder dentro das empresas; se eles também dominam a política e praticamente todas as áreas da nossa sociedade, o mundo é pautado pelos desejos desse grupo. Com o cinema, com a televisão, não é diferente.

E se a gente cresce vendo as produções desse grupo majoritário, também acabamos reproduzindo a forma deles de ver o mundo. Por isso é tão necessário assistir mais filmes produzidos por mulheres, ler mais livros escritos por mulheres, consumir o que mulheres estão fazendo em todas as áreas da nossa sociedade. E não apenas mulheres, mas negros, pessoas da comunidade LGBTQIA+; todos aqueles que para o grupo dominante da sociedade são “os outros”.

É estranho se enxergar como “outro”, sabe!? Porque o natural seria que cada um se enxergasse como “central”. Só que você já imaginou como é crescer sem referência dentro da TV, do cinema, da propaganda, da literatura? Se você é mulher “não padrão”, uma pessoa negra ou uma pessoa da comunidade LGBTQIA+, você com certeza sabe. Talvez não seja algo que você tenha parado pra pensar, mas no fundo você sabe. A mídia já te bombardeou com conteúdo que te coloca em alguma caixa, que te diminui, que te diz que existem pessoas de outros grupos sociais com narrativas mais importantes que as suas.

E como anular tudo o que você passou a vida vendo como verdade? Muitas vezes sem nem se dar conta de que era isso que estavam fazendo com você?

É um processo complicado e que exige uma desconstrução que não é automática nem natural. Questionar tudo o que te foi dito como certo é difícil, às vezes exige bastante esforço e pode ser doloroso. Mas é recompensador.

E é aí onde entram narrativas que fogem do padrão dominante.

Ver filmes dirigidos por mulheres é um bom caminho, ler obras escritas por pessoas negras, conhecer as histórias de pessoas da comunidade LGBT+. Tudo isso nos traz novas perspectivas, nos amplia o olhar. Não são necessariamente verdades absolutas, até porque elas realmente existem? São possibilidades dentro dos nossos processos. E nossos processos de desconstrução e reconstrução dentro de uma sociedade que nos limita e que quer nos manter assim, acabam sendo individuais. Só que as experiências e vivências de outros nos ajudam a percorrer nossos caminhos.

Gosto de pensar que nossa desconstrução e reconstrução é uma jornada constante, estamos sempre descobrindo algo em nós mesmos que talvez não seja o ideal, mas a partir do conhecimento podemos modificar e transformar em algo positivo e melhor. Por mais que às vezes doa, não precisa ser algo massacrante, pode ser algo bonito, empoderador, enriquecedor.

E em uma época sombria como a que vivemos, precisamos do bonito, empoderador e enriquecedor para seguir.

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