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Crítica: Mergulho Noturno

Ficha técnica – Mergulho Noturno:
Direção:  Bryce McGuire
Roteiro:  Bryce McGuire, Rod Blackhurst
Elenco:  Wyatt Russell, Kerry Condon, Amélie Hoeferle, Gavin Warren, Jodi Long, Nancy Lenehan, Eddie Martinez, Elijah J. Roberts
Sinopse: Baseado no aclamado curta-metragem de 2014, de Rod Blackhurst e Bryce McGuire, o filme é estrelado por Wyatt Russell como Ray Waller, ex-jogador da liga principal de beisebol forçado a se aposentar precocemente em função de uma doença degenerativa. Ele muda para uma nova casa com sua preocupada esposa, a filha adolescente Izzy e o filho Elliot. Ray, que no fundo ainda espera, contra todas as probabilidades, voltar à liga profissional, convence Eve de que a cintilante piscina do quintal da nova casa pode ser uma diversão para as crianças e uma ótima alternativa para as sessões de fisioterapia dele. Mas um segredo sombrio do passado da casa vai desencadear uma força malévola que levará a família ao terror mais profundo e inevitável.

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Transformar curtas-metragens em longas pode ser uma tarefa difícil, e isso parece ser mais perceptível com curtas de terror. Muitos destes filmes surgem inicialmente como exercícios interessantes – mas breves – de linguagem e suspense, sustentados geralmente por uma única ideia boa, e as tentativas de construir uma história e mitologia em torno destas ideias nem sempre alcançam resultados que justifiquem a metragem mais longa.

Um exemplo dessas empreitadas é o fraco Quando As Luzes Se Apagam (Lights Out), terror produzido por James Wan (Jogos Mortais, franquia Invocação do Mal) a partir do ótimo curta-metragem dirigido por David F. Sandberg (Annabele 2, Shazam) que também assina o longa.

Wan repete a tentativa de esticar um curta de terror com este Mergulho Noturno (Night Swim), desta vez numa parceria com o produtor de sucesso Jason Blum, a primeira desde que uma fusão entre a produtora de Wan (Atomic Monster) e a de Blum (Blumhouse) foi anunciada, em janeiro de 2024. Mergulho Noturno é dirigido por Bryce McGuire a partir de seu curta de mesmo nome, lançado em 2014. Com pouco mais de 3 minutos de duração, o “Mergulho Noturno” original não é um curta exatamente marcante, mas que constrói com sucesso e em tempo econômico uma atmosfera de terror ao redor de uma situação envolvendo uma piscina, e é em torno da noção de uma “piscina mal-assombrada” que o longa agora ancora sua trama.

McGuire então tem em mãos um desafio maior do que apenas transformar um curta de terror de 3 minutos em um longa de 1h38; ele tem o desafio de sustentar um longa de piscina assombrada. Se essa ideia parece saída de um filme B (nunca algo negativo) prestes a se adentrar no terrir, McGuire parece não só comprometido com a ideia de que o filme da piscina do mal pode causar terror, mas, principalmente, de que ele pode fazer deste filme e premissa um terror para a família.

Escrito por McGuire e Rod Blackhurst, o filme não procura fugir das convenções ao retratar uma família que se muda para uma nova casa. A família em questão são os Waller, e o responsável por escolher a casa é o pai e marido Ray (Wyatt Russell), jogador de baseball que teve sua carreira interrompida por conta de uma doença, e vê na piscina uma forma de continuar seu tratamento de fortalecimento de músculos e ossos através de hidroterapia. Ao passo em que Ray magicamente melhora, sua esposa Eve (Kerry Condon) e seus filhos Izzy (Amélie Hoeferle) e Elliot (Gavin Warren) começam a ser assombrados entre um mergulho e outro.

Mergulho Noturno não esconde suas influências, de Terror em Amytiville (1979) a Poltergeist (1982), este último produzido por Steven Spielberg, que também realizou Tubarão. Se o terror aquático de Spielberg, com muito de seu suspense extraído da sugestão do que se encontra sob a água também influenciou o filme de McGuire, é a Poltergeist (um filme do mestre Tobe Hooper que possui muitas influências das produções Spielbergianas) que Mergulho Noturno provavelmente deve mais créditos, não só por conta do foco nas dinâmicas de uma família de classe média e o senso de conforto contido nesta – conforto esse que é abalado por elementos fantásticos externos – mas também de um senso de descontração e diversão na materialização de seus sustos que o torna confortável e acessível para toda a família, como sugerido pela própria classificação indicativa de 14 anos, se distanciando dos horrores mais gráficos e pesados que eleva muitas produções de terror a uma classificação a 18 anos.

Isso fica evidente na maneira que o filme resolve suas sequências de jumpscare. Quando McGuire trabalha no campo da sugestão, o cineasta e seu diretor de fotografia Charlie Sarroff (responsável também pela fotografia do ótimo Sorria) se esforçam para construir tensão e suspense em torno da piscina de toda forma que podem, com todo tipo de enquadramento para construir um mal que não é visto, mas sim insinuado – plongée da piscina inteira, plano detalhe do trampolim, close no ralo da piscina, filmagem submersa. Quando essa construção de tensão obrigatoriamente deve ser consumada, na materialização da entidade em corpos de fantasmas assustadores, o diretor opta por figuras que visualmente possuem o conforto do artificial (na construção do CGI) e até mesmo do mundano (um homem gordo e careca), o conforto de um susto seguro, um pavor controlável que vem em muitos casos com o riso de diversão, o que pode ser mal interpretado por muitos fãs de terror em relação as intenções de Mergulho Noturno. 

Da mesma forma, se os terrores de Poltergeist surgiam como desmistificações do sonho americano popularizado pela era Reagan, e o impacto que essa desmistificação causava na família de classe média-modelo daquele filme, a família de Mergulho Noturno encara, também, sua parcela de sonhos frustrados diante de um modelo, materializado pela frustração de Ray diante de seu sonho como jogador de baseball (poucas coisas estereotipicamente mais americanas do que baseball), de Eve em relação a sua profissão e seus desejos de se estabelecer em uma casa fixa como uma família “normal”, da inadequação social de seu filho e necessidade por aceitação de sua filha – e a negação dessa última em relação ao contato que teve com o sobrenatural na piscina em prol de preservar essa ideia de normalidade é um dos melhores momentos do filme. As sequências de sonhos lúcidos que Ray experiencia, na qual ele tem vislumbres de seu sucesso como astro que venceu na vida são essenciais para o fortalecimento dessa ideia de frustração com a vida que não deu a essa família o sonho americano que lhe foi prometido.

A única maneira de devolver o sonho trazido por meios sórdidos e expurgar a maldição é através do sacrifício, e se a direção de McGuire derrapa ao final em quesito de catarse e amarração de ideias, Mergulho Noturno se sustenta muito por conta das interpretações dos integrantes da família, todos em boa forma, num terror que opta pela segurança e a descontração do familiar.

  • Nota
3

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