O paladar no Brasil Colônia é tema de novo episódio de “Histórias da Gente Brasileira”
Os hábitos alimentares da nossa sociedade colonial norteiam o capítulo inédito “Colônia — Paladar”, da série “Histórias da Gente Brasileira”, que revela as entrelinhas da historiografia do Brasil e é exibida exclusivamente pelo Curta!, além de estar disponível no CurtaOn – Clube de Documentários. Com direção de Beca Furtado e apresentação da historiadora Mary Del Priore, o episódio revela que, apesar da abundância de recursos encontrados no Brasil da época, nem todos tinham acesso a uma boa alimentação.
Os enormes canaviais, cuja produção era destinada à exportação, ocupavam boa parte das terras disponíveis, e não era do interesse dos senhores de engenho dividir esse espaço com a agricultura de subsistência. Os europeus que aqui estavam preferiam importar alimentos da metrópole, mas os produtos chegavam mal conservados ou até mesmo putrefatos.
“No Brasil colonial, não havia escassez de alimentos desde que alguém estivesse disposto a cultivá-lo ou capturá-lo”, explica Mary del Priore. A jornalista, escritora e pesquisadora Inês Garçoni conta que havia um enorme choque cultural entre os hábitos alimentares dos indígenas e dos europeus. Os primeiros priorizavam a mandioca e o milho nas mais diversas formas de preparo, e em geral tinham gosto por uma culinária mais seca; já os portugueses trouxeram os caldos e os cozidos.
Ela também fala da errônea crença de que a feijoada foi criada pelos escravizados que se serviam de partes de carne suína preteridas pela casa-grande. “No século XVII, a corte obriga os senhores de engenho a terem um pedaço de terra plantando mandioca para alimentação desses escravizados, pois eles comiam muito mal e muitas vezes tinham que recorrer a plantações clandestinas. Então, carne, nem pensar! O colonizador aproveita tudo do porco, sempre aproveitou desde que viveu a carestia da Idade Média”, comenta. O prato veio, portanto, do costume português de cozinhar carnes em caldos e de refogar a couve, incorporados ao arroz e ao feijão, populares no Brasil.
O episódio avança no tempo e aborda, ainda, a influência dos rituais religiosos africanos. O acarajé, o abará, o caruru e demais pratos oferecidos às divindades passam a ser vendidos nas ruas dos centros urbanos após a Lei Áurea. Assim se forma o terceiro pilar do que conhecemos como gastronomia brasileira, que até hoje vive um panorama parecido com o dos tempos da Colônia: fartura de recursos, mas nas mãos de poucos.
A série “Histórias da Gente Brasileira” é uma produção da Giros viabilizada pelo Curta! através do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). A série também pode ser assistida no CurtaOn – Clube de Documentários, streaming disponível no Prime Video Channels — da Amazon —, na Claro TV+ e no site oficial da plataforma. A estreia do episódio no Curta! é no dia temático Sextas de História e Sociedade, 12 de abril, às 23h30.