Crítica: Maestro – 47ª Mostra de São Paulo
Maestro
Direção: Bradley Cooper
Roteiro: Bradley Cooper, Josh Singer
Elenco: Carey Mulligan, Bradley Cooper, Matt Boomer, Maya Hawke, Sarah Silverman, Michael Urie.
Sinopse: Os fragmentos do casamento entre o condutor e compositor Leonard Bernstein e a atriz Felicia Montealegre.
Acompanhe a Mostra de São Paulo
Não existe problema nenhum no Bradley Cooper claramente querer ganhar um Oscar, mas é notável que na direção de “Maestro” existe um desespero, uma afobação, uma pompa, uma condução exibicionista da sua técnica, pra ser um grande clipe com as cartilhas dos filmes que costumam estar na premiação e que contemplam uma obsessão em parecer “autoral” do seu criador que deixam o virtuosismo formal e estético (que cai numa plasticidade artificial) do filme refém de uma coisa histriônica e apelativa que parece muito mais afetação do que criação.
Se as corridas com a câmera sempre móvel por cima em planos zenitais, os cenários se unindo e atravessando espaços pela montagem sempre frenética, as transições fundindo as sequências, planos sequências, os momentos musicais, as silhuetas em preto e branco, o colorido estourado e por aí vai podem remeter a uma extravagância do próprio Leonard Bernstein já a pegada solene dos seus momentos prolongadas como regente, a atenção pra belas paisagens ou a câmera distanciada dos protagonistas enquanto observa a sua vida mundana muitas vezes por freixos de porta já remete a outro tipo de tom.
Não existe uma unidade especifica entre o que o filme se utiliza e todos esses elementos de linguagem parecem truques. Mecanismos para gritar o seu impacto ao invés de criar ele, chegando ao ponto do constrangimento nesse aspecto como se eu estivesse vendo uma parodia do que é esse tipo de filme “DE AUTOR” que vai pra Oscar. Em sua narrativa, Cooper recorre a recursos muito simplórios e rasos no desenvolvimento dos seus protagonistas Leonard Bernstein e Felicia Montealegre, meio que vítimas da irregularidade do próprio filme.
Ao tratar Felicia como uma coprotagonista, com um bom–humor, uma luz própria e uma relação complexa com o marido, parece que Cooper vai fugir dos estereótipos desse tipo de “esposa companheira”. Mas no final das contas Felicia cede a esse esquema. Do mesmo jeito que Leonard cede ao esquema do “gênio conturbado” e ficamos nisso, com ela reduzida pelo filme a ele e ele também não tendo a sexualidade desenvolvida para nada além de estereótipos óbvios. É muito estranho que um filme que o estudo desse relacionamento desenvolva isso de uma forma tão distanciada.
Na segunda parte do filme numa virada dramática é quando Cooper mostra mais o seu talento para encenar o lado mais emocional, humano e afetivo da ligação entre aquelas duas pessoas. É quando o filme finalmente se acalma e decidi finalmente observar aquelas duas figuras observando as suas fragilidades e suas dores. O trabalho de câmera e de criação de planos que antes era uma bagunça se torna algo muito mais direto buscando entrar frontalmente nesse sofrimento seja na sequência da cama ou no recebimento de uma notícia todo registrado com o foco de uma imagem vista pela janela. Uma pena que já parece tarde demais pro próprio filme.
Como ator, Cooper está tão desesperado quanto está como diretor numa interpretação caricata e cheia de tiques implorando por atenção. São seus momentos com Mulligan e todo o seu arco final que acabam humanizando o seu personagem que antes era só uma grande charge. Já Mulligan está bem principalmente nos seus momentos finais onde demonstra todo o peso do que Felicia está passando só com a entrada da câmera no seu olhar e na sua expressão, mas é justamente pelo lado mais esquemático do filme e por tratar seus personagens como bonecos que se estagnam em poses que ela também acaba tendo limitações com o papel que recebe o protagonismo do filme, mas sempre fica dependente de como está ligada a visão da relação com o seu marido sem nunca se debruçar por momentos dedicados a ela enquanto ser humano com uma vida própria.