Crítica: Animalia – 47ª Mostra de São Paulo - Cinem(ação): filmes, podcasts, críticas e tudo sobre cinema
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Crítica: Animalia – 47ª Mostra de São Paulo

Animalia
Direção: Sofia Alaoui
Roteiro: Sofia Alaoui
Elenco: Oumaima Barid, Mehdi Dehbi, Fouad Oughaou.
Sinopse: Itto é uma jovem de origem rural que está lentamente se adaptando aos privilégios da família marroquina abastada do marido. Mas quando eventos sobrenaturais colocam o país em estado de emergência, Itto se vê separada do esposo e da nova família. Sozinha, grávida e em busca do caminho de volta, ela encontra a emancipação.

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Itto está grávida e vive na fabulosa mansão da família de seu marido, que ousa dizer “vamos ficar ricos” ao apresentar seus planos de negócios à esposa – como se já não o fosse. No meio do deserto do Marrocos, a jovem vive em rusgas com a sogra exigente, mas com todas as benesses de quem tem muito dinheiro.

Após alguns acontecimentos que tiram sua estrutura e a fazem ficar sozinha na casa, obrigando seu deslocamento por terra sob perigo iminente, um desavisado pode imaginar que está prestes a ver um filme de guerra. Talvez seja justamente essa ideia da diretora Sofia Alaoui, que deve saber dos pré-conceitos que tantos ocidentais têm em relação aos países do mundo árabe.

O que temos, no fim das contas, é um filme que flerta com a fantasia, faz críticas sociais em relação ao machismo da sociedade, metáforas com a natureza e os animais, e ainda questiona as disparidades sociais. Animalia é um caldeirão de boas ideias que errou no tempero.

Itto se conecta com alguns animais que encontra em sua jornada, mas tudo parece solto. Qual o motivo dessa conexão? De que forma eles estão entrelaçados com os humanos, para além de um conceito básico de que somos todos parte da natureza? Não há muita explicação.

A mulher grávida encontra pessoas que questionam sua fé aparentemente inabalável, mas no fim das contas o filme não evidencia se a ideia é reforçar ou questionar a fé islâmica – e um dos pontos mais incômodos está no momento em que um jovem de 17 anos (com uma expressão dúbia e forçada) faz a famosa metáfora do peixe: a ideia (batida?) de que o peixe não sabe que está na água porque está envolto por ela, como se estivéssemos circundados por uma realidade que não temos condição de compreender.

Não há problema nenhum em não ter uma ideia clara: diversos filmes apresentam múltiplas possibilidades de interpretação. Também não há problema em falar de diferentes questões: todos os temas colocados no filme Animalia são válidos. É uma pena, no entanto, que o longa marroquino tenha momentos piegas (vemos a protagonista abraçando ovelhas em um “sonho” pouco explorado) e diálogos tão exageradamente didáticos quanto irreais (a briga entre Itto e seu marido beira o nonsense).

O que fica de Animalia é sua ideia inicial – que poderia ter sido melhor desenvolvida em um roteiro mais enxuto – e a fotografia de Noé Bach, esta sim, acima da média.

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